Tendência listada pela Euromonitor International, empresa global de pesquisa de mercado, no relatório 10 Principais Tendências Globais de Consumo 2020, a noção da chamada casa multifuncional remete a fazer tudo no conforto do lar. Um item que vem da arquitetura e do design e que encontra um significado especial em época de coronavírus.
Confinadas nos ambientes domésticos, agora as pessoas transferem suas principais atividades para dentro das residências, seja trabalhar, estudar, malhar ou até reinventar o próprio negócio. A ideia é adaptar os espaços para as novas funções, em propostas multiuso, seja para quartos, salas, cozinhas ou outros cômodos.
Na teoria, o conceito compreende empreendimentos com espaços flexíveis que mudam com agilidade para se moldar às funções ali exercidas pelos moradores - na prática, isso já ocorre há um bom tempo. Conforme essa perspectiva, as casas são desenhadas para atender a demandas de personalização dentro desse perfil, seguindo a necessidade de cada habitante. Quem foi surpreendido pela decisão pelo modelo de trabalho em home office precisou adequar dormitórios e recintos comuns em ambientes propícios à realização da atividade profissional, unindo ainda propostas para lazer e relaxamento, que não mais podem ser na rua.
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A arquiteta aponta a tendência como divisor de águas em empresas e famílias no período pós-pandemia. "Estamos mudando a maneira com que enxergamos nossa casa, nosso trabalho e formas de convivência. Já estamos vivendo uma mudança gradual nos hábitos de consumo. As pessoas buscam um estilo de vida mais minimalista, sustentável e saudável. Com a população voltada para fazer tudo no lar, vamos começar a priorizar mais flexibilidade, menos deslocamentos e espaços multiuso que visam a qualidade de vida."
Começa a se criar o consenso de que, depois da quarentena, o trabalho remoto pode se manter como uma forma de atuação para muitas pessoas. Mesmo com essa flexibilidade e, em grande parte, a economia de gastos, trazer o escritório para dentro de casa deve ser um processo inteligente, para que não se perca em conforto e privacidade. Para o arquiteto Henrique Hoffman, do escritório Painel Arquitetura, modificar a ambientação da casa por causa do trabalho, por outro lado, pode tirar a característica de lar e ser prejudicial aos moradores.
Henrique ensina maneiras de ter equilíbrio. "É importante preestabelecer um horário, como o intervalo comercial, das 8h às 18h, para que a casa não deixe de ser um lar. Se a pessoa não tem um home office e está utilizando um canto da casa para trabalhar, sugiro que, assim que terminar o 'expediente', retire tudo do lugar. Limpe o espaço todos os dias, guardando todo o material de trabalho. Afinal, é preciso determinar que lar e ambiente de trabalho sejam desvinculados um do outro, pois são atividades funcionais distintas", recomenda. Para ele, o mais indicado é destinar um cômodo só para o trabalho e, se não for o caso, o ideal é designar um canto fixo para não espalhar o trabalho por toda a moradia.
De acordo com Fernando Oliveira, sócio-diretor da loja Mobília, especializada em móveis corporativos, a vantagem hoje é que equipamentos como computadores e impressoras são compactos e, assim, é possível criar uma ambientação profissional sem tirar a sensação de acolhimento do lar. Os computadores são menores, alguns não têm nem CPU externo e, na maioria das vezes, os trabalhos são executados em notebook e até mesmo em smartphones. "O que precisamos, principalmente, é de uma boa cadeira, que seja ergonômica, compacta, com bom design e que os rodízios não danifiquem o piso. Depois, uma mesa que atenda o espaço disponível e os equipamentos que teremos que utilizar, de acordo com as medidas determinadas pela ABNT, e, por último, se necessário, uma iluminação de apoio. Além disso, pode-se pensar em painéis acústicos para que o barulho não incomode."