Jornal Estado de Minas

Hipnose vira pauta de discussão após a entrada de Pyong no BBB20

 
A entrada do hipnólogo e Youtuber, Pyong Lee, de 27 anos, na edição deste ano do Big Brother Brasil despertou a atenção dos companheiros de confinamento para um assunto curioso: a hipnose. No entanto, além da curiosidade, após o brother utilizar desta prática para curar a dor de um dos participantes do programa de TV, os telespectadores e internautas começaram a perguntar por meio das redes sociais sobre a possibilidade do uso deste método para ganhar o reality.


 
O psicólogo e hipnoterapeuta, Eduardo Viana Junqueira, explica que através da hipnose, o profissional busca captar a atenção das pessoas a fim de maximizar a colaboração do outro e com isso, fazer com que ele se concentre em uma ideia ou emoção. “Os estudos de imagem mostram que os efeitos sugeridos por hipnose são acompanhados por alterações da atividade cerebral nas áreas que estariam associadas aos comandos do hipnólogo, isso quer dizer que os efeitos induzidos pela hipnose 'são reais', quer em nível de experiência subjetiva ou dos processos cerebrais subjacentes”, elucida. Portanto, em estado de transe hipnótico, pensar é o mesmo que agir.
 
Durante a hipnose, segundo Viana, a pessoa continua no controle de suas faculdades mentais, apesar de sua concentração e imaginação estarem tão elevadas. Dessa forma, há uma maior possibilidade para modificar pensamentos e comportamentos. “O hipnotizado não está inconsciente, apenas concentrado em uma única fonte de estímulo ou trilha de sensações. O hipnotista não exerce controle sobre o hipnotizado, mas age como um mentor na viagem a seu interior, na busca por resposta”, completa. 
 
Portanto, este método é utilizado de acordo com a necessidade do paciente e o que ele busca. Sendo assim, a hipnose pode atuar com sucesso em casos neurológicos como depressão e cefaleias; em problemas digestivos, no tratamento de gastrite, halitoses, dispepsias e obstipações; doenças respiratórias como asma e rinites; e em problemas sexuais para tratar quadros de impotência psicológica, diminuição da libido e ejaculação precoce. A hipnoterapia é, inclusive, regulamentada pelos Conselhos Federais de medicina, odontologia, psicologia e fisioterapia.


 
No tratamento de dores agudas e crônicas, a hipnose atua como método analgésico por três mecanismos: relaxamento muscular periférico, combinação central da alteração perceptiva/sensorial e distração cognitiva/emocional. “O hipnoterapeuta pede para a pessoa visualizar um símbolo com o propósito de conduzi-la a um processo de dissociação do problema. Ao dissociar a dor sentida no corpo para um símbolo visual, o cliente muda o canal da comunicação, o que permite a ressignificação da sensação”, explica o psicólogo.
 
De acordo com Eduardo Viana, esta prática tem se destacado no campo erótico pela capacidade de potencializar estímulos. Ele afirma que é possível evocar qualquer sensação ou sentimento através da hipnose, até mesmo o do orgasmo, visto que essa é uma modalidade comunicacional, em que o hipnotista, por meio da palavra, leva a pessoa a um estado de meditação profunda, aumentando a sua capacidade de percepção. “Esta técnica pode ter um caráter terapêutico e ajuda quem tem um problema, como anorgasmia, vaginismo e ejaculação precoce. Contudo, a hipnoterapia não substitui uma psicoterapia ou tratamento médico”, pontua.
 
O especialista ressalta, ainda, que o tratamento de hipnose, quando aplicado de maneira ética e segura traz excelentes resultados para a vida da pessoa, sem risco algum. “É importante conhecer as qualificações do hipnoterapeuta antes de iniciar o tratamento”, alerta. Existem restrições quanto ao uso deste método em pacientes com diagnóstico de esquizofrenia.


 
Dessa forma, para o especialista, Pyong utiliza as habilidades comportamentais e as práticas de hipnose a seu favor. No entanto, apenas como forma de demonstrar carisma, visto que há uma diferenciação entre a hipnose de palco, normalmente utilizada pelo youtuber, e aquela utilizada como método terapêutico. “A hipnose de palco passa a ideia de controle, mas as pessoas a serem hipnotizadas na plateia são previamente escolhidas, para que sejam testados os melhores métodos, com o intuito de entreter”, explica. Além disso, Viana ressalta que pelo fato do hipnotista não ter controle total sobre as faculdades mentais do hipnotizado, a hipnose não pode, de forma direta, fazer com que o brother ganhe o reality show.

Auto-hipnose


Esta habilidade quando realizada sem auxílio de terceiros, de forma autoinduzida, é chamada de auto-hipnose. Para que a “viagem interior” seja feita sem outra pessoa no comando, é necessário que aquele a realizar a prática em si, conheça as técnicas de relaxamento e respiração para que, corpo e mente, possam se livrar de interferências externas e, assim, conseguir se conectar consigo mesmo. “Para realizar a auto-hipnose, a pessoa precisa estar em um lugar silencioso e livre de interrupções. Além disso, é fundamental que esteja totalmente focada no processo”, afirma Viana.
A auto-hipnose pode ser benéfica e usada para atingir determinados objetivos, como diminuição da timidez e aperfeiçoamento de performance esportiva. Sendo assim, através desta prática, um treino pode ser feito a fim de aprender a lidar com algumas situações de forma positiva. “Esta técnica é uma ferramenta que permite a pessoa alterar sua percepção da realidade em função de uma meta que deve ser transformada numa visualização do que deseja superar ou melhorar”, explica.




Experiência

A médica pediatra Maria Regina Viana, de 70 anos, faz uso da hipnose terapêutica para tratar um quadro de dores crônicas, devido a uma artrite reumatoide grave. A paciente possui próteses e, também, faz uso contínuo de corticoide. Através da hipnoterapia, Maria Regina é direcionada a entrar em transe e realizar o relaxamento de seus músculos, a fim de diminuir a tensão capaz de produzir dor, para depois fazer uma mudança de foco do problema para outro aspecto, permitindo, assim, resultados positivos na redução do incômodo. Após a sessão, a médica pediatra conta sentir um alívio. “Fica uma sensação de leveza e bem-estar no corpo. Tenho vontade de repetir o processo em casa, sozinha, o que já foi recomendado pelo terapeuta”, completa.
 
*Estagiária sob a supervisão do subeditor Carlos Altman