Protagonizado por Carol Duarte e Júlia Stocker, o filme A vida invisível narra a história de duas irmãs muito ligadas, que são obrigadas a se separar, afetanto suas vidas. Na vida real, irmãs contam suas relações de amizade, entrega, proteção e, principalmente, amor fraterno. E, mesmo que distantes, conseguem manter uma vida de proximidade, como as irmãs Júlia e Rita Gontijo, que moram, uma em Belo Horizonte e outra em Cincinatti, nos Estados Unidos. “A distância nos uniu ainda mais”, afirmam.
Relações fraternas, normalmente, são mais duradouras do que qualquer outra na vida e desempenham papel fundamental em experiências socioemocionais
Não é preciso ir além de nossas casas para encontrar verdadeiros amigos. Irmãs podem tirar você do sério, mas são elas que estarão ao seu lado em todos os momentos. Não importam as brigas, o amor fraternal é sempre reconciliador. Um simples olhar ou troca de palavras podem ter efeitos para além das questões sanguíneas.
As irmãs Júlia Gontijo Brandt, de 36 anos, gerente sênior global de educação comercial na Johnson & Johnson, e a administradora Rita Lemos Gontijo Cruz, de 38, são daquelas que, mesmo com a distância, desempenham um papel de afeto importante na construção da vida de cada uma. Apesar dos dois anos e meio de diferença de nascimento, sempre foram muito próximas. “Hoje, moro em Belo Horizonte e minha irmã em Cincinatti, nos Estados Unidos. Crescemos muito juntas, dividimos o mesmo quarto e me lembro de que desde pequena sempre me preocupei em protegê-la. Isso cria uma cumplicidade muito grande”, conta Rita.
Esse senso de apoio e fraternidade fez com que Júlia enxergasse a irmã como modelo a ser seguido. “Ela é um exemplo para mim, tem o poder de me acalmar sempre com sábias palavras e entende o que quero dizer apenas com troca de olhares”, comenta. As lembranças de acolhimento da irmã mais velha transformaram a mais nova em vários aspectos. “Muito do que sou, sei que devo à oportunidade de ter convivido de perto com ela, aprendendo com seus erros e acertos”, lembra, com saudosismo.
Em 2002, as duas se aventuraram em um mochilão pela Europa. Para Júlia, esse momento foi determinante para a amizade. “Melhor companheira de viagem: nos complementamos”, relembra. Rita também guarda esse momento com ternura. “Cheio de casos, histórias engraçadas e apertos. Ela fez todo o planejamento e eu a parte financeira. É a minha lembrança preferida. Foi o que selou de vez nossa união”, frisa.
Desde 2004, as irmãs vivem afastadas fisicamente uma da outra, mas a distância as uniu ainda mais. “Não sinto que estou longe dela. Hoje, com a tecnologia, a gente não se sente mais sozinha”, salienta Rita. A fraternidade adquirida com as histórias da infância e adolescência se fortalecem ainda mais com a maturidade. “Acho que o amor que temos uma pela outra é potencializado, porque não só é amor de irmã, mas também amor de amiga, daquelas que a gente escolhe e sabe que sãos especiais”, afirma Júlia. “Vejo a Júlia como a mim mesma. Sou mais coração e ela mais razão, e isso nos completa”, conclui a administradora.
CUMPLICIDADE
A jornalista Paula Milagres, de 35, conta uma história que a marcou no dia em que sua irmã nasceu. Ela se lembra de que sua mãe lhe deu uma boneca, dizendo que “da mesma forma que ela tinha ganho outra filha, eu também teria uma filha pra cuidar. Isso fez com que, em vez de ciúmes pela chegada da irmã mais nova, me sentisse responsável pela minha filha (boneca) e pela minha irmã”, relembra. A servidora pública Lívia Milagres, de 33, conta que Paula sempre foi um exemplo, por ser a mais velha. “Ela quem me ensinou a engatinhar, falar, ler e escrever”, comenta.
