Jornal Estado de Minas

Ambiente agradável e seguro

Ventilação natural é fundamental para evitar a contaminação pela COVID-19

(foto: Arte: Paulinho Miranda)

A composição espacial dos ambientes pode ser uma boa aliada no combate e prevenção ao novo coronavírus. Um dos alicerces da chamada arquitetura bioclimática, a ventilação natural é um recurso que acaba se tornando fundamental para gerar locais mais confortáveis e, acima de tudo, saudáveis. Aproveitar as vantagens do vento, infinito, renovável e gratuito, como uma ajuda preciosa da natureza, faz com que os cômodos fiquem mais arejados, o que é um dos aspectos apontados por especialistas como importante para frear a propagação da COVID-19. Ainda mais quando da presença de idosos ou pessoas com doenças preexistentes.


Direcionada para esse sentido, a arquitetura é um auxílio para barrar problemas como a gripe, o H1N1, e agora também pode funcionar contra o coronavírus, se bem elaborada. Além de reduzir gastos energéticos, a ventilação natural dispensa sistemas artificiais, como o ar-condicionado, que muitas vezes acaba se tornando um meio para transportar microrganismos.

Para idosos, grupo de risco para a infecção pelo coronavírus, as doenças do aparelho respiratório são comuns, com a maior incidência ainda de males crônicos. E as mudanças drásticas de temperatura agravam esse quadro. Dentro de casa, a ventilação natural é um método que ameniza os efeitos nocivos da oscilação climática, um artifício benéfico à saúde principalmente em época de pandemia.

A ventilação natural ajuda na prevenção de doenças viróticas, como é o caso do coronavírus, pois, ao favorecer a renovação do ar, reduz a possibilidade de disseminação do agente patológico. É o que explica o arquiteto Henrique Hoffman. "A ventilação natural ajuda a prevenir doenças respiratórias pelo fato do ar estar sempre renovado, o que é importante tanto para minimizar a propagação de vírus e bactérias, quanto para a qualidade interna do ar, já que, ao respirar, o organismo transforma oxigênio em gás carbônico. Tempos atrás, era muito comum famílias inteiras se mudarem para cidades com boa qualidade de ar para tratamento de doenças respiratórias", ressalta Henrique.


O vento, quando bem aproveitado, também auxilia no controle da temperatura, promovendo bem-estar e reduzindo a necessidade do uso de soluções mecânicas. Optar pela ventilação natural em vez de ar-condicionado é extremamente importante para ambientes de trabalho e para quem está praticando home office.

A arquitetura bioclimática é o processo projetual que reduz o consumo energético e os impactos ambientais através de recursos disponíveis naturalmente. A ventilação natural é um de seus pilares. "Existem diversas estratégias para favorecer a ventilação natural dos ambientes. Por meio da arquitetura bioclimática, manter o espaço naturalmente ventilado e arejado deixa-o, além de saudável, mais confortável", diz Henrique.

Entre os processos de aplicação da ventilação natural, Henrique Hoffman cita estratégias: o chamado efeito chaminé se dá a partir de aberturas na parte mais baixa e na parte mais alta da casa (assim, o ar quente, menos denso, é repelido pelo ar frio por diferença de pressão, promovendo um ambiente mais ameno e ventilado); e a ventilação cruzada ocorre quando existem no mínimo duas aberturas (portas ou janelas) em lados de paredes opostas ou adjacentes (de preferência nas que têm a direção do vento dominante), permitindo o fluxo cruzado de vento e a renovação do ar.


O arquiteto aconselha ainda ter janelas com básculas superiores, o que ameniza a sensação de 'estufa', mesmo quando a casa está toda fechada. "Sempre que possível, prefira janelas de abrir em vez das de correr, pois, em geral, permitem 100% de sua área de ventilação, enquanto com as outras esse índice é de cerca de 50%, já que parte da abertura é vedada pela própria janela", ensina.

Mais uma dica é evitar adornos e outros itens de decoração próximos às janelas. Isso ajuda a não obstruir o vento e permite que as janelas fiquem abertas por mais tempo sem o risco de derrubar objetos, acrescenta o arquiteto.

Prédios fechados sem ventilação, com pé direito baixo, iluminação artificial durante o dia, e ventilação mecânica ou ar-condicionado. Com essas condições, explica o arquiteto e sócio-diretor da Arqsol Arquitetura e Tecnologia, Sebastião Lopes, são locais que favorecem o desenvolvimento de vírus e bactérias nocivos ao ser humano, já que guardam durante a noite o ar viciado do dia anterior. "Na maioria das vezes, nossos prédios são 'doentes'."



 

"A ventilação natural é uma forte aliada para a prevenção do coronavírus e similares", diz. A ventilação natural, cruzada ou permanente, continua o arquiteto, traz consigo o oxigênio, o alimento natural dos neurônios, gerando a sensação agradável de respirar um ar puro. "O verdadeiro habitat do ser humano é a natureza. A cidade é um ambiente artificial que, por não ter jardins e árvores, muitas vezes elimina os ventos que trazem o oxigênio que renova o ar, seja no interior dos prédios ou no exterior. As doenças respiratórias são provocadas muito pela falta desses ambientes ventilados e arejados durante o dia e a noite."

PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS
Em áreas urbanas, a poluição ajuda a agravar os problemas respiratórios. Os prédios colados uns nos outros e ambientes fechados propiciam essas doenças em geral. Espaços ventilados, arejados e ensolarados, além de barrar bactérias e vírus, destroem o risco de permanência do coronavírus, explica Sebastião. "Infelizmente, muitos idosos moram em ambientes fechados, escuros, sem ventilação e iluminação naturais e com pouca incidência de raios solares", diz. Condições inadequadas justo para aqueles entre o grupo de risco para a COVID-19.

Segundo Sebastião, até então não há comprovação científica de que a climatização natural é um fator benéfico para ajudar portadores de doenças preexistentes. "Mas, de conhecimento comum, viver em um ambiente integrado com a natureza é um auxílio. Essa tem sido uma recomendação médica para tratamento de várias doenças", pondera.


A arquiteta Maluh Amorim é especializada em projetos para a terceira idade. "É importante aproveitar ao máximo a ventilação e incidência solar da casa. Caso seja necessário o uso de ar-condicionado e ventiladores, procure mantê-los limpos", explica. Ela salienta que, para os mais velhos, os ambientes mais propícios a causar danos respiratórios dentro de casa são o quarto e a sala de TV e, por isso, merecem atenção. "É importante ter uma casa sempre arejada, com boa ventilação, pois os ambientes ficam mais limpos e saudáveis. Por exemplo, um quarto que tem janelas abertas e onde o sol bate principalmente no período da manhã", ensina.