A pandemia do coronavírus reflete em diversas atividades cotidianas. Nas academias de ginástica não é diferente. O cenário é outro nos horários comuns de pico. A frequência diminuiu e, em muitas cidades do Brasil, os estabelecimentos já até fecharam as portas. Nas unidades que ainda permanecem em funcionamento, a higienização constante dos espaços e aparelhos, a redução da capacidade em aulas coletivas, a disponibilização de dispensers de álcool em gel em áreas compartilhadas e a criação de aplicativos para a prática de exercícios físicos em casa são algumas medidas que demonstram o momento de cautela no setor.
Em Minas Gerais, o presidente do Conselho Regional de Educação Física de Minas Gerais (CREF6/MG), Claudio Augusto Bosch, desmente boatos sobre uma recomendação que partiria da entidade para que unidades fechem as portas na capital e interior do estado. Esse é um tipo de decreto que cabe às administrações de cidades, estados e no país. "Enviamos para todos os estabelecimentos registrados um comunicado eletrônico com as orientações propagadas pela OMS e Ministério da Saúde sobre a prevenção ao coronavírus", diz.
Ele explica que as recomendações são uma réplica do que já está amplamente divulgado acerca da situação: lavar constantemente as mãos com água e sabão, passar álcool gel, manter os locais ventilados, evitar cumprimentos, que os profissionais orientem as atividades mantendo uma distância entre 1 a 2 metros de distância entre cada aluno, além da limpeza constante dos equipamentos entre um usuário e outro.
Porém, a situação não está tão bem resolvida assim. Enquanto isso, conforme o presidente do sindicato patronal das academias, Fernando Sander, a entidade aguarda uma posição responsável, a nível municipal, estadual e federal, sobre a situação no setor. Decisão que deve acontecer até esta quinta-feira, no intervalo em que são feitas negociações com o sindicato laboral da categoria, pode definir pela concessão de férias a todos os funcionários dos estabelecimentos que, a partir daí, podem optar pelo encerramento temporário das atividades nas academias.
"O objetivo é minimizar os riscos e perdas financeiras das empresas, reduzindo impactos imediatos. A tendência é fechar. Esperamos ansiosamente uma decisão do poder público", diz Fernando, reforçando a perspectiva de que todas as atividades humanas e sociais, no geral, sejam suspensas, de aeroportos a restaurantes, excluindo os setores de saúde e segurança. "Queremos uma decisão radical, junto com todos os outros segmentos. Tem que fechar tudo para conter o vírus massivamente", opina.
Seguindo as recomendações dos órgãos públicos, a Smart Fit acaba de anunciar o fechamento de todas as unidades no Brasil e na América Latina a partir desta quinta-feira, por, pelo menos, 15 dias. O período será abonado das próximas mensalidades. Para quem quer manter a rotina de atividades mesmo em casa, a rede, que tem 2.8 millhões de clientes, criou uma plataforma aberta de treinos para que qualquer pessoa (clientes e não-clientes) possa seguir sem sair às ruas.
"Queremos dar opções para que todos tenham como se movimentar e cuidar da saúde. Por isso, os professores da Smart Fit se uniram, em diversos países, para criar uma plataforma gratuita repleta de treinos", explica Edgard Corona, presidente do grupo. A cada semana, serão lançadas novas aulas para diferentes objetivos: musculação, hipertrofia, emagrecimento, corrida, ioga, funcional e até alongamento.
A empresa divulga vídeos de 30 minutos com sequências que não usam nenhum acessório ou equipamento (www.smartfit.com.br/treineemcasa). No mesmo endereço, a academia reuniu treinos gratuitos de marcas parceiras, como o FitDance, comunidade digital de dança, e a Les Mills, que oferece aulas coletivas, como o body combat. Os outros 11 países em que rede está presente também ganharam uma versão em espanhol da plataforma.
CUIDADOS
Ao mesmo tempo em que a melhora do condicionamento físico ajuda a minimizar a chance de contaminação, as academias geralmente são espaços com aglomeração de pessoas, onde o contato humano acaba sendo inevitável, uma situação que pode facilitar a disseminação do coronavírus. Vestiário, catraca, elevador, corrimão, equipamentos de musculação de uso coletivo. Há muito a ser observado. Mas é apropriado reforçar que o coronavírus não se espalha através do suor.
Uma das tentativas para barrar o contágio pelo Covid-19 é a alteração de treinos para reduzir a rotatividade nos aparelhos. Nos aspectos financeiros, outro impacto nas redes fitness vem da redução de novas vendas e matrículas, ou o cancelamento de planos.
Considerando o bem-estar de alunos e colaboradores, a rede de academias Bluefit, segunda maior do país, optou por intensificar os cuidados quanto ao coronavírus, com o objetivo, entre outros, de tranquilizar os usuários na hora do treino.
