Ao falar em casamento, a imagem repentina de uma cerimônia atendendo a todas as expectativas dos noivos tende a surgir. Um momento que, quase sempre, leva meses ou mesmo anos para ser planejado. No entanto, em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, alguns sonhos precisaram ser adiados ou cancelados.
Jucielle Maciel de Arantes, de 34 anos, e Paulo Cesar Silva Junior, de 35, ainda sem saber o futuro da atual situação do país, chegaram à comum decisão de adiar a cerimônia, que seria realizada em setembro deste ano, para maio de 2021, mais precisamente no primeiro dia do mês.
A bancária e o analista de testes em TI contam que a princípio se sentiram frustrados e chateados em ter que mudar a data escolhida, visto que até os pequenos detalhes já estavam ajustados há cerca de um ano. Porém, a preocupação e o zelo para com os familiares e amigos falaram mais alto, a considerar o medo de contaminação pela COVID-19.
“Tudo já estava planejado, desde a decoração, equipe de garçons e cozinha, até a escolha do celebrante, fotógrafos e local onde passaríamos a nossa lua de mel. Mas, mesmo assim não cogitamos adaptar a cerimônia para um modelo adequado para o momento, pois com tudo organizado, o projeto estava do jeitinho que queríamos.”
Envoltos na esperança de que tudo passe e a cerimônia seja realizada, no próximo ano, sem nenhum outro adiamento, os noivos contam que será em um formato mini wedding, ao ar livre, em Caxambu (MG), entre os dois pontos mais altos da cidade, no estilo borrô chique, e com um toque mineiro.
“Nosso plano é nos casar no civil e religioso seguidamente. Portanto, adiamos as duas cerimônias. E, quando tudo isso passar, seremos pessoas melhores, acredito, e o mundo também. Nosso dia será ainda mais especial”, afirma Jucielle.
“Nosso plano é nos casar no civil e religioso seguidamente. Portanto, adiamos as duas cerimônias. E, quando tudo isso passar, seremos pessoas melhores, acredito, e o mundo também. Nosso dia será ainda mais especial”, afirma Jucielle.
Assim como Jucielle e Paulo, muitos outros casais optaram pelo adiamento da data, pelo desejo de realizar o sonho do matrimônio frente aos familiares e amigos. Justamente a isso é que Cintia Junqueira Leite, de 33, produtora e cerimonial de eventos sociais, da Cíntia Junqueira Cerimonial & Eventos, atribui o fato de seus clientes optarem por escolher uma nova data, em vez de adaptar a cerimônia.
“A princípio, contatamos todos os noivos para os quais prestaríamos os nossos serviços, a fim de avaliar individualmente cada casal e entender a perspectiva de cada um deles sobre o ‘temido’ assunto adiamento. Era um momento de pensar com a razão. E nenhum deles quis realizar a cerimônia adaptada. Sendo assim, tivemos seis adiamentos e três casamentos cancelados”, diz.
DESAFIO
Ao adiar um sonho, ou mesmo cancelá-lo, o primeiro impacto tende a ser emocional, diante da expectativa por parte dos noivos que se acumula por meses, visto que todos os detalhes a serem escolhidos e providenciados podem levar um longo tempo, e até mesmo um simples contratempo pode provocar sintomas de estresse e ansiedade.
E, neste contexto, o vestido e o terno ideal, o local da cerimônia, as flores a serem usadas na decoração e no buquê, quem serão os convidados, todos esses preparativos foram suspendidos de repente.
E, neste contexto, o vestido e o terno ideal, o local da cerimônia, as flores a serem usadas na decoração e no buquê, quem serão os convidados, todos esses preparativos foram suspendidos de repente.
Portanto, conforme pontua a cerimonialista e produtora de eventos Mariana Almeida Rodrigues, de 30, da Mariage Eventos, a falta de uma previsão de quando os eventos retornarão à normalidade propicia às empresas organizadoras algumas dificuldades em passar aos seus clientes certa segurança, o que tende a gerar danos emocionais aos noivos.
“Não conseguimos acalmá-los, pois também vivemos na incerteza. Além disso, eles precisam lidar com o aumento de custos em cerca de 30% a 50%, visto que os casamentos adiados tendem a alterar o orçamento. Então, além da frustração, a instabilidade do mercado gera medo nos noivos.”
Outro desafio, do ponto de vista de planejamento, diz respeito à realocação de datas. Isso porque é preciso compatibilizar a disposição de fornecedores para, assim, chegar a um “denominador comum”, conforme elucida Cintia. Há ainda, o fator negociação.
“O reajuste de valores e/ou multas de contratos, principalmente por casais que têm optado por adiar para o ano que vem, tem sido um aspecto fácil de ser resolvido. Tanto os casais quanto os fornecedores têm conseguido, sem mais intercorrências, chegar a um acordo bom para as duas partes.”
PREJUÍZO
“A desilusão por conta dos noivos tende a ser grande, por ‘quebrar’ a expectativa de um grande dia, e mesmo pela ausência de convidados. Além disso, as pessoas estão com medo ainda, o que dificulta alguns casos de adaptação para um modelo mais íntimo de celebrar o amor”, explica o empresário Luciano da Silva Campos, de 40, proprietário do Benvenuto Buffet, antigo Carmen Missiaggia Buffett.
Campos destaca que, apesar de o número de cancelamentos ter sido bem menor quando comparado ao de adiamentos, ainda sim o prejuízo foi grande para a empresa, visto que, mesmo antes do grande dia, muito dinheiro precisa ser investido para que o bufê consiga funcionar e projetar a recepção do casamento ou mesmo a cerimônia. E esse valor financeiro já empregado precisou ser devolvido.
“Com a realocação das datas já fechadas, cerca de 50 adiamentos, futuras vagas no calendário precisaram ser reservadas para os casamentos que aconteceriam ainda neste ano. Isso, com certeza, tem atrapalhado muito o ramo de eventos, mesmo com apenas cinco cancelamentos, em nosso caso.”
O empresário pontua, ainda, que acordos foram feitos, a fim de não prejudicar os noivos e o lado financeiro não fosse, também, comprometido. Portanto, as novas datas a serem reservadas não ofereceram nenhum custo adicional para os casais.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram
o que diz a lei
De acordo com o artigo 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor (CDC), o cliente pode cancelar ou pedir o adiamento do evento. E o fornecedor pode cobrar multa ou requerer o cancelamento da cerimônia sem reembolsar o consumidor. Neste contexto, o advogado Francisco Eustáquio de Alcântara Júnior recomenda que um acordo seja feito. “É o mais viável de ser feito, para que nenhuma das partes seja integralmente prejudicada. Por exemplo, se há uma multa de 30%, de forma consensual, uma negociação pode ser feita, e esse valor chegar a 10%.”
Segundo ele, se o consumidor optar por cancelar o evento, pode fazer e requerer que nada seja cobrado, tendo como fundamento a alegação de força maior e os aspectos estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor. Caso o fornecedor insista em cobrar a multa, o consumidor deve procurar o Procon para intermediar o caso ou ir diretamente ao Juizado Especial de Pequenas Causas.
"Era um momento de pensar com a razão. E nenhum deles quis realizar a cerimônia adaptada. Sendo assim, tivemos seis adiamentos e três casamentos cancelados"
Cintia Junqueira Leite,
produtora e cerimonial de eventos sociais, da Cíntia Junqueira Cerimonial & Eventos