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Estado de Minas COVID-19

Coronavírus: dificuldades na fala do paciente podem gerar depressão

Intubação e demais características respiratórias podem impossibilitar comunicação oral de pacientes contaminados pelo vírus


08/06/2020 11:00 - atualizado 08/06/2020 10:55

As chamadas pranchas, contendo imagens, cores e símbolos, são usadas, em hospitais, a fim de contribuir para a comunicação dos pacientes(foto: Divulgação)
As chamadas pranchas, contendo imagens, cores e símbolos, são usadas, em hospitais, a fim de contribuir para a comunicação dos pacientes (foto: Divulgação)

Fala entrecortada, baixa intensidade vocal, cansaço ou esforço respiratório ao falar são alguns dos sinais apresentados pelos pacientes em tratamento de COVID-19 que podem caracterizar vulnerabilidade comunicativa.

Isso porque a ventilação mecânica, a intubação e os equipamentos de proteção, embora sejam fundamentais para a biossegurança do enfermo, dificultam a comunicação entre pacientes e equipe de saúde. 

Neste contexto, a fonoaudióloga Janaina Maria Maynard Marques, especialista em linguagem, destaca que essa vulnerabilidade comunicativa pode desencadear angústia e estresse na relação médico-paciente, e impactar negativamente na segurança do enfermo. 

“O paciente pode tentar se comunicar e não conseguir se fazer entendido. Dessa forma, por não compreender o que está acontecendo e o que os profissionais de saúde estão tentando falar com ele, o doente pode se sentir privado em participar ativamente do monitoramento do seu quadro clínico, informando o que está sentindo, o nível de dor, suas dúvidas e seus medos, o que não é benéfico.” 

Quanto a este aspecto como efeito colateral a longo prazo, Janaina pontua que seu desenvolvimento dependerá do grau de acometimento da doença ao paciente, bem como do organismo e sistema imunológico

“Para os casos mais graves da doença, que envolvem internação e intubação, normalmente prolongada, temos acompanhado uma diversidade de possíveis sequelas, como necessidade de confecção de traqueostomia, lesão de pregas vocais, alterações articulatórias por fraqueza muscular dos órgãos fonoarticulatórios, lesão em lábios e língua pela presença do tubo, entre outros possíveis efeitos neurológicos.”
 

Comunicação suplementar e alternativa 

 

Para a fonoaudióloga, é importante que atitudes sejam tomadas, em âmbito hospitalar, a fim de facilitar a melhor comunicação para as pessoas em estado de vulnerabilidade comunicativa.  

“O ser humano tem o direito de se expressar, o que comumente é feito pela fala. Não possibilitar a comunicação aos pacientes hospitalizados em vulnerabilidade comunicativa é incoerente com sua liberdade de expressão. Sendo a fonoaudiologia a ciência responsável pela comunicação humana, é dever moral de seu órgão fiscalizatório garantir que a população tenha acesso e possibilidade de se comunicar da melhor forma possível”, ressalta Janaina. 

E, é neste cenário que surge o uso da comunicação suplementar e alternativa, método que consiste na análise e inserção do recurso mais viável, funcional e prático para o paciente e o contexto no qual está imerso, independentemente de sua idade e/ou quadro clínico. 

Janaina Maria Maynard Marques, fonoaudióloga especialista em linguagem(foto: Arquivo pessoal)
Janaina Maria Maynard Marques, fonoaudióloga especialista em linguagem (foto: Arquivo pessoal)
“Além de favorecer a expressão do paciente, por meio do uso de cores, desenhos ou símbolos, os sistemas de comunicação suplementar e alternativa podem potencializar a compreensão do enfermo, quando necessário, gerando maior tranquilidade e segurança ao paciente, à sua família e à própria equipe de saúde.” 

No entanto, Janaina pontua que essa prática pode não ser eficaz em todos os casos. Porém, pode ser fundamental para minimizar os sentimentos de estresse, angústia e sofrimento, promovendo o acolhimento e exercício da dignidade humana, que, segundo a especialista, envolve de forma direta a comunicação

Nos hospitais 


Janaina conta que esse tipo de intervenção comunicativa suplementar e alternativa já é aplicada há algum tempo no Brasil, bem como em outras partes do mundo. Mas, destaca que, no país, esse método ainda é pouco utilizado, de fato. 

No entanto, em meio à pandemia de COVID-19, o risco aumentado de vulnerabilidade comunicativa nos pacientes em tratamento hospitalar tende a impulsionar o uso desse recurso.

“Por isso, o CREFONO6, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a ISAAC Brasil, produziu três mil kits de comunicação alternativa, com quatro pranchas básicas com símbolos pictográficos e alfabeto-números, que estão sendo distribuídos aos hospitais públicos e UPAs do estado”, destaca a especialista. 

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 


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