Substituto imediato do glitter comum, o bioglitter tem se tornado cada vez mais comum nas maquiagens, principalmente durante o carnaval. No entanto, os cuidados com os olhos e pele devem ser mantidos. Isso, porque, segundo especialistas, apesar da redução dos impactos ambientais, o produto pode causar danos à mucosa ocular e a epiderme humana, como inflamações e irritações. Por isso, deve se manter certa cautela quanto ao uso e substituição do cosmético na maquiagem usada nos dias de folia.
A oftalmologista Mariana Amaranto explica que, independentemente da composição, o contato do brilho, seja ele convencional ou natural, com a mucosa ocular pode gerar uma série de problemas à saúde dos olhos. “É comum que o folião queira coçar os olhos após o contato por conta da irritação, a partir disso, essas pequenas partículas podem gerar arranhões nas córneas e, assim, facilitar a entrada de vírus e bactérias. Além disso, podem ocorrer alergias e até mesmo um quadro mais grave de hipersensibilidade ao redor dos olhos”, elucida.
Por isso, alguns cuidados em torno do uso do bioglitter, bem como do glitter comum, devem ser tomados, como não permitir o contato entre o brilho e a camada interna do olho. “É preciso tomar cuidado com a transpiração também, pois o suor pode levar as substâncias ao contato da mucosa ocular”, adverte o oftalmologista Leôncio Queiroz. Além disso, o especialista alerta que pessoas que fazem uso de lente de contato precisam se atentar as implicações que podem ser causadas pelo uso do produto, visto que, momentaneamente, os sintomas de irritabilidade dos olhos podem ser minimizados pela própria lente, ocasionando problemas futuros.
Precaução, de acordo com Mariana, é um bom aliado para evitar incidências. “A higienização das mãos antes de começar qualquer maquiagem é muito importante, assim como lavar bem os pincéis e esponjas que serão usados e verificar a validade do produto a ser aplicado nas pálpebras. Evitar o contato dos olhos com o bioglitter e não compartilhar maquiagens são ótimas formas de prevenir inflamações e irritações oculares”, recomenda.
Caso o contato aconteça, é preciso lavar abundantemente os olhos, com água ou soro fisiológico, se este estiver ao alcance, e evitar levar as mãos aos órgãos. “Se o desconforto persistir, a vermelhidão não melhorar e/ou a visão ficar turva, é recomendável procurar um oftalmologista para descartar problemas mais sérios”, pontua Mariana.
Dermatologicamente, o uso do bioglitter, bem como do brilho convencional também pode ser nocivo. De acordo com o dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Lucas Miranda, o contato de ambos os tipos de glitteres com a pele pode provocar vermelhidão, lesões e alergias em pessoas que tenham sensibilidade ligada aos materiais presentes no cosmético.
Além disso, Miranda alerta que a maquiagem, de forma geral, pode ser prejudicial a epiderme, pois obstrui os poros, aumentando a chance de acne, alergia e outros problemas de pele. Por isso, alguns cuidados devem ser tomados tanto a respeito do uso dos glitteres, quanto dos produtos usados na pele como um todo. “O ideal é que a maquiagem seja avaliada por um dermatologista caso a caso”, recomenda o especialista.
Substituição
A maquiadora Maira Elisa Martins conta que para evitar irritações e alergias, o uso do glitter comum ou biodegradável pode ser substituído por sombras que possuem partículas de brilho em sua composição e dermatologicamente indicadas para o uso específico nos olhos. “Caso o folião insista em brilhar de qualquer forma, outra opção é o uso de pigmentos finos, pois devido as pequenas partículas de brilho, sua aplicabilidade é mais fácil, evitando o contato do produto com a parte interna dos olhos e também facilitando a remoção em caso de irritabilidade da pele”, completa. Além disso, Maira alerta que os glitteres comprados em lojas não especializadas e em papelarias devem ser evitados, pois além de não serem adequados para este tipo de uso, podem acarretar problemas sérios a saúde. “Esse tipo de glitter não é o mais indicado para o uso facial, pois, na maioria das vezes, pedaços de vidros são usados em sua produção, o que pode ser um problema real para a saúde das pessoas, podendo afetar a visão, provocar arranhões no rosto e, até mesmo, danos mais sérios”, explica.
Composição
O bacharel em ciências biológicas e mestrando em ecologia e manejo de vida silvestre, Vinícius Abreu Baggio, explica que o bioglitter é basicamente composto por substâncias metabolizáveis, como goma vegetal, amido de milho, açúcar, algas, sal, eucalipto, celulose, minerais e corantes naturais. Mas, Baggio alerta que, é preciso ficar atento, pois nem todas as marcas de fato produzem o glitter biodegradável, dando este nome ao produto apenas por possuírem parte de sua composição semelhante a este tipo de brilho. “Uma concepção errada, bem difundida, é pensar que o glitter é biodegradável apenas por ter uma composição natural, porém nem sempre um produto natural é biodegradável, tendo em vista que ele não pode ser metabolizado por organismos vivos”, completa. Enquanto isso, os glitteres básicos são produzidos a base de plásticos, PVC e PET. “Geralmente é recoberto de alumínios e alguns outros aditivos que podem ser naturais”, explica o biólogo.
Meio ambiente
A substituição do uso do glitter tradicional se deu por fatores ambientais, visto que o produto pode ser facilmente ingerido por peixes e outros animais filtradores. “Isso acontece porque o glitter chega aos oceanos com relativa facilidade e, também, por ser um microplástico, que pode ser passado de um animal a outro até chegar ao peixe consumido por muitos”, elucida Baggio. Além disso, todo material não-biodegradável que chega ao ambiente natural é acumulado e, assim, capaz de gerar sérias consequências. Ainda, os glitteres comuns demoram muito tempo para se degradarem. Dessa forma, o bioglitter surgiu como forma de diminuir esses impactos, visto que sua decomposição leva menos tempo para ocorrer, já que sua capacidade biodegradável possibilita o seu consumo por organismos vivos como fonte de carbono e energia.
*Estagiária sob a supervisão do subeditor Carlos Altman