Jéssica Mayara*
Cerca de 285 milhões de pessoas estão com a visão prejudicada no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o último censo demográfico (IBGE 2010) identificou aproximadamente 35 milhões de pessoas com algum grau de distúrbio visual e mais de 1,2 milhão com quadros de cegueira. Destes, 60% a 80% podem ser evitados e/ou tratados. No entanto, o escasso acesso às consultas, em nível público, pode dificultar a identificação do problema ocular e o tratamento devido para cada caso.
De acordo com o oftalmologista Leonardo Gontijo, diretor do Instituto de Olhos Minas Gerais (IOMG), as doenças relacionadas aos olhos são muitas, mas o glaucoma figura como a principal causa de cegueira irreversível, principalmente por ser uma doença assintomática. “Em muitos casos, as pessoas não sabem que a pressão do olho está elevada até que a doença é percebida tarde demais, tendo como consequência danos irreparáveis.”
Outra causa de cegueira, no entanto com capacidade reversiva, é a catarata. “Essa doença não tem caráter genético e tem incidência em toda a população. Todo mundo um dia terá catarata, basta ficar velho o suficiente para ter”, explica Gontijo. A catarata se caracteriza pela perda de transparência no cristalino, dificultando, assim, a entrada de luz no olho e provocando no paciente a sensação de visão embaçada, sensibilidade à luz, alteração contínua nos graus dos óculos, espalhamentos dos reflexos ao redor das luzes e percepção de que as cores estão desbotadas. Os danos podem ser revertidos por meio de cirurgia.
A retinopatia diabética, o ceratocone, a degeneração macular e os erros de refração não corrigidos, como miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia, são outras doenças possíveis causadoras de cegueira e de baixa visão. Dessa forma, é necessário se atentar aos sinais dados pelos olhos para que se evitem quadros mais graves.
CONTROLE OCULAR Para isso, Gontijo ressalta a importância dos exames periódicos para que o paciente tenha o diagnóstico precoce, a fim de tentar reverter estragos futuros. “É fundamental que as pessoas passem por exames periódicos porque é a única maneira eficiente de detectar uma doença, enquanto é possível se fazer alguma coisa para que se possa resolvê-la.”
No entanto, o oftalmologista pontua que a dificuldade de acesso às consultas e controles oculares dificulta esse trabalho, uma vez que, em consequência disso, muitas pessoas desenvolvem casos de gravidade elevada e, até mesmo, de cegueira. “Como nosso país não consegue suprir sua população com um sistema de qualidade, não é surpresa que tanta gente fique desassistida. Inclusive, há os que ignoram a importância de um exame periódico, fruto de uma educação básica também inadequada”, completa.
Após o diagnóstico, o tratamento correto pode ser indicado para cada caso. “O método para tratar as doenças é indicado de acordo com cada uma delas, como colírios no caso do glaucoma e procedimentos cirúrgicos quando há o diagnóstico de catarata. Quanto à cegueira, pode ser revertida, desde que não tenha afetado o nervo óptico. Em casos de lesão na retina, a recuperação da visão também se torna mais difícil”, explica o oftalmologista.
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram