Jornal Estado de Minas

CORPO E MENTE

Sociedade mais sadia






Psicóloga e psicanalista, a monja Bernadette Biaggi, da tradição Sotoshu de zen-budismo e fundadora do Instituto Biaggi – Psicoterapia Psicoanalisi Cultura e Arte Brasil Italia, explica que se ocorre a construção de indivíduo mais integrado, haverá uma sociedade mais sadia. “Em meditadores experientes, mudanças em atividades elétricas cerebrais podem refletir uma consciência maior do ambiente que os cerca e de seus processos mentais internos.  Além das mudanças em processos cognitivos e emocionais, muitos achados também de mudanças no volume de certas áreas do cérebro, o que possivelmente reflete alterações no número de conexões entre as células cerebrais.”



Segundo ela,  Sara Lazar, da Universidade de Harvard, mostrou que o volume de matéria cinzenta era diferente na ínsula e no córtex pré-frontal de meditadores de longa data que apresentaram reduções notáveis de estresse e diminuição do volume da amígdala, região envolvida no processo do medo, das ações impulsivas.

A monja da tradição Sotoshu de zen-budismo garante que todos conseguem meditar porque é um processo de intimidade a ser experienciado. Mas faz um alerta: “Embora haja poucos relatos de efeitos negativos da meditação, devemos colocar atenção em situações de fragilidade psíquica. Pode-se mergulhar no que chamamos de 'noite sombria', estados mentais intensamente difíceis por experienciar a leveza transitória dos pensamentos. Meditar é uma academia para malhar os circuitos do bem-estar e uma vida mais plena em união consigo mesmo, em uníssono, termo usado pela psicanalista W. Bion”.

INQUIETAÇÃO SEDUTORA 
Por outro lado, a dificuldade de meditar parece maior, principalmente neste mundo da tecnologia, das redes sociais (ainda que haja aplicativos de meditação): “Se passarmos longas horas ingerindo o que está na tela dos dispositivos digitais, os neurônios vão seguir obedientemente e vão enfraquecer os circuitos cerebrais relevantes. Seremos invadidos no nosso cotidiano do anseio ao vício, seja drogas, pornografias ou compras que desencadearão a sensação de inquietação sedutora de que o objeto do desejo aliviará o desconforto. E assim vamos fortalecendo, excessivamente, a mente sensorial que busca o absoluto conforto sem o princípio da realidade, sem a turbulência do crescimento mental”, alerta a psicóloga e psicanalista.



Bernadette Biaggi reforça que a meditação permite se observar nos acontecimentos da mente em vez de simplesmente ser arrastado por ela. Esperamos o momento em que, da mesma maneira que tratamos o corpo, possamos cuidar da mente como parte da rotina diária. O que faz melhorar não só a própria saúde e o bem-estar como produzirá um sentido maior de interdependência entre os seres humanos e em relação ao planeta. “Precisamos de mais pessoas de boa vontade, dotadas de mais tolerância e paciência, mais bondade e compaixão. Essas qualidades estão nas profundezas do ser e qualquer um pode fazer a jornada da busca do movimento pelo não movimento. No zen-budismo: Shikantanza – Apenas sentar!”

Os benefícios
Estudos constatam e amparam a hipótese de que meditar produz mudanças significativas tanto na função como na estrutura do cérebro de praticantes experientes. Em resumo, são elas:

1 – Melhora o foco e a atenção seletiva fica mais forte

2 – Lapsos de atenção diminuídos

3 – Menos pensamentos obcecados consigo mesmo com o enfraquecimento dos circuitos de apego

4 – Memória de trabalho aumentada

5 – Conectividade maior nos circuitos da empatia

6 – Indicadores cerebrais hormonais de reatividade reduzida ao estresse e inflamação diminuída, um robustecimento dos circuitos pré-frontais para administrar o estresse e níveis mais baixos de cortisol