A diferença de idade de 1 ano e 11 meses fez com que a irmandade se fortalecesse. Além do laço fraternal, as duas compartilhavam alegrias e frustrações, estudaram no mesmo colégio e conviveram com as mesmas pessoas. “Isso fez toda a diferença e faz até hoje, porque continuamos fazendo quase tudo juntas e a nossa rede de amizades acaba sendo a mesma também”, pontua Lívia. Da infância à maturidade, muitas situações e puxões de orelha aconteceram, mas a sensação de poder contar uma com a outra permaneceu intacta. “Passamos por essas mudanças todas juntas. Até mesmo quando os gostos não são parecidos, fazemos esforço para fazer o que a outra quer. No final das contas, tudo acaba sendo agradável”, destaca a jornalista.
Paula Milagres diz que, além de irmã, Lívia é a melhor amiga, parceira, companhia de viagem, companheira e cúmplice de todas as horas. “Saber que alguém te ama de forma incondicional, não te julga, torce por você, está pronto pra ajudar no que precisar, faz o máximo pra ver você bem e feliz e a escuta de verdade é algo impagável”, reforça. “Até quando queremos tomar sol, cozinhar algo gostoso ou tomar uma cerveja pra relaxar não precisamos sair de casa ou arrumar companhias, pois nos temos e isso torna tudo mais fácil”, complementa a irmã.
EXPERIÊNCIAS DISTINTAS
Tatiana Tonnuci é mãe de quatro meninas: as gêmeas Victória e Sophia Tonnuci Silva, de 10, Antonieta, de 8, e Angelina Faria Melo, de 4. Para a mãe, a relação das filhas entre si é muito forte, principalmente entre as gêmeas. “Elas têm um reconhecimento e identificação muito grandes e isso se deu de forma natural. Sinto que elas se conscientizaram sobre o que uma significava para a outra.” Com a caçula, as mais velhas têm um cuidado muito especial, de querer vivenciar e (re)experimentar sentimentos de suas infâncias. “A criança é muito ego, então, às vezes, disputar ciúmes acontece, mas de uma forma sadia. Há um espírito de uma ajudar a outra”, diz a mãe.
A psiquiatra Jaqueline Bifano afirma que quando a criança tem um irmão, aprende o que é amor e amizade desde os primeiros momentos da vida. “É ganho de carinho, amizade, brincadeiras e companhia nos bons e nos maus momentos”, frisa. Por mais que a relação fraternal possa, em algum momento, gerar desconfortos, como o ciúme, por exemplo, é a forma mais positiva de livrar crianças de uma série de competições sociais, segundo Bifano. “É a partir desse laço que a criança aprende a dividir, cooperar, colaborar, ser exemplo, dar exemplo, a abrir mão em favor do outro, tornando-se, assim, mais generosa, empática e compreensiva.”
O conflito de gerações, mesmo com tempo entre as idades pequeno, é sentido pelas mais velhas. “Tem mais momentos bons do que ruins. Como elas são mais novas, às vezes elas não nos entendem muito bem em certas coisas, e isso é chato. E, às vezes, elas são um pouquinho vidradas nos eletrônicos. Mas mesmo assim, as amamos”, contam as gêmeas.
Irmãs mais velhas acabam, naturalmente, assumindo o papel de liderança, mesmo que haja discordâncias. “Essa relação faz com que haja cuidado e reciprocidade entre elas, aprendizagem com relação ao respeito, interação com outras pessoas e resolução de desacordos e conflitos”, conclui Bifano.
Personagem da notícia
Anita, de 9, e Leonora, de 1 ano e 9 meses, pelo olhar do pai, Bruno Sales
Encantadas uma com a outra
“Anita e Leonora são filhas de dois casamentos. Anita mora em Diamantina. Sua mãe passou no concurso e hoje é professora de linguística na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, mas o contato é imenso. Falamo-nos todos os dias e nos vemos uma a duas vezes por mês. Leonora é completamente encantada pela irmã. Vê foto, chama por ela, pede para ligar por vídeo para ver a irmã e conversar com ela. Anita recebeu com muita ternura a chegada de sua irmã. Um contato muito carinhoso, com muito cuidado, como se fosse mãe. Ela me ajuda muito quando estamos juntos. No verão deste ano, fizemos uma viagem para a Bahia, de carro. Se não fosse a ajuda da Anita, a viagem teria sido caótica. Ela dava comida, água, brincava com a irmã, dava bico para ela dormir. Quando elas se encontram é uma explosão de alegria. Leonora voa para o colo da Anita, no ato.”