"Já temos uma rotina de higienização diária nas áreas comuns e equipamentos. Os produtos utilizados são de limpeza a seco completamente atóxico, PH neutro, sem petróleo e derivados a base de água. Ainda assim, optamos por triplicar o número de dispensers com produto antibactericida e garantir que o produto seja reposto a todo momento", explica Fábio Guterres, diretor de operações da empresa.
Também é importante oferecer informação aos alunos. “Nossa orientação é que os alunos priorizem a higienização das mãos e dos equipamentos antes e após o uso. Informamos ainda, aos que apresentam sintomas de gripe, sigam as recomendações dadas pela OMS e fiquem em casa repousando até que estejam completamente recuperados. Essa comunicação é feita dentro da academia e vamos iniciar disparos de e-mails a todos os clientes cadastrados”, diz Fábio.
Nesse contexto particular da história, ainda mais com a orientação sobre a reclusão domiciliar, a atividade física é inclusive uma aliada para a manutenção do equilíbrio da saúde e faz bem, além do corpo, para os aspectos psíquicos e emocionais. Profissionais recomendam os exercícios em pelo menos dois ou três dias por semana para manter o condicionamento, e ensinam uma série de opções para se exercitar no ambiente residencial.
Entre uma aula individual de dança, um treino funcional, até algo mais zen, são muitas as opções para se exercitar, considerando ainda a rotina normal, como, por exemplo, trocar o elevador pela escada. Por outro lado, especialistas não aconselham a pessoas sedentárias começar com os treinos justamente durante a pandemia do coronavírus - quando o sedentário entra em processo de atividade física, é normal o organismo iniciar uma série de adaptações fisiológicas, o que demanda muita energia e, se durante essa mudança a imunidade ficar prejudicada, o indivíduo pode ficar mais vulnerável em relação ao vírus.
Plataformas digitais já oferecem apps de bem estar, com vídeo aulas, dicas de meditação ou treinos, por exemplo. Entre as alternativas para adotar em casa, ou em ambientes ao ar livre, estão: flexão de braços, abdominal, agachamento e salto, polichinelo, pular corda, para citar apenas alguns. Entre quem deve evitar o ambiente das academias, uma exceção são pessoas em tratamento, como fisioterapia, que precisam seguir com as sessões. Nesse caso, é bom priorizar horários de pouco movimento.
Confira as orientações do conselho que representa os profissionais de educação física (Conselho Regional de Educação Física - CREF) sobre o coronavírus:
1 - Tomar cuidado com a intensidade e o volume dos exercícios, já que o excesso de esforço pode acabar tendo o efeito contrário e ocasionar um enfraquecimento do sistema imunológico;
2 - Pessoas com baixa imunidade (asma, pneumonia, tuberculose, câncer, pacientes renais crônicos e transplantados) ou que apresentem sintomas de gripe, e aqueles que tiveram contato com casos suspeitos nos últimos dias devem evitar ir a academia, devendo o profissional de educação física prescrever exercícios para fazer em casa;
3 - As academias devem incentivar alunos/clientes a, ao chegarem, lavar as mãos com água e sabão, com tempo de duração não inferior de 20 a 30 segundos, na forma orientada pelo Ministério da Saúde;
4 - Evite tocar o rosto, especialmente mucosas, boca, nariz e olhos, mesmo após o uso do álcool gel ou após lavar as mãos;
5 - Não compartilhe objetos de uso pessoal como garrafas de água e toalhas de rosto, além de talheres;
6 - Ao tossir ou espirrar, cubra sempre com o braço ou com lenço de papel (descarte imediatamente após o uso). É importante não utilizar as mãos, pois terão contato com aparelhos e outras superfícies;
7 - As academias devem realizar a higienização periódica e constante dos seus equipamentos, mantendo à disposição álcool 70% em gel para higienização pessoal de seus alunos/clientes;
8 - As academias e os profissionais de educação física devem orientar os seus alunos/clientes a higienizarem as mãos ao mudarem de estação ou de equipamento utilizado, mitigando a transmissão do vírus, segundo orientação do Ministério da Saúde;
9 - As academias, principalmente as que possuem elevado número de alunos, devem adotar medidas para reduzir significativamente a aglomeração de alunos/clientes, mantendo 1 metro de distância de um aparelho para o outro e limitando o número de alunos para que não ultrapasse mais que 1 aluno a cada 2 m² nos exercícios livres. Atividades ao ar livre podem ser uma opção;
10 - Fica recomendado a suspensão de aulas coletivas, como as de ginástica ou treinamento funcional em ambientes fechados, para redução do potencial de transmissão do Covid-19;
11 - Recomenda-se também que se evitem os alongamentos com contato, substituindo pela demonstração do profissional de educação física;
12 - Todos os eventos esportivos que promovam aglomeração devem ser adiados, em consonância com as orientações do Ministério da Saúde e dos poderes executivo municipal, estadual e federal
Obs.: A entidade indica que tais medidas podem ser modificadas a qualquer momento, conforme orientações do Ministério da Saúde quanto ao avanço e propagação da doença.