O diagnóstico de qualquer tipo de câncer sempre causa uma reviravolta tanto na vida do paciente quanto na dos familiares e amigos. Seja pelo tratamento invasivo, seja pelas incertezas acerca das causas da doença. A boa notícia é um medicamento lançado em outubro deste ano no Brasil, capaz de tratar até 20 tipos de tumores.
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Produzido pela Bayer, Vitrakvi (Larotrectinibe) é o primeiro medicamento aprovado no país de acordo com conceito de “tratamento tumor agnóstico”. Nele, o tumor é classificado e tratado de acordo com uma característica molecular específica, não tendo como base apenas o tecido que deu origem ao câncer. “Diferentemente da quimioterapia convencional e até da imunoterapia, o uso do larotrectinibe é oral, tem uma resposta rápida, duradoura e seus efeitos adversos são, geralmente, leves e infrequentes. Opaciente pode continuar sua vida normalmente a despeito do tratamento oncológico”, revela Fernando Santini, oncologista do Hospital Sírio Libanês.
Outra boa notícia é o fato de o remédio não ter restrição de idade. “Vale destacar que a Anvisa aprovou o uso tanto para adultos quanto para crianças, apesar de o processo de liberação geralmente ser mais demorado para o tratamento de câncer infantil”, afirma Fernando. Além disso, a chance de cura em pouco tempo pode se tornar realidade. “Com medicamentos mais certeiros e focados apenas nas células doentes, a expectativa é que, em poucos anos, o câncer passe a ser uma doença mais controlável, assim como as doenças crônicas”, revela o oncologista.
Uma gota de esperança
A cardiologista Monique Nogueira, mãe de Levy Batista Nogueira, de 2 anos, conta que o filho foi diagnosticado com um tipo de câncer pouco comum. “Quando meu filho estava com 3 meses, um pequeno caroço próximo ao seu olho esquerdo chamou minha atenção. Depois de algumas idas a diferentes médicos e alguns exames, veio o diagnóstico: um tipo raro de câncer. Os médicos optaram por começar a quimioterapia rapidamente”, lembra.
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Porém, o pequeno não reagiu bem ao tratamento. “Já na primeira sessão, com o organismo debilitado pelas drogas, Levy desenvolveu infecção generalizada. Em seguida, após alguns dias na CTI, apresentava uma certa melhora. Porém, na segunda sessão de quimio, mais um susto: uma grave e rara complicação no fígado. O quadro de Levy piorava a cada dia”, conta Monique.
Desesperada, a mãe lançou uma campanha na rede social. “Em junho de 2018, comuniquei, em meu Instagram, que o Levy havia sido diagnosticado com condrossarcoma mesenquimal parameningeo. No post, contei que a única opção de tratamento disponível seria o hospital MD Anderson, no Texas, o que faria com que a logística do tratamento, considerando avaliações iniciais e exames, ultrapassassem os R$ 2 milhões, valor estimado pelo hospital para todo o tratamento. Por isso, tive a ideia de lançar uma vaquinha on-line para arrecadar o valor necessário para dar início ao tratamento.”
Em pouco tempo, a mãe conseguiu o valor necessário para dar continuidade ao tratamento do pequeno. “A repercussão foi tanta que instituições, empresas e organizações também abraçaram a causa, realizando eventos, festivais gastronômicos, rifas e promoções para ajudar na arrecadação. Em 20 dias, já tínhamos o valor necessário para viajar e realizar a primeira avaliação, estimada em R$ 200 mil”, comemora.
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O pequeno viajou para os Estados Unidos, onde participou de vários estudos. No Texas, foram feitas avaliações iniciais para um possível tratamento. Lá, o diagnóstico foi definido como um tipo raro de câncer, fibrosarcoma infantil. Porém, a idade mínima para entrar nesse estudo era 1 ano de idade, e Levy tinha 11 meses”, conta. O possível resultado positivo poderia vim de um estudo iniciado na cidade de Dallas, que custaria um valor ainda maior, mas a empresa Bayer, ao saber da situação do bebê, custeou todo o processo. “A Loxo/Bayer decidiu custear todo o tratamento, fornecendo o Larotrectinibe, incluindo a realização de exames e avaliações periódicas, além da logística, ficando responsável pela viagem mensal de toda nossa família a Dallas.”
Hoje, Levy está se recuperando e consegue levar uma vida normal. “Vive como qualquer outra criança, sem as restrições de antes – durante o tratamento com quimioterapia, Levy vivia com a imunidade baixa, com um cateter e era impossibilitado de sair para diversos lugares, entrar em contato com animais, tomar sol, entre outros. O novo tratamento não deprime seu sistema imunológico e é ingerido oralmente, como se fosse um xarope”, finaliza.
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares