Desafios da maternidade. Como ser mãe nos dias de hoje, diante da mudança de valores, de uma sociedade imediatista, da tecnologia cada vez mais presente na vida dos filhos. Além disso, ter que dividir seu tempo entre casa e trabalho, numa jornada muitas vezes extenuante, criando na mulher a sensação de impotência. “Somos mães possíveis. Não conseguimos fazer tudo o que os outros querem que a gente faça”, afirma Bebel Soares, de 44 anos, que deixou a arquitetura para se dedicar ao ofício de ser mãe. “Não é só a maternidade, mas o universo da mulher que é mãe. Um dos grandes desafios hoje é equilibrar o papel de mãe, esposa, profissional e dona de casa. É uma conta que, muitas vezes, não fecha”, diz Bebel.
Bebel conta que enfrenta um tratamento de câncer de mama e de como trata o assunto com o filho. “É importante ser honesta com meu filho sobre a doença. Não enganá-lo. Explico sobre o tratamento, sem falsas promessas.” Criadora do site Padecendo no Paraíso, em março de 2011, Bebel conta que, no começo, não tinha grandes pretensões, e que, de um grupo inicial de 30 amigas, hoje reúne 10 mil mães.
Essa vivência no Padecendo vai ser compartilhada semanalmente no canal de saúde e comportamento do Estado de Minas on-line, a partir de amanhã, terça-feira. Ela vai abordar questões acerca da maternidade e sobre o ser feminino. Além de todos os assuntos que já aborda no grupo, Bebel dará dicas de filmes e livros relacionados ao mundo feminino.
Casada há 16 anos, Bebel é mãe de Felipe, de 10. Depois que o menino nasceu, quando ele tinha cerca de 2 anos, ela se viu com dificuldades para lidar com o pequeno, que entrava em uma nova fase, refletindo em mudanças em seu comportamento, muito na época de deixar as fraldas. “Fiz um post nas redes sociais, muitas amigas comentaram e sugeriram a criação do grupo”, lembra Bebel, que, agora, após fechar o escritório de arquitetura, em 2015, se dedica inteiramente ao Padecendo no Paraíso.
O grupo das “padecentes” discute temas ligados ao dia a dia da maternidade, como trabalhar fora, a jornada cansativa, que não se limita ao emprego, onde deixar os filhos, como educá-los na era da internet, além dos próprios caminhos ligados ao modo de ser mulher, como casamento, profissão (incluindo considerações sobre o retorno ao mercado de trabalho após o nascimento dos filhos) e feminismo, em um contexto em que a mulher sofre cobranças de todos os lados.
As discussões encabeçadas pelo grupo são inúmeras e perpassam variados aspectos. Entre as considerações, também a situação vivenciada por mulheres que cuidam de filhos com deficiência, muitas vezes lutadoras solitárias, como tornar a sociedade mais inclusiva e acolher essas pessoas. Uma das ramificações do grupo é o Padecendo no Closet, que aborda moda e autoestima, com a postagem diária de looks. “A ideia é não ficar mais andando pela casa de pijama e chinelo. Lembrar de si mesma em primeiro lugar”, conta Bebel.
O Padecendo também apoia o Gamas, uma iniciativa de duas psicólogas do grupo que oferece apoio psicológico a mulheres com problemas ligados à maternidade. É um grupo de terapia coletiva, que se reúne quinzenalmente para rodas de conversa. Outros debates falam sobre o apoio a mães empreendedoras, que, muitas vezes, procuram empreender para retomar o ganho de dinheiro quando não são mais aceitas no antigo posto de trabalho.
O Padecendo no Paraíso ainda atua em diferentes frentes, com várias iniciativas. Uma delas é um bloco sobre infância inclusiva, que sai todo domingo antes do carnaval, em Belo Horizonte, surgido em 2014. O bloco é animado pela Charanga das Padês, bateria formada por mães do Padecendo sem formação musical.
Outra ação que o Padecendo apoia e divulga é a festa anual Anda logo Biel, iniciativa de uma mãe solteira que adotou um filho com paralisia cerebral, com a verba direcionada para custear o tratamento da criança, além de parcerias com empresas em um clube de descontos em produtos.
Além da página no Facebook, o grupo promove encontros presenciais periódicos. Em um primeiro momento, na lista de debates estavam considerações sobre parto, amamentação, troca de fraldas, entre outros. Aos poucos, o grupo foi amadurecendo e, hoje, além de novas mães que ingressam a cada dia ainda com os filhos pequenos, as antigas integrantes permanecem e, agora, seus rebentos já são adolescentes. Nesse ponto, o espectro da discussão se ampliou para as questões da adolescência, uma fase bem diferente do que criar um bebê.