A pandemia muitas vezes tem consequências não tão óbvias, e que influem em outros aspectos da saúde. Entre 16 de março, data que marca a primeira morte por COVID-19 no Brasil, até o fim de junho, está registrado crescimento de 31,82% no índice de óbitos em domicílio devido a doenças cardiovasculares no país, incluindo Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto e enfermidades inespecíficas.
Os dados são do Portal da Transparência, atualizado pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e apoio de médicos e pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "As pessoas estão com medo de ir ao hospital para não contrair o coronavírus, e acabam morrendo em casa", alerta a cardiologista Marildes Luiza de Castro.
O estudo aponta a ocorrência de 23.342 mortes por doenças cardíacas dentro de casa em 2020, considerando o intervalo de tempo analisado. Em 2019, na mesma época, esse número era de 17.707 falecimentos. Para o presidente da SBC, Marcelo Queiroga, é possível relacionar essa elevação a algumas questões evidentes ao longo da disseminação do coronavírus. "Podemos explicar o aumento por três fatores: acesso limitado a hospitais em locais onde houve sobrecarga do sistema de saúde, redução da procura por cuidados médicos devido ao distanciamento social ou por preocupação de contrair a COVID-19, e o isolamento que prejudica a detecção de sintomas gerados por patologias cardiovasculares", esclarece.
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"As mulheres desconhecem esse perigo, e o conhecimento é essencial para a prevenção. É necessário identificar os fatores de risco, a fim de combatê-los", diz a médica. São eles: colesterol alto, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, sedentarismo, obesidade, entre outros. Em relação a mulheres que apresentaram doenças durante a gravidez, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional, também aumenta o risco de aparecimento de transtornos cardiovasculares no futuro.
Os sinais de um princípio de infarto, por sua vez, são dor no peito, falta de ar, dor no estômago, dor nas costas, e muitas vezes ainda desequilíbrios emocionais. "Muitas priorizam a aparência, direcionam os cuidados com a saúde pela estética, e não fazem, por exemplo, consultas periódicas de avaliação cardiológica. É comum a ideia de que o que mais mata a mulher é o câncer de mama, mas é o infarto", acrescenta Marildes.
A nutróloga Marina Carvalho Rassbach reforça que, ao passo da preocupação crescente com a COVID-19, é ignorado o fato de que o infarto entre as mulheres mata sete vezes mais que o coronavírus. "A discussão é importante porque muitas mulheres não estão cientes sobre o que fazer para melhorar a saúde cardiovascular", salienta. Sob a ótica da nutrição, Marina leva para o webinar considerações sobre o papel da alimentação saudável durante a vida da mulher, desde quando bebê, em amamentação, a adolescência até a vida adulta, abordando cuidados específicos em cada faixa etária. Ela lembra que a literatura médica é unânime em considerar os benefícios de uma dieta equilibrada para o coração, e também para evitar excesso de peso e males como câncer de mama e de intestino.
A nutróloga cita pesquisa de 2019 que dá conta de que a maioria das mulheres está disposta a aumentar os gastos com a estética, sem se preocupar com a saúde do coração. "Na era do photoshop e dos padrões impostos pela mídia e nas redes sociais, o corpo perfeito se torna um desejo comumente inatingível, uma cobrança, e há muito sofrimento nessa busca. Podem surgir inclusive deformidades. Queremos incitar a reflexão sobre esse limite entre uma preocupação saudável com a estética, até o ponto em que isso prejudica a saúde. É um limite particular para cada pessoa, muitas vezes não raciocinado. No Brasil ainda mais, onde os corpos femininos são cada vez mais expostos", orienta.
Está aí o motivo para a apresentação do psiquiatra Lucas Fantini. A intenção é demonstrar como a ditadura da estética interfere na saúde psíquica e desencadeia outras doenças. Ao perseguir os modelos de beleza, no exagero a mulher pode incorrer no risco de desenvolver distúrbios alimentares, que são variados, como anorexia, bulimia e compulsão alimentar, entre outros desajustes psíquicos - esses são problemas graves, e há maneiras de identificá-los. O psiquiatra irá mirar em sua explicação principalmente a anorexia. Lucas elucida que, nesse caso, o sinal de alerta acende com um emagrecimento intenso e a hesitação em se alimentar na presença de outras pessoas.
"O contato com os meios eletrônicos está intensificado, e a imposição de padrões aumenta. O brasileiro valoriza muito a estética, assim como os norte-americanos. São praticamente leis pregadas pela mídia. Na internet todos têm uma vida maravilhosa, mas essas não são imagens reais", pondera. Um indício de que algo não vai bem é a frequência e a permanência desse quadro de desarmonia no organismo e no comportamento. "O problema é o tamanho que isso toma na vida da pessoa, quando prejudica outras questões, que se tornam secundárias. Um perigo quando isso é perene, permanente, constante e de uma dimensão gigantesca - quando, por exemplo, se estende para o trabalho e a vida social", identifica o psiquiatra.
Webinar - O foco da mulher nos dias atuais - estética ou saúde?
Nesta terça-feira, às 19h, no canal do IPMED no YouTube:
https://especiais.ipemed.com.br/ipemed-talks-saude-da-mulher