Jornal Estado de Minas

COVID-19

Epidemia de câncer em estágio avançado pode ser realidade pós-pandemia


De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), desde o mês de abril deste ano, quando o isolamento social já estava em vigor como recomendação oficial dos órgãos de saúde, mais de 50 mil brasileiros ficaram sem acesso ao diagnóstico e/ou tratamento para o câncer.  

Neste contexto, a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), explica que essa falta de atendimento pode gerar uma elevação no número de casos da doença, em estágio avançado, no período pós-pandemia.



Isso porque a descoberta tardia, bem como a ausência de cuidados e atenção necessárias, pode estimular o agravamento do câncer. 

“Por conta da falta de acesso e procura por exames diagnósticos durante a pandemia, os pacientes ficam sem informação e angustiados, enquanto esperam a confirmação do diagnóstico ou da primeira consulta para início do tratamento", afirma.

Segundo a especialista, quanto maior o tempo do diagnóstico e início do tratamento, maior é a probabilidade de estágio avançado da doença e, "consequentemente, os tratamentos se tornam mais invasivos além de reduzir a chance de cura”. 

Além disso, a especialista pontua que, em meio à pandemia, e por causa da ausência de consultas, muitas pessoas podem nem sequer ter conhecimento da existência da doença.



“Infelizmente, grande parte da população, neste momento, pode ter a doença e ainda não saber, e se não fosse o adiamento e cancelamento dos exames, poderiam já ter iniciado o tratamento.” 
 
 

Maira destaca que as consequências mais sérias deste momento, quanto aos quadros de câncer, são o aumento de casos de tumores palpáveis e, também, o crescimento de nódulos. 

“Com a população resignada em casa com medo do vírus, sem realizar os exames de rotina, em breve veremos um aumento significativo de casos de tumores palpáveis e tratamentos mais agressivos, com maior custo e número de mortes. Além disso, pode haver um aumento no tamanho do tumor, ou seja, a neoplasia em estágio avançado.” 

A mastologia ressalta, ainda, que uma das "armas mais poderosas” contra o câncer é o diagnóstico precoce, visto que as possibilidades de cura, nestes casos, tendem a ser maiores, o que justifica uma possível epidemia da doença pós-pandemia, principalmente relacionada aos tipos de câncer mais comuns e com alta mortalidade, como o de mama, cólon, pulmão e patologias hematológicas. 

Como se prevenir? 


Maira afirma que, para garantir os atendimentos urgentes, sem deixar os demais casos desassistidos, uma solução local precisa ser pensada, alinhada às recomendações feitas pelo Ministério da Saúde. 





“Toda essa instabilidade está impactando diretamente na gestão dos diferentes níveis do sistema estadual e municipal. Por isso, precisamos, com urgência, delimitar atitudes. Uma delas, que acredito ser eficiente, é a disponibilização de hospitais ‘livres de corona’ como alternativa de seguir com os atendimentos oncológicos.” 

Além disso, a mastologista destaca que diretrizes ministeriais, direcionadas a pacientes com suspeita de câncer ou em busca de atendimento, podem ser benéficas neste momento.

Isso porque, segundo a especialista, com orientações objetivas, as pessoas podem ter acesso a um direcionamento melhor, sem causar um colapso na saúde pública nos próximos meses. 

Maira Caleffi, mastologista e presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) (foto: Divulgação)
“Com informações corretas e os devidos cuidados, é possível combater o medo e incentivar os pacientes a fazerem exames de rotina, continuar o tratamento e procurar um médico quando sentir e/ou notar alterações no corpo.” 

Quanto aos tratamentos, a especialista ressalta que não devem ser interrompidos. “É importante que o paciente com câncer converse com o seu médico. Um sistema de triagem on-line ou presencial precisa ser mantido, a fim de orientar e esclarecer as dúvidas dos pacientes”, afirma. 

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 





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