Com o isolamento social, o cenário digital migrou para dentro das casas. E isso, devido ao home office, tempo maior livre ou mesmo entretenimento.
O fato é que muitas pessoas trabalham hoje dessa forma, e passam horas mergulhadas na era digital. No entanto, até mesmo os que usam os recursos tecnológicos como passatempo passaram a tê-lo como imprescindível no dia a dia. Os dados de um estudo feito pela Hoopsuite, em parceria com a We Are Social, ilustram este cenário.
De acordo com a pesquisa, as pessoas no Brasil passam, em média, nove horas e vinte e nove minutos por dia conectados à internet. Um índice que, ao ser delineado em dias, aponta que o brasileiro passa 145 dias inteiros, por ano, navegando na internet.
Um recurso de facilidade no dia a dia, mas que, segundo o psicólogo do Kurotel – Centro Contemporâneo de Saúde e Bem-Estar, Michael Zanchet, ao ser usado em excesso pode fazer mal.
“A tecnologia automatizou a vida, a tornou mais ágil, mas muitas pessoas se tornaram escravas e isso tem gerado um nível de ansiedade maior em decorrência do cérebro muitas vezes não ter pausas e não conseguir suportar o número de informações processadas e não processadas, e consequentemente não reter as informações.”
Sendo assim, Zanchet destaca que pequenos sinais sonoros já podem despertar sintomas de ansiedade em decorrência do uso exacerbado de telefones e internet, por exemplo.
Dessa forma, essas pessoas podem sentir uma necessidade incontrolável de estarem a todo tempo conectadas, o que pode influenciar no humor, com irritações diárias quando surgem problemas de conexão, e, também, na rotina, com dificuldades para finalizar atividades em prazos curtos de tempo
Dessa forma, essas pessoas podem sentir uma necessidade incontrolável de estarem a todo tempo conectadas, o que pode influenciar no humor, com irritações diárias quando surgem problemas de conexão, e, também, na rotina, com dificuldades para finalizar atividades em prazos curtos de tempo
“Outro problema é que muitas pessoas têm como primeira atitude, ao acordar, visualizar o celular, o que prejudica muito o organismo. Isso porque este é o momento em que cérebro está dando conta de acordar e isso faz com este já seja intoxicado por informação, o sujeito já acorda para a ‘guerra’, com o celular gritando do seu lado, visualizando mensagens e partindo para o dia sem ter a percepção de si e do autocuidado, ao deixar de realizar atividades fundamentais como o café da manhã”, explica.
Além dos sintomas mentais de ansiedade e a ausência do autocuidado, o psicólogo pontua que demais consequências podem se originar do uso excessivo de recursos eletrônicos, como sensação de incapacidade, perda do foco atencional e sensação, ao fim do dia, de que não se produziu muito, pois a atenção foi dividida entre o agora e o futuro.
“Há a sensação de improdutividade, uma sensação de incompetência, insegurança, falta de confiança, nível de ansiedade maior, estresse, tensão muscular, insônia e assim por diante. O uso exacerbado de aparelhos eletrônicos também causa dificuldade de relacionamento interpessoal e social, pois as pessoas tendem, assim, a se habituar ao mundo virtual, o que pode resultar em fobia social, síndrome do pensamento acelerado ou síndrome do pânico.”
Equilíbrio
Zanchet destaca que muitos hábitos do dia a dia podem resultar em um uso exacerbado de recursos eletrônicos, redes sociais e internet. E, por isso, pontua que o equilíbrio na rotina diária pode ser fundamental para que haja uma reconexão pessoal, a fim de que seja possível amenizar os sintomas psicológicos recorrentes deste uso indiscriminado.
“Equilíbrio é o melhor caminho. É importante usarmos a tecnologia a nosso favor, termos equilíbrio e nos desenvolvermos constantemente entre seis domínios da nossa vida: físico e mental, família, vida afetiva, profissional, financeiro e espiritual. O equilíbrio nessas seis áreas é que vai nos dar maior ou menor bem-estar, inclusive porque muitas patologias se originam do afastamento de atividades básicas, como atividades físicas e contato pessoal.”
Além disso, o psicólogo destaca que o foco atencional pode ser fundamental para que essa reconexão pessoal seja feita, denotando importância ao presente, sem que a ansiedade pelo futuro seja ativada por sinais sonoros do telefone celular, por exemplo.
“Foco atencional é exercitar a capacidade de viver o agora. O Mindfulness (atenção plena), por exemplo, ensina a desenvolver a capacidade de viver com foco no presente, em cada atividade que estamos fazendo: estou comendo, então vou vislumbrar a experiência, ver as cores do alimento, a textura, o olfato, perceber o movimento do alimento indo à boca, mastigar, sentir o gosto e perceber o prazer.”
Para o psicólogo, essa terapia pessoal pode ser fundamental para que o uso em excesso de aparelhos tecnológicos seja evitado, bem como para que os sintomas ansiosos em relação a uma mensagem recebida, por exemplo, sejam amenizados.
“É importante estabelecer prioridades, exercitar o foco naquilo que está se fazendo no momento e viver uma atividade de cada vez. Por isso, organizamos uma agenda, uma vez planejado não se ocupe mais com aquilo, deixe para viver no momento estabelecido”, diz.
“É importante estabelecer prioridades, exercitar o foco naquilo que está se fazendo no momento e viver uma atividade de cada vez. Por isso, organizamos uma agenda, uma vez planejado não se ocupe mais com aquilo, deixe para viver no momento estabelecido”, diz.
* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram