Vitor Moura, CEO da VidaClass, startup de saúde que promove acesso a diversos serviços de saúde para o cuidado integral, ressalta que há cerca de 170 milhões de pessoas no Brasil que não têm nenhum plano de saúde e para quem o acesso a um médico ou mesmo a um tratamento da rede pública pode demorar meses. E alerta que nem está falando de qualidade de tratamento, mas das dificuldades em ter acesso a algum tipo de especialidade. “Precisamos ter consciência de que promover a saúde é um dever do Estado e, mais do que um direito do cidadão, um dever de cada indivíduo. Por isso, a importância de desatar o nó em que nos enfiamos, quando tratamos da adoção da telemedicina no Brasil.”
Conforme Vitor Moura, na China, onde a pandemia do novo coronavírus começou, a telemedicina já é altamente praticada. Ele cita como exemplo a empresa Ping An Good Doctor, que lançou uma plataforma de assistência médica com inteligência artificial que vai desde consultas até entrega de medicamentos em casa e atende mais de 260 milhões de pacientes. “A mesma empresa recentemente apresentou minilaboratórios para diagnóstico expresso – as clínicas de um minuto.”
Segundo ele, o paciente entra num compartimento individual, semelhante às cabines fotográficas, descreve os sintomas para um médico digital que faz a triagem e encaminha para uma teleconsulta com um especialista. Consultado e diagnosticado, o paciente pode adquirir ali mesmo os remédios e começar o tratamento.
Para ele, toda nova tecnologia que promove o acesso a serviços, antes restritos a uma parcela da população, gera polêmica e questionamentos que fazem parte do processo de mudança. “Com a promoção e autorização do uso da telemedicina poderemos ganhar e melhorar a qualidade de vida nos mais distantes rincões do Brasil, lugares onde muita gente não sabe o que existe em termos de facilidade para os cuidados com a saúde. Se nos grandes centros, em uma capital como São Paulo, o tempo médio de agendamento de consulta no Sistema Único de Saúde (SUS), em 2018, era de 85 dias, como agir em localidades como Amazonas e Pará?.”
Aplicativo liga paciente ao profissional
A médica Carolina Pampolha, head de operações da Docway, plataforma que, por meio da tecnologia, promove o encontro entre prestador de saúde e paciente por meio de um aplicativo desenvolvido para iOS e Android, destaca o serviço de teleorientação que realizam há mais de um ano. Nesse tempo, cerca de 90% dos atendimentos feitos pela empresa não eram casos para expor o paciente aos riscos de um pronto socorro, por exemplo.
“É possível tirar dúvidas e solicitar orientações durante um atendimento por vídeo, já que um profissional habilitado vai analisar os sintomas e tomar a decisão mais adequada para o problema de saúde enfrentado pelo paciente. Se necessário, ele será encaminhado para o hospital.”
Devido ao potencial de disseminação do coronavírus, não é todo quadro que tem de ir ao hospital. Somente casos em que o paciente apresente febre e tosse ou sintomas respiratórios graves, acrescentado ao fato de ele ter viajado para uma das áreas de risco ou, ainda, que ele tenha tido contato com quem viajou.
“Deve-se dar atenção especial às populações mais vulneráveis com esses sintomas, que são os pacientes imunocomprometidos, com idade avançada, pacientes com comorbidades, como doenças cardíacas e pulmonares, nefropatas, pacientes oncológicos em tratamento e pacientes transplantados”, explica a médica.
Carolina Pampolha destaca ainda outra vantagem por conta da falta de dependência do horário de funcionamento de clínicas e hospitais. O paciente pode ser atendido e esclarecer todas as dúvidas sobre o coronavírus no lugar onde estiver. “Toda e qualquer pessoa com uma necessidade de atendimento médico fará parte do público que vai se beneficiar com a telemedicina. Existem as exceções, nas quais o paciente precisa ser encaminhado imediatamente para um pronto-atendimento, porém, para que haja a certeza dessa necessidade, o atendimento a distância pode dar uma assistência e uma solução quase imediatas em casos menos complexos”.
Projeto EuSaúde
Nesta hora de tensão, receio e dúvidas sobre como lidar com a COVID-19, a grande questão para a população é como buscar orientação médica sem, necessariamente, ir até um hospital ou outra unidade de saúde. O médico ginecologista Ricardo Cabral, CEO do grupo mineiro Rede de Cuidados em Saúde (RCS), indica a teleorientação e indica o projeto EuSaúde, do qual é o coordenador: “O link https://www.novocoronavirus.info está disponível e recebe, com uma equipe de médicos e enfermeiras, interações de todo o país 24 horas por dia, sete dias por semana. O acesso nunca esteve tão alto. Estando neste momento com mais de 200 pessoas em simultâneo. A plataforma tem recebido em média 100 interações diárias de pessoas com sintomas ou buscando orientações sobre qual serviço de saúde devem procurar. A maioria dúvidas é sobre a doença e como se prevenir”.
Ricardo Cabral enfatiza que a teleorientação não é um ato médico, portanto, não submetida ao conselho de medicina. “Temos uma consulta feita ao Conselho Federal há alguns anos nos autorizando a prover orientações on-line. Os médicos apenas orientam, não dão diagnóstico ou prescrevem receituário.” O ginecologista explica que “ao receber as dúvidas e queixas de uma pessoa, o profissional de saúde da teleorientação tem a chance de fazer uma orientação prévia e, na maioria das vezes, solucionar casos que possivelmente iriam para a triagem presencial, sobrecarregando o atendimento e aumentando a demanda por recursos”. Com a portaria liberando a telemedicina, o grupo RCS disponibiliza a plataforma NEAR operando também com a teleconsulta.
Depoimento
CYNTHIA DIAS PINTO COELHO
PSICÓLOGA
“Na semana passada, recebemos uma resolução do CRP autorizando o atendimento psicoterápico on-line em função do avanço da pandemia de COVID-19 e das medidas de isolamento social necessárias à sua contenção. A partir disso, passei a fazer todos os meus atendimentos on-line e a experiência tem sido muito positiva. Num primeiro momento, fiz um comunicado aos meus pacientes sobre a nossa alternativa para dar continuidade à psicoterapia neste momento. A maior parte das pessoas concordou em experimentar e o resultado tem sido surpreendente. Ao fim de cada atendimento, pedi um feedback e todos, sem exceção, responderam: “O atendimento presencial é melhor, mas o digital não deixa nada a desejar”. Alguns pacientes idosos tiveram certa resistência inicial, seja por não dominar a tecnologia, seja por achar estranha a ideia, mas no final eles também gostaram e acho que aprenderam uma nova forma de contato para usar com parentes que estão longe, amigos que não podem visitar... É uma ferramenta e tanto para driblar a solidão nesta fase e trazer um pouco de alegria e contato. Já as crianças e adolescentes adoraram a ideia, talvez por lidar bem com os eletrônicos e tecnologias desde bebês. As crianças têm um papel importante no grupo familiar ao levar para ele temas trabalhados em suas sessões, sejam elas virtuais ou presenciais."
O que é o coronavírus?
Como a COVID-19 é transmitida?
Como se prevenir?
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
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