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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

"O respiro da alma"

Para a Igreja Católica, a oração é a forma de comunicação, linguagem e unidade com Deus. E nãohá religião sem essa dimensão espiritual. No Budismo, a fé está na identificação com a natureza


postado em 15/12/2019 07:00 / atualizado em 16/12/2019 12:10

Padre Marcelo Carlos da Silva, pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, lembra que muitos só se lembram de Deus nos momentos difíceis(foto: Patricia Ribas/Divulgação)
Padre Marcelo Carlos da Silva, pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, lembra que muitos só se lembram de Deus nos momentos difíceis (foto: Patricia Ribas/Divulgação)

A oração faz parte da vida cristã. Com mais de dois mil anos de história, a mais antiga instituição do mundo em funcionamento, hoje sob a liderança do papa Francisco, a religião católica, portadora da integralidade e totalidade do depósito da fé, é constituída por ensinamentos como amor, compaixão, fraternidade, solidariedade provenientes das ideias de Jesus Cristo, fundador e o maior apóstolo do cristianismo. Padre Marcelo Carlos da Silva, pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, explica que a oração é o “respiro da alma” sedenta da transcendência, como nos recorda todos os teólogos da igreja primitiva.
 
 “Ela é a forma de comunicação com Deus, de linguagem e unidade. Para nós católicos, não existe religião sem essa dimensão da vida espiritual. Por isso, a oração como forma de diálogo e comunicação com Deus pode ter vários formas, ou métodos, como o da Inaciano, de Santo Inácio; a Lectio Divina (leitura orante), que é feita por meio da escuta e meditação da palavra de Deus; a Leitura Centrante; a meditação; a oração diante da Eucaristia (adoração), o método mais inserido na meditação na natureza, com a música... Ou seja, em se tratando de método orante, tem vários estilos.”
 
Padre Marcelo acredita que a oração é a forma ou meio de comunhão e conexão com Deus e acrescenta que a melhor forma e o conteúdo do método “é a vida das pessoas, o que vivem e sentem. Jesus um dia disse 'a oração que agrada a Deus é aquela que brota do coração', de dentro da vida e nos devolve pra própria vida”. Assim, é natural dizer que a oração tem poder: “Sim, já que a força que alimenta a oração é a fé. E onde o ser humano põe fé, ele põe a força que transforma a vida”.
 
SUPERMERCADO DA FÉ

Mas é triste que muitos só pensam em rezar em momentos de angústia. Mas, para padre Marcelo, a verdade é que muitos só se lembram de Deus nos momentos difíceis, de necessidades, e usam da oração para “acessá-lo”, fazendo nascer uma compreensão equivocada de Deus como se ele fosse “um produto de supermercado”, onde as pessoas vão buscar o que precisam, em geral coisas, quase sempre... e não a força do alto para enfrentar os desafios. “O que Deus nos deu de mais importante é a salvação, a vida eterna. Tudo o mais está abaixo. mas nesta lógica materialista religiosa, Deus se torna essa espécie de fonte materialista (supermercado da fé) onde as pessoas não vão a Ele pelo que ele é, mas pelo que Ele dá. Essa relação é interesseira e perigosa, já que Deus vira mais um produto no mundo do consumismo em que o que importa é o que Ele me dá e não as pessoas, a comunidade, a sociedade, a vida em todas as suas variedades. Uma fé madura nos coloca em comunhão com as dores do mundo, do próximo, dos seres e não só com o meu 'mundinho pessoal'”, ensina.
 
Para padre Marcelo, o mundo está precisando de uma vida espiritual orante, que leve as pessoas ao próximo e não só a ela mesmas: “A solidão é sintoma do vazio e do isolamento, do individualismo. Deus nos leva ao outro e a outros infinitos da vida em sua ampla realidade. O mundo está precisando de 'pessoas orantes', homens e mulheres, mas que levem a oração para a vida e a vida para a oração. Onde o orante por essa via se torne um ser humano melhor, mais compassivo e solidário. Um homem ou mulher religioso que usa a religião, a oração e Deus para segregar, para polarizar, para agredir e reproduzir a intolerância como tem ocorrido não se encontrou com o verdadeiro Deus, mas com um 'deus – com d minúsculo mesmo – que foi criado à sua própria imagem e semelhança' e não a de Jesus Cristo que nos ensina que 'Deus é amor'”.

VIDA ORANTE

No entanto, padre Marcelo é otimista. Ele crê que, mesmo em uma sociedade marcada pela cultura do individualismo e do consumismo num mundo tecnologizado, a oração e a religião têm o seu lugar e importância pessoal, inclusive para os jovens: “Aplicativos que promovem a oração e a palavra de Deus existem com variedade. Por ser a Boa Viagem uma igreja 24 horas, Santuário da Adoração Perpétua, temos muitos fenômenos juvenis aqui presentes. Temos, por exemplo, os 'Amigos Adoradores', que às sextas-feiras, às 23h, depois da faculdade e de um dia de trabalho, em vez de irem pra balada, veem para a igreja rezar. Ou seja, eles vão buscar um momento de oração pessoal com Cristo. A oração faz parte também da vida de muitos que não têm filiação religiosa (igreja) e que buscam a vida espiritual sem laço com as instituições. Isso quer dizer, tem uma vida orante mas sem pertença religiosa”.
 
Padre Marcelo explica que a oração está correlacionada com a fé: “Não há fé sem vida orante, oração. Bem como não há oração sem que seja alimentada pelo princípio da fé, do ato de acreditar em um Deus que lhe escuta. A fé está para a oração e vice-versa assim como o mar está para os peixes. retire o peixe do mar, da água e ele morrerá. Retire a fé do orante e ele desparece”. Como não há prazo ou hora para começar e encontrar sua fé e oração, no fim de ano, quando as emoções estão mais afloradas, padre Marcelo conta que “nesta época parece que as pessoas se dispõem a fazer o bem a tudo aquilo que não fizeram ao longo dos 365 dias. Mas chega o ano novo e essa sensibilidade humana e espiritual parecem desaparecer. Mas é bem verdade que tem pessoas que rompem com essa cultura superficial do bem e da espiritualidade. Aqui mesmo na igreja da Boa Viagem temos projetos de amor ao próximo e compaixão o ano inteiro: grupo de pastoral de rua, de acolhimento de refugiados, da cultura, da pessoa idosa, de terapias individuais e grupais... Enfim, ao longo dos anos, mais de 40 grupos dão vida a essa comunidade. Já na virada do ano, mais de 500 pessoas de vários lugares da Grande BH veem para a Boa Viagem para a vigília da paz. Em vez de fazer ritos de crendices e superstições, eles rezam pela paz no mundo e pedem as bênçãos de Deus para o novo ano. É uma energia, uma espiritualidade sublime a de passarmos o ano em oração”.
 
Energia do amor
 
Ele conta que desde pequeno foi estimulado a ver a vida de uma forma espiritualista, bem aberta. A visão da espiritualidade sem cunho religioso sempre foi um padrão da educação que recebeu. Bruno Gimenes é conhecido como um dos responsáveis pela expansão da espiritualidade no Brasil, especialista em desenvolvimento pessoal e prosperidade. Diretor de conteúdo e cofundador da Instituição Luz da Serra, é professor, palestrante e destaque no canal Luz da Serra no YouTube, com mais de 1 milhão de seguidores no qual aborda assuntos de bem-estar, desenvolvimento pessoal e espiritualidade que impactam a vida de milhares de pessoas diariamente.
 
Para Bruno, “a oração é a conexão capaz de manipular as forças balsâmicas para curar tudo que precisa ser curado. A única recomendação é que, ao iniciar uma prece com gratidão, a energia do amor seja emitida. Ela é capaz de se conectar com outras energias de luz pelo mundo, já que tem a mesma frequência. Esse processo, de agradecer e conectar-se na mesma vibração, são duas das quatro etapas que proponho para realizar a oração mais poderosa de todos os tempos, descrita em meu livro. Uma orientação que dou para quem costuma fazer uma reza específica (Pai-Nosso, Ave-Maria), entoar mantras ou qualquer outro ritual religioso, é incluir a oração mais poderosa durante as práticas diárias”.
 
Bruno explica que a única direção da oração é a gratidão. “No livro, ensino a conexão de quatro etapas. O primeiro passo é expandir a sua energia por meio da gratidão. Onde quer que você esteja, do jeito que for, sozinho ou acompanhado, na sua casa ou na igreja, em um lugar barulhento ou no silêncio absoluto, acreditando ou não em Deus. Nada disso importa. Comece a oração agradecendo. Agradecer não é ignorar o que está ruim, mas enaltecer o que está bom. A segunda é a conexão, é se conectar com outras pessoas que estão nessa mesma vibração de gratidão que você. A próxima fase é direcionar a energia. Com toda essa força de luz em mãos, é o momento de guiar essa energia para todas as causas do mundo que você acha que precisam de ajuda. E, por último, vem a etapa 'eu mereço'. Depois que você utilizou as suas emoções e elevou a sua energia, se conectou com a luz de todos, na mesma vibração, e mandou essa força para o mundo, chega o momento que chamo de 'eu mereço'. É agora que você vai pedir o que quer; é aqui que você expressa e entrega para o universo os desejos mais profundos do seu coração.”
 
