“É constrangedor sair de casa com a possibilidade de, repentinamente, ficar com a calça suja de fezes. Esse problema tem limitado minhas atividades, pois fico com receio de ir a eventos ou mesmo de fazer uma viagem”, cita M.A.V, aposentada de 74 anos que sofre de incontinência fecal. Ela conta que começou a perceber a incontinência há cerca de cinco anos.
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Boa notícia para ela – e para cerca de 10% da população, estimativa do contingente que tem incontinência fecal – é que, graças à tecnologia, novos tratamentos para o distúrbio estão disponíveis. Entre os mais inovadores, o médico coloproctologista Antônio Hilário, presidente da Sociedade Mineira de Coloproctologia, aponta a fisioterapia para o fortalecimento muscular da região anoperineal, chamada biofeddback e, em casos em que o distúrbio é detectado no nervo pudendo, uma opção de tratamento inovadora. “Essa opção consiste no implante de um chip que estimula o nervo sacral, corrigindo assim o funcionamento intestinal.”
Entre todos os diagnósticos relacionados ao funcionamento intestinal, o médico cita a incontinência como um dos mais incômodos. E explica o diagnóstico. “O termo incontinência fecal refere-se justamente à incapacidade de conter as fezes, ou seja, a pessoa perde o controle, a capacidade de prender (segurar) as fezes. Com isso, o bolo fecal é eliminado involuntariamente. O mesmo pode ocorrer com os gases intestinais.”
Muitas vezes, o quadro limita a vida social do paciente e interfere na qualidade de vida. A aposentada M.A.V. caracteriza o distúrbio como “terrível”. E descreve. “A gente fica muito triste, sem qualidade de vida, porque o medo de aparecer na roupa é terrível. Tem hora que nem indo ao banheiro resolve. E nem o uso de absorvente ou de fralda geriátrica adianta.” Frente ao quadro, segundo o médico, muitos pacientes se veem constrangidos. “Culturalmente, ainda existe um tabu quando o assunto são questões intestinais. As pessoas não saem por aí comentando sua rotina de funcionamento intestinal, muito menos os seus problemas nesta área.” No entanto, o constrangimento não deve ser empecilho para procurar ajuda de um especialista, frisa ele. “A incontinência leva ao isolamento social, pois a pessoa fica insegura e deixa de fazer suas atividades habituais.”
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DIAGNÓSTICO No consultório, exames clínicos e específicos dão conta de um diagnóstico preciso, já que as causas para a incontinência fecal são variadas. Inicialmente, o diagnóstico é dado pelo próprio paciente, que chega para a consulta médica queixando-se de dificuldade ou incapacidade de controlar a eliminação de gases ou fezes. Diante da queixa, o médico cumpre o protocolo, que inclui exame físico completo no próprio consultório (o que inclui o exame anorretal). Em sequência, solicita exames de laboratório e ou imagem, a depender do caso.
O médico destaca entre os tratamentos a fisioterapia, a cirurgia para reforçar a musculatura e, em casos específicos, o implante do chip. “A fisioterapia específica para essa disfunção esfincteriana é chamada biofeedback e está indicada para fortalecimento muscular da região anoperineal. Já a cirurgia é indicada somente em casos específicos, para a reconstrução da musculatura anal e/ou perineal. Quando o problema é detectado no nervo (um distúrbio neurológico), temos a opção de um tratamento inovador, o implante de um chip que dispara leves impulsos elétricos, influenciando no processo de funcionamento intestinal.”
Hilário conta que o chip tem sido uma esperança no tratamento. Porém, o acesso ainda é restrito. “O chip já é disponibilizado pela Anvisa no rol de procedimentos por convênios e particular. Já para a rede pública acredito que ainda não exista a cobertura.”
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O médico explica a nova tecnologia. “É um procedimento de baixo risco, realizado em bloco cirúrgico e com a presença de um médico anestesista (feito sob sedação e anestesia local). O equipamento consiste em um pequeno aparelho com uma bateria que produz o estímulo elétrico, de onde sai um fio (eletrodo) cuja ponta é colocada junto ao nervo próximo à coluna sacral. Tudo isso não fica visível, pois o implante é por baixo da pele (na camada subcutânea), na região da nádega.”
Por fim, o presidente da Sociedade Mineira de Coloproctologia afirma que o chip começa a agir logo após o implante, funciona a bateria e tem duração mínima de cinco anos. “A troca da bateria é feita sem necessidade de nova cirurgia.” Vale lembrar que o implante é contraindicado para pessoas com sensibilidade à diatermia e pacientes sem condições de operar o controle.
O médico aponta ainda os principais avanços no setor. “Graças ao desenvolvimento tecnológico, temos este novo arsenal que possibilita melhora na qualidade de vida dos pacientes. Além do chip, o exame chamado defecorressonância magnética é exemplo de um outro avanço tecnológico que possibilita o diagnóstico mais preciso desses distúrbios de incontinência. Também representam avanços tecnológicos a colonoscopia, os medicamentos imunobiológicos e a cirurgia robótica”, encerra.
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palavra de especialista
luis octtavio ferreira, urologista
E a incontinência urinária?
“A incontinência urinária é definida pela International Continence Society como a perda involuntária de urina e o diagnóstico feito com o uso de diversas ferramentas, desde questionários que buscam caracterizar o tipo de incontinência urinária e o impacto na vida do paciente à avaliação de doenças subjacentes como infecção urinária, patologias prostáticas e diabetes. Há, ainda, exames mais específicos para avaliar a funcionalidade da bexiga, como o estudo urodinâmico. A estimativa é que mais de 8 milhões de brasileiros tenham incontinência urinaria. O problema pode acometer homens e mulheres de qualquer idade, apesar de ser mais prevalente em mulheres. Dados indicam que cerca de 30% a 60% da população com mais de 60 anos tenha incontinência.
Entre os tratamentos, a fisioterapia atua no treinamento dos músculos do assoalho pélvico; a cirurgia consiste no implante de um esfíncter urinário artificial, com o objetivo de realizar a mesma função da musculatura esfincteriana, ou seja, promover o fechamento do canal urinário; e a neuromodulação (ou implantação de chip) consiste na colocação de um eletrodo que fica em contato com os nervos responsáveis pelo controle vesical, ou seja, os estímulos para ir ao banheiro.
A indicação para o implante do chip é tratar pacientes com bexiga hiperativa, incontinência urinária, dificuldade para urinar ou dores pélvicas crônicas. Trata-se de uma opção terapêutica de última linha, ou seja, utilizada após falha dos tratamentos iniciais. Esse dispositivo está disponível na rede particular, mas a grande maioria dos planos de saúde não cobre. Fazem apenas a colocação. Mas, mesmo em convênios, a liberação dessa tecnologia não é algo fácil. Na rede pública, não tenho conhecimento da liberação desse tipo de dispositivo, uma vez que ele tem alto custo (cerca de R$ 50 mil) e demandar troca periódica a cada 10 anos, em média.”
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