O isolamento social necessário durante a pandemia propiciou uma mudança drástica na rotina do mundo. Empresas migraram seus funcionários para o sistema home office e escolas e creches estão fechadas em tempo integral. Dessa forma, milhares de famílias estão experimentando o convívio juntas, por tanto tempo, pela primeira vez, o que requer muito diálogo e planejamento.
Camila Antunes, pedagoga e educadora parental, afirma que este é um momento de fortalecer os laços familiares, mas alerta para o momento atual e suas facetas. “É importante não romantizarmos o confinamento que estamos vivendo e ter consciência de que o Brasil tem múltiplas realidades, muitas famílias que não podem ficar em casa, mães que estão sozinhas com seus filhos ou pessoas submetidas à violência doméstica. Essas pessoas estão enfrentando esse momento de forma bem diferente.”
A educadora parental elucida que, nesta situação, o planejamento é essencial para que os pais consigam conciliar o trabalho em casa e os cuidados com os filhos e o lar. Ela pontua, também, sobre a necessidade do diálogo. “As crianças precisam entender que são parte da casa e que estão vivendo este momento assim como os pais. Por isso, é muito importante explicar o motivo de estarem em casa e em isolamento, dando espaço a elas para perguntar o que querem saber.”
Além disso, Camila ressalta que estabelecer uma rotina para o trabalho e para a família pode ser uma ótima forma de organizar os afazeres profissionais e domésticos, bem como os momentos de lazer. “Estruture os momentos do dia, como hora para acordar, comer e dormir, e defina os responsáveis pelas tarefas do lar, como quem irá cozinhar ou passar o aspirador de pó na casa. Para isso, crie o hábito de fazer uma reunião no início do dia para que todos fiquem cientes de seus compromissos.”
CONEXÃO
Quanto ao trabalho remoto, Camila orienta que haja uma boa comunicação com gestor e equipe para que, em casos de ausência por determinado tempo ou necessidade de atender a um pedido da família, o funcionário possa reportar tal fato e ser bem compreendido. Ela ressalta, ainda, que dividir o tempo entre momentos de concentração e de conexão com as crianças pode ser um bom método de conciliação. “A técnica Pomodoro é uma ferramenta que pode ajudar neste momento. Ligue um cronômetro de 25 minutos para o trabalho e depois destine 15 minutos às crianças”, completa.
Para que o tempo destinado ao trabalho seja produtivo, a educadora parental sugere que sinais sejam criados entre pais e filhos, a fim de que cada momento seja compreendido. “Códigos não verbais, como placas e desenhos, são ótimos aliados para que as crianças entendam aquele instante como propício ou não para conversar”, explica. Além disso, Camila recomenda que os pais optem por acordar algumas horas antes dos filhos para que, assim, possam utilizar esse tempo para desenvolver tarefas. “Retomar o trabalho no fim do dia também é uma boa opção.”
Walnice Fabiana Santos Amaral, de 37 anos, é supervisora de departamento pessoal e tem conciliado o trabalho feito de casa com o contato integral com a filha Alice, de 3. Ela conta que, apesar de este momento fortalecer os laços familiares, tem sentido essa rotina pesar mais que a habitual. “Ter que administrar o tempo faz com que fique mais difícil conciliar as tarefas, visto que já tínhamos uma rotina estabelecida antes e agora, com todos juntos em casa, exige uma organização maior do tempo.”
Para Raissa Menezes Ferreira, de 33, o home office tem desafios, principalmente pela conciliação de agendas, mas propõe um cotidiano mais leve do que tem costume. “O fato de não ter que me deslocar para trabalhar faz uma grande diferença. Além disso, como sou autônoma, o trabalho diminuiu”, conta a professora de inglês.
DISTRAÇÃO
A educadora parental Camila Antunes relata que muito se tem dúvida sobre como fazer com que as crianças tenham distração o tempo todo, no entanto isso não se faz necessário. “Acredito que dar espaço para que elas criem e escolham o que querem fazer é muito bom, já que todos estão sempre muito ocupados. Importante deixar claro que as crianças não precisam estar entretidas o tempo todo e esse é um ótimo momento para apresentar a elas brincadeiras antigas.”
Walnice conta como isso se dá em sua casa. “Meu marido está sendo muito parceiro, ele me ajuda bastante, já que é professor e também está em casa. Dessa forma, a gente procura inserir a Alice nas nossas atividades de casa, como ajudar em alguma receita e a dobrar as roupas secas. Ela também tem atividades que vão ao encontro do que ela tem aprendido. Além disso, buscamos aguçar a criatividade dela, com histórias e brincadeiras.”
É o que Raissa e seu marido também têm praticado em casa com o filho de 3 anos. “Eu e meu marido temos dividido dias e horários. Enquanto um trabalha, o outro cuida da criança. E, para isso, temos tentado organizar atividades como leitura, atividades domésticas e escolares, jogos, desenhos animados e música para que ele não fique ocioso”, relata.
*Estagiária sob supervisão da
editora Teresa Caram