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Estado de Minas

Animais domésticos abandonados ganham novo lar

Número de cães e gatos deixados nas ruas de BH chama a atenção na pandemia, o que intensifica o trabalho de resgate desses pets


02/08/2020 04:00 - atualizado 01/08/2020 22:05

Robert Costa, um dos diretores da ONG Adote meu dog, conta que o Instagram é a forma que eles escolheram para chegar até as pessoas
Robert Costa, um dos diretores da ONG Adote meu dog, conta que o Instagram é a forma que eles escolheram para chegar até as pessoas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Consequências da crise financeira durante a pandemia ou mesmo maldade com animais indefesos. Esses são alguns dos motivos elencados como causadores e/ou incentivadores para o abandono de animais domésticos nas ruas de Belo Horizonte e de todo o estado e país. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 30 milhões de cães e gatos são abandonados no Brasil.

Ainda, segundo a entidade, estima-se que esse dado represente, na capital mineira, um abandono para cada cinco habitantes. “Um ato inconsequente, fundamentado em questões familiares e falta de informação”, na avaliação dos diretores da ONG Adote meu dog, Jonathan Braga Teixeira, de 31 anos, e Robert Costa, de 55.

“Algumas pessoas, por exemplo, foram despedidas de seus empregos nesta pandemia e manter o animal pode ser caro, pois, além de consultas com veterinário, os gastos são elevados com alimentação e todos os demais cuidados. Isso aumenta a possibilidade de deixá-los nas ruas. Muitos, inclusive, são abandonados em locais escondidos, muito pela vergonha ou medo de serem vistos cometendo tal ato”, afirmam.
 
A falta de informação, citada pelos diretores da ONG Adote meu dog, se dá em dois quesitos: no não conhecimento sobre a existência de instituições que abrigam animais sem lar e no medo de contaminação por COVID-19, fator consequente da pandemia.

“As pessoas acreditam que o bichinho vai transmitir a doença, o que não é verdade, e os abandona. E, também, por não saber que existem pessoas que acolhem e lutam pela causa dos cães e gatos, acabam deixando-os nas ruas.”

Em casos de maus-tratos, a exemplo do caso recente do pitbull Sansão – que teve as patas traseiras decepadas por facão no início de julho, em Vespasiano, na RMBH –, Jonathan Braga destaca que a entidade conta com a contribuição policial para conferir denúncias que chegam até eles e tentar proteger e salvar o animal vítima de violência.

“Todos os animaizinhos que encontramos nas ruas tentamos introduzi-los de novo na sociedade, de forma saudável e com carinho. Pegamos e tentamos achar um novo lar para eles.”

SALVAR VIDAS 


“Resgatamos cerca de 10 cães por dia. E isso todos os dias. Recebemos, também, muitas ligações de pessoas com alguns casos de urgência e/ou denúncias de maus-tratos, e tentamos ao máximo salvar essas vidas e ajudar o cão de alguma forma.

Outro caso em que ajudamos com recorrência são famílias que querem doar os pets, porque não podem mais ficar com o bichinho. Então, agimos de forma a proteger esse animal, independentemente da circunstância”, contam os diretores da ONG Adote meu dog.

Para isso, Robert Costa pontua que a primeira atitude após o resgate é conduzir o animal ao veterinário para que ele possa ser avaliado, do ponto de vista de saúde física e, também, emocional. “Geralmente, os cachorros encontrados têm algum trauma, por exemplo, de ser abandonado e de ficar na rua ou por maus-tratos. E, assim, tentamos dar o máximo de amor possível e nos aproximar dele para que o animal ele tenha, novamente, confiança em humanos.”

CUIDADOS 

A procura por uma família, que dê muito amor e carinho aos pets, tem início antes mesmo da decisão de adotar um cão ou gato. A busca começa justamente pela ONG. Jonathan Braga conta que logo após todos os cuidados médicos destinados aos cães resgatados e o procedimento de castração feitos, o processo de adoção tem início, quando esses animais são levados para um banho e tosa.
 
 
 
(foto: arquivo pessoal)
 

"Adotar é um ato de amor recíproco, 
pois o animal ama muito e se mostra sempre muito grato. E, se cada um de nós, mesmo quem não puder dar um lar para esses pets, doasse e ajudasse de alguma forma as ONGs, seria ótimo  ia colaborar muito com o trabalho


Fátima Angeline de Oliveira, 
de 61 anos, pediatra, que adotou Lua, cadelinha de 3 anos
 
“Com o banho, arrumamos o novo amiguinho de uma família, tiramos uma foto e postamos em nosso Instagram (@adotemeudog), pois essa é a nossa forma de chegar até as pessoas. E quando divulgamos que há um novo bichinho para ser adotado, colocamos na legenda todas as informações importantes sobre esse pet para que um adotante se apaixone.”

E foi justamente assim, por meio das redes sociais, que a pediatra Fátima Angeline de Oliveira, de 61 anos, encontrou Lua, sua cadelinha, de quase 3 anos. “Entrei no site de um instituto, vi a Lua e me apaixonei. Tinha que ser ela, a minha Luazinha. Eu a amo de paixão, me afeiçoei muito, porque ela é uma cachorra muito carente. Tê-la por perto é muito bom, como ter as minhas outras companhias de quatro patas também.”

Mas o processo de adoção não consiste em apenas curtir a foto do cão ou gato e entrar em contato requisitando a ação. Isso porque, segundo Jonathan Braga e Robert Costa, ao adotar o animal, o tutor leva consigo a responsabilidade de criá-lo e, portanto, todos os cuidados são tomados antes de entregar o pet para um lar.

“Quando recebemos o pedido de adoção, fazemos algumas perguntas, levamos o animal até o