RESUMO DA NOTÍCIA
- Composto de paládio desenvolvido por professora mineira é nova promessa no combate ao câncer de ovário
- Molécula mostrou eficiência contra tumores resistentes ao tratamento tradicional, à base de cisplatina
- Outra vantagem da substância é que ela mata o tumor sem afetar tecidos saudáveis
- Isso indica a possibilidade de desenvolver remédios com menos efeitos colaterais
Metal nobre, com aplicações que vão da odontologia ao setor automotivo, o paládio é a mais nova promessa no combate ao câncer de ovário. As moléculas desse elemento se mostraram capazes de destruir células de tumores ovarianos resistentes à cisplatina - droga utilizada no tratamento disponível hoje - , com a vantagem de preservar os tecidos saudáveis.
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Potência
Carolina explica que o câncer de ovário - um tipo de tumor agressivo, que precisa ser tratado rapidamente - costuma apresentar boa taxa de resposta à tradicional cisplatina. Há casos, no entanto, em que as células cancerígenas não reagem ao tratamento. Nos testes in vitro, o composto de paládio desenvolvido pela mineira demonstrou eficácia no combate a essas variantes resistentes.
"Isso pode indicar uma série de possibilidades no futuro. Por exemplo, o uso do paládio como tratamento complementar, associado a outras terapias", explica a professora
A nova molécula também demonstrou maior grau de seletividade se comparada à cisplatina, ou seja, capacidade de atacar o câncer sem destruir células saudáveis. Segundo a pesquisadora, isso pode se traduzir em drogas com menos efeitos colaterais. O quimioterápico atualmente disponível no mercado, afinal, não raro causa vômitos, perda de cabelo, perda de audição, alteração nos funcionamento dos rins e dos nervos, entre outros desconfortos.
Enzima
O segredo da eficiência está no mecanismo de funcionamento do novo composto. Conforme esclarece a professora da UFU, a cisplatina se liga diretamente ao DNA humano, provocando assim a morte de células boas e ruins.
O composto de paládio, por sua vez, atua especificamente sobre uma enzima, a chamada topoisomerase. Trata-se de elemento fundamental do processo de replicação celular, porém mais abundante nas células cancerígenas, já que elas se reproduzem de forma mais acelerada. O que o paládio faz é inibir essa enzima. Com isso, as células cancerosas ficam impedidas de se reproduzir e morrem.
"Uma vez que o paládio se liga à topoisomerase e não direto ao DNA, as células tumorais, que apresentam essa enzima em maior quantidade - se tornam uma espécie de 'imã' para ele. Isso, em tese, explica porque o composto é tão seletivo, ou seja, vai direto no tumor, sem destruir os tecidos saudáveis", conta a pesquisadora.
"Uma vez que o paládio se liga à topoisomerase e não direto ao DNA, as células tumorais, que apresentam essa enzima em maior quantidade - se tornam uma espécie de 'imã' para ele. Isso, em tese, explica porque o composto é tão seletivo, ou seja, vai direto no tumor, sem destruir os tecidos saudáveis", conta a pesquisadora.
"E uma vez que o mecanismo de atuação do composto é diferente do da cisplatina, ele dribla resistência do câncer ao tratamento”, acrescenta.
Para viabilizar o uso do paládio no combate à massa tumoral, os pesquisadores relatam que foi necessário desenvolver moléculas mais estáveis contendo o metal, uma vez que ele é absorvido muito rapidamente pelo organismo humano, o que dificulta sua penetração nas células cancerígenas.
Em sua próxima etapa, o projeto avança para os testes em seres vivos. "A ideia é começar essa fase, normalmente feita com ratos, ainda este ano. Só depois disso é que vêm os experimentos com humanos. Até que o fármaco chegue ao mercado, pode levar uma década. Os resultados alcançados até o momento, no entanto, são promissores”, diz Victor Marcelo Deflon, professor do IQSC-USP e coordenador da pesquisa.
Doença agressiva
Embora não seja o mais comum, o câncer de ovário é descrito na literatura médica como o mais grave entre os tumores ginecológicos. Segundo o oncogeneticista e professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG, André Murad, além de ser agressiva, a doença costuma avançar silenciosamente, o que dificulta a detecção precoce.
"Ao contrário de cânceres como o de colo de útero, por exemplo, que o médico consegue detectar por meio de um exame simples como papanicolau, o tumor de ovário requer investigação minuciosa, com exames de imagem. Mesmo assim, há risco de falha. Com isso, o diagnóstico costuma ser tardio, ou seja, quando a massa tumoral já se ramificou. Mesmo nos Estados Unidos, país de medicina avançada, a taxa de cura é da ordem de 50%", explica.
Ainda de acordo com o especialista, em casos em que a enfermidade é descoberta tardiamente, a taxa de resposta ao tratamento com cisplatina é baixa. “De 90 a 95% dessas pacientes apresentam tumores resistentes”, diz.
O Brasil chega a registrar 6 mil novos casos de câncer de ovário por ano. O número é do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).