Um estudo realizado por pesquisadores da University College London aponta que a ingestão diária de mais de sete porções de frutas, legumes e verduras diminui em até 42% as chances de mortes por doenças cardiovasculares ou por câncer. Publicada no Journal of Epidemiology Community Health, em 2014, a pesquisa pode ser reconsiderada e aplicada no contexto da pandemia atual com o novo coronavírus.
Mariela Silveira, diretora médica da Kurotel – Centro Contemporâneo de Saúde e Bem-Estar, explica que a ação desses alimentos na redução do risco de morte se dá, principalmente, pela característica natural e oxidante de frutas, legumes e verduras. “Com mais micronutrientes, mais fibras solúveis e insolúveis e anti-inflamatórios naturais e antioxidantes, há um menor processo oxidativo. E isso interfere na imunidade e na gênese de diversas doenças. Dessa forma, há um melhor controle do colesterol ruim e sua fração oxidada, da glicose e possíveis resistências insulínicas, da pressão arterial e, também, do peso corporal, reduzindo os casos de diabetes, câncer, infarto agudo do miocárdio, AVC e trombose.”
A pesquisa indica, também, que aqueles que optaram por uma maior ingestão de verduras em vez de frutas obtiveram um melhor resultado final. Para Mariela, isso se justifica pelo índice glicêmico. “Quanto menos açúcar, menor a quantidade de insulina no organismo e, então, melhor será a saúde.”
Sendo assim, a diretora médica destaca que a ingestão de vitaminas para o fortalecimento do sistema imunológico pode propiciar resultados positivos ao organismo. Além das verduras, ela cita outros alimentos essenciais para o corpo, como a ervilha, que é ótima para a prevenção de viroses, e a aveia, muito útil para a microbiota intestinal, e, consequentemente, para o sistema imunológico. “Alguns nutrientes importantes, como a vitamina B12, encontrada na carne, leite e ovos, e o selênio, encontrado na castanha-do-pará, no brócolis, no pimentão e na soja, também agem no sistema imunológico e contra processos inflamatórios. A vitamina D também é uma ótima aliada da imunidade.”
No entanto, Mariela pontua que o consumo desses alimentos deve ser feito de forma natural. “Vale ressaltar que não adianta comer frutas ou legumes enlatados e nem sucos prontos. O trabalho mostrou que esse consumo pode aumentar o risco de morte cardiovascular e câncer ao longo dos anos.”
A especialista destaca, ainda, que devido às particularidades de cada organismo, a ingestão desses alimentos deve ser feita com cautela e promovendo adaptações em casos necessários. “É preciso levar em conta a individualidade bioquímica que cada pessoa tem, algumas podem ter alergia a alguma fruta, intolerância à glicose ou mesmo uma limitação na ingestão de fibras ou grãos. Nesses casos, podem ser feitas adequações sem problemas, mantendo os mesmos benefícios.”
Esses alimentos são ricos em vitaminas e minerais, importantes para a resistência, e fibras, importantes para a microbiota intestinal. Dessa forma, consequentemente, a defesa do organismo é beneficiada, o que aponta para uma possível melhor imunidade perante o vírus
Mariela Silveira,
diretora médica da Kurotel
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Ainda não se tem estudos que relacionem o consumo diário de frutas, legumes e verduras à redução do número de óbitos pelo novo coronavírus. No entanto, para Mariela, os dados da pesquisa em questão não devem ser desconsiderados e podem, inclusive, indicar certa relevância quanto à correlação desses assuntos.
“O fato de uma pessoa com o hábito de comer mais vegetais reduzir a chance de câncer nos faz entender que o reconhecimento imunológico tende a ficar mais apurado. Além disso, esses alimentos são ricos em vitaminas e minerais, importantes para a resistência, e fibras, importantes para a microbiota intestinal. Dessa forma, consequentemente, a defesa do organismo é beneficiada, o que aponta para uma possível melhor imunidade perante o vírus”, diz.
Tendo em vista a falta de especificidade do estudo quanto às taxas de mortalidade em doenças virais, Mariela ressalta que outras pesquisas indicam a alimentação como forte aliado ao combate da COVID-19, visto que, por meio de uma dieta saudável, além do fortalecimento do sistema imunológico, transformações benéficas podem ocorrer no organismo.
“Estudos recentes sugerem que altos níveis de antioxidantes na alimentação contribuem para uma menor evolução da doença. Outro trabalho mostra que diabéticos têm mais chances de contrair o vírus e que este evolua para um grau de severidade maior. Talvez, futuramente, consigamos saber se há relação direta ou não.”
EXPERIMENTO
O estudo contou com a participação de 65.226 pessoas, entre homens e mulheres adultos, todos acima de 35 anos, que foram acompanhados cotidianamente, por sete anos, a fim de testar e avaliar o impacto do consumo desses alimentos a longo prazo. O resultado final obteve variações, a depender da quantidade ingerida.
Aqueles que comiam diariamente ao menos três porções tiveram as taxas de risco de mortalidade reduzidas em 14%. Já os que consumiam, em média, cinco porções, obtiveram diminuição de 29%. O consumo diário de sete porções gerou queda de 36% no risco de morte, enquanto a ingestão de mais de sete porções ao dia fez com que as taxas caíssem em 42%.
* Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram