Existem atividades que não podem parar, mesmo diante da propagação do coronavírus. Uma delas são os atendimentos domiciliares realizados por prestadores de serviço. Reparos quanto a problemas hidráulicos e elétricos, por exemplo, muitas vezes não podem esperar. Tanto para o profissional quanto para o cliente que solicita o trabalho, em situações indispensáveis, há cuidados específicos para afastar o risco de infecção, ainda mais quanto a receber pessoas em casa neste momento de cautela e atenção.
Carline Chineli, de 63, trabalha com consertos domésticos há 14 anos. Em situações normais, a demanda não para. Ele conta que, só agora, começa a perceber os efeitos do coronavírus. "Mas muita gente precisa desse tipo de serviço. Se for urgência, vai solicitar do mesmo jeito", diz. E há, de fato, casos urgentes. Quando um sistema de descarga não funciona, ou quando a pia entope, o cano danifica, ocorre um curto-circuito, por exemplo. É um trabalho quase sempre necessário e inevitável.
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Marcelo Batista tem 44 anos e trabalha com serviços gerais há 20. Intitula-se clínico do lar - faz de tudo e mais um pouco. Além dos trabalhos com redes hidráulica e elétrica, presta assistência com dedetização, pintura, rede de esgoto, jardinagem, vidraçaria, limpeza de caixa d'água, serralheria, instalação e manutenção de armários, colocação de gesso, entre outros. Ele conta que a demanda caiu, assim como nos outros setores da economia. Costumava ficar ocupado todos os dias, e agora percebeu diminuição de 75% na procura normal por sua mão de obra. "Isso ocorre desde quando teve início a quarentena."
Mas, mesmo assim, o serviço continua. Em época de pandemia, Marcelo tem o cuidado de usar máscara, luva, plástico para envolver os pés, usa água, sabão ou álcool gel, que aplica ao chegar e ao sair da residência do cliente - e higieniza as mãos o tempo todo. Outra medida é, ao entrar em um ambiente, fecha a porta e pede para que os moradores não entrem enquanto faz o trabalho. E costuma trocar de roupa antes de realizar o reparo. "Vou muito em casas onde vivem idosos. O cuidado é maior, para prevenir a doença para eles, e para mim também. São pessoas que podem ter outras doenças que se agravam com o coronavírus. Posso acabar levando o vírus sem querer. É perigoso", diz.
Marcelo é casado, pai de oito filhos, e mora, além da esposa, com duas filhas, uma de 12 anos e outra de 8 meses. É cuidadoso quanto à segurança da família. "Quando chego em casa, tiro a roupa, deixo o chinelo na entrada e tomo banho antes de ter contato com qualquer pessoa. Nunca se sabe o que levamos da rua para dentro de casa."
IMPACTO
Para Carlos Alberto de Oliveira, de 48, a situação quanto ao volume de trabalho é mais preocupante. Há 25 anos, ele atua com serviços domésticos, como jardinagem, troca de lâmpadas e fechaduras de porta, pintura, consertos hidráulicos e elétricos, faxina, e até como motorista, eventualmente. Ele lembra que costumava ficar ocupado a semana inteira, o que mudou completamente depois dos problemas com a COVID-19.
"Desde o primeiro dia da decisão pelo isolamento, o trabalho parou totalmente. Ninguém quer uma pessoa diferente dentro de casa", lamenta. Carlos Alberto havia decidido sair de um emprego formal como zelador para se dedicar às atividades de reparos domésticos e motorista de aplicativo, trabalhando por conta própria. Diz que agora se arrepende da mudança. "Não imaginava que isso tudo iria acontecer. Estou sem nada agora, perdi tudo."