Na crença de Bruno, há outro momento-chave essencial para fazer uma oração preciosa: o fim. “Nos segundos finais da prece, a conexão está no melhor nível de energia. Por isso, esse instante não deve ser quebrado ao abrir os olhos imediatamente. O ideal é manter os olhos fechados, seja por um minuto ou 10 minutos. É no período pós-conexão que as maiores inspirações acontecem.” 
 
Para ler...

Uma oração para todas as religiões

Oração é a conexão capaz de manipular as forças balsâmicas para curar tudo que precisa ser curado. Ao iniciar uma prece com gratidão, a energia do amor é emitida. Ela é capaz de se conectar com outras energias de luz pelo mundo, já que tem a mesma frequência. Esse processo, de agradecer e conectar-se na mesma vibração, são duas das quatro etapas propostas pelo auto para realizar a oração mais poderosa de todos os tempos. Em 11 capítulos, Bruno Gimenes esclarece como descobriu essa forma de orar e explica por que as pessoas rezam errado. Além de revelar em detalhes as quatro etapas para uma prece poderosa, o autor ainda oferece uma oração conduzida – que pode ser feita por meio da leitura ou áudio por meio do qrcode disponível na obra – e apresenta uma rotina de oração para cada área da vida.

Título: A oração mais poderosa de todos os tempos
Autor: Bruno Gimenes
Editora: Luz da Serra Editora
Páginas: 160 Preço: 34,90
 
Abade Mokugen, do Templo Zen das Alterosas, explica que quando oramos nos harmonizamos com a grande natureza representada por Buda(foto: Arquivo Pessoal)
Abade Mokugen, do Templo Zen das Alterosas, explica que quando oramos nos harmonizamos com a grande natureza representada por Buda (foto: Arquivo Pessoal)
 
Momento de iluminação
 
O budismo é uma religião baseada nos ensinamentos deixados pelo Shakyamuni Buda há mais de 2.600 anos. Ele nasceu com o nome de Siddhartha Gautama, na Índia, e viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. em uma região que hoje pertence ao Nepal. A prática parte da constatação do sofrimento como a condição fundamental de toda existência e afirma a possibilidade de superá-lo por meio da obtenção de um estado de bem-aventurança integral, o nirvana. O budismo é uma religião que não professa a existência de nenhum Deus.
 
Até os dias de hoje, o Dharma budista (dharma, palavra em sânscrito que significa aquilo que mantém elevado) é transmitido por todas as gerações de budas e patriarcas. Peculiarmente, o zen é transmitido de coração a coração, de corpo a corpo, além das escrituras, transcendendo o mundo das palavras. O abade Mokugen, do Templo Zen das Alterosas, fundado há 15 anos, no Bairro Serra, missionário e diretor-assistente da Escola Soto Zen da América Latina, que morou e fez seu treinamento no Japão por 22 anos, explica que quando oramos nos harmonizamos ou nos identificamos com a grande natureza que é representada pelo Buda. Com a energia mais elevada, obtemos benefícios porque, interiormente, todas as pessoas têm natureza divina ou budica.
No budismo, destaca abade Mokugen, por meio da oração o praticante alcança o estado de consciência mais profundo e, com essa identificação, eleva-se o espírito e a mente universal se expressa. “Tanto a oração quanto a meditação despertam a natureza adormecida e divina e, assim, temos um momento de comunhão com o mesmo nível de energia. Não há dogma no budismo e qualquer pessoa quando ora ou medita se identifica e harmoniza com o estado de consciência de Buda. Assim, a pessoa se torna iluminada ao, simplesmente, despertar a natureza original que já tem ao nascer.”
 
Conforme o abade Mokugen, a comunhão por meio da oração se apresenta quando cada um passa a praticar o desapego dos egocentrismos. É preciso se libertar do material, da visão errônea de sim mesmo. No budismo, há um ditado do mestre japonês Dogen, fundador da Escola Soto Zen, que diz assim: “Estudar o budismo é estudar a si próprio. Estudar a si próprio é esquecer de si próprio. E esquecer de si próprio é estar em harmonia com todas as coisas do universo”, que é a iluminação.
A oração é o caminho da transcendência. Abade Mokugen, em outro ditado, ensina que “classificar a questão da vida e da morte é a mais importante de todas. Tudo é impermanente e o tempo passa rapidamente. Não desperdice a sua vida em vão”, ou seja, busque a transcendência. 
 
 


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