A pandemia desencadeou um cenário de instabilidade, e o isolamento social provocou quadros de estresse, depressão, medo, raiva e tristeza nas pessoas. “Isso culminou na tendência por procurar um animal de estimação.
Neste momento, eles servem como companhia, estimulam o afeto e curam a tristeza”, diz a psicóloga Mônica Nascimento Mafra, ao comentar a elevação das taxas de cães e gatos que ganharam um novo lar durante o confinamento.
Para ela, em um momento no qual as pessoas precisam evitar o contato humano e restringir as formas de confraternização, a companhia de um pet pode ser benéfica e crucial para o bem-estar emocional.
“Os pets exercem um papel positivo até mesmo na cura de doenças emocionais e físicas. A diminuição da depressão é uma delas, pois à medida que se passa mais tempo na presença de um animal doméstico, a pessoa produz hormônios como ocitocina e serotonina, que melhoram o humor e ajudam a reduzir a pressão sanguínea, auxiliando a função cardíaca.”
Mônica destaca que os animais de estimação são bons companheiros e cuidadores, e ao decorrer da relação eles se tornam mais que apenas pets. Uma relação que, segundo a psicóloga, transcende padrões sociais e não requer nenhum interesse. “Ele estará ali sempre e a qualquer momento. Portanto, essa oferta de segurança psicológica diminui a solidão”, diz.
E é justamente esse sentimento que não faz mais parte da vida de Marlene Mecia Pontes de Castro, de 52 anos, desde que ela adotou a primeira cadela: Mégali, de quase 6 anos. Hoje, já são quatro: Pantera, de 4, Hanna, de 2, e Princesa, mãe de Hanna, de 3. Quatro cadelas que alegram a vida de Marlene e a filha, Ana Clara Pontes de Castro, de 18, e tornam os dias de isolamento social mais fáceis.
“Com todas elas presentes em casa, nesta pandemia, é impossível nos sentirmos sozinhas. Elas alegram a casa em dias bons e ruins, nos fazendo rir de suas brincadeiras ou nos dando lambidas quando estamos em um dia ruim. Essas criaturinhas são muito leais, carinhosas e ótimas companhias, e com certeza nos ajudam muito durante essa fase difícil que estamos enfrentando”, conta.
Mônica observa que ter um animal de estimação não se trata de uma obrigação, o que tende a se tornar até uma decisão difícil em determinadas situações, como falta de espaço e/ou tempo. No entanto, ressalta que, ao considerar os benefícios, esse empecilho muitas vezes é desconsiderado. E, por isso, afirma: “A aquisição ou adoção de animais não é a solução de todos os problemas. Mas, é garantia de companhia e alegria”.
Foi assim com Luís Fernando Ramos Santos, de 38. Casado, o jornalista e sua esposa, Zaira Lage Dias Santos, também de 38, tinham espaço em casa e muita vontade de terem um cão, mas não tinham tempo para que pudessem ajudá-lo na adaptação. Então, Luís conta que resolveram esperar o momento certo. E ele apareceu agora.
“Devido à pandemia, estamos trabalhando em home office e percebemos ser este o momento ideal para ter esse cachorro que tanto queríamos. Foi então que um amigo nos disse que Olaf, um cãozinho, de um ano e oito meses, estava sendo doado. Não pensamos duas vezes, e o adotamos. Ele é um cachorrinho muito esperto e inteligente, e encanta a nossa vida. A casa virou outra com a presença dele.”
Esse convívio agradável diz respeito, principalmente, à espera da chegada do cão, conforme ocorreu com o casal Luís Fernando e Zaira, e elucidado por Mônica. “Quando esse animal chega, ele já está sendo esperado. Logo, o ambiente se torna reconfortante. Os animais transmitem a sensação de bem-estar por serem carinhosos e cuidarem de quem está ao seu redor. O benefício é mútuo, tanto para o dono quanto para o animal.”
DEDICAÇÃO A veterinária Pillar Gomide do Valle pontua que, apesar dos benefícios, é preciso se atentar aos cuidados básicos e dedicar horas de carinho e atenção ao pet. Isso porque eles também tendem a sentir a emoção do momento, visto que há a necessidade de ficar em casa e de que determinadas atividades, como o passeio e as brincadeiras ao ar livre, sejam evitadas.
“Nós, humanos, podemos nos distrair vendo TV, lendo um livro, navegando na internet e fazendo uma porção de coisas que eles não podem. Por isso, temos que nos atentar para a qualidade de vida desse cão. Muitas doenças como a dermatite psicogênica podem ocorrer por tédio. Uma brincadeira com bolinhas, garrafas PETs ou laser point são essenciais para uma vida, inclusive psicológica, saudável. Além disso, movimento é saúde, e isso vale também para o animal.”
Pillar destaca, ainda, que todos os cuidados inerentes à vida do cão ou gato geram gastos. Em alguns casos, a economia pode ser feita com a confecção de brinquedos em casa. No entanto, do ponto de vista alimentar e da saúde dos pets, os custos podem ser altos. Por isso, a veterinária frisa que ter um animal doméstico requer disponibilidade de tempo e dinheiro.
Em relação aos valores a serem desembolsados para manter a saúde do cão em dia, há gastos com alimentação, banho e tosa, consultas veterinárias e vacinas. Quanto a ração, depende da raça do pet e do tipo a ser escolhido. “Uma ração superpremium, por exemplo, para raça pequena gira em torno de R$ 80 por mês. Mas há rações mais baratas. E esse valor pode diminuir para cerca de R$ 40 a R$ 50 mensais. Ainda, vale ressaltar que a ração deve ser servida ao cão três vezes ao dia. A água é à vontade”, afirma.
No caso do banho, de acordo com Pillar, petshops de Belo Horizonte cobram a partir de R$ 40, para raças pequenas. Porém, a veterinária destaca que essa limpeza pode ser feita pelo próprio tutor, gastando assim cerca de R$ 60 com a compra dos produtos específicos para o banho de animais domésticos.
Já as tosas, segundo a veterinária, variam de acordo com o tamanho do animal. Para cães de porte pequeno, por exemplo, são cobrados cerca de R$ 80, enquanto que para os de grande porte são denotados valores em torno de R$ 130. A periodicidade dos banhos é quinzenal e das tosas, mensal.
Outro gasto importante diz respeito às consultas, vacinas e antiparasitários. Pillar explica que, para animais com menos de 7 anos e sem doenças crônicas, uma visita ao veterinário por ano é o ideal. E destaca que o valor a ser cobrado pelos profissionais varia entre R$ 50 e R$ 150.
“As vacinas essenciais para cães são a múltipla e antirrábica, e normalmente têm protocolos anuais e saem em torno de R$ 60 e R$ 80, cada. Mas, se o tutor tiver condições, vale também imunizar o cão contra leishmaniose. Essa vacina é fortemente recomendada e também tem protocolo anual, mas com o custo mais elevado, em torno de R$ 200.”
De forma geral, cães e gatos precisam, ainda, tomar vermífugos, ao menos anualmente, com reforços de acordo com o protocolo do veterinário. Os valores dependem da marca do produto e do peso do animal.
“Em média, são gastos R$ 30 em duas doses recomendadas na rotina. Se faz necessário também prevenir contra pulgas e carrapatos, e os custos também são influenciados pelo peso do animal, gerando gasto entre R$ 30 e R$ 50”, explica a veterinária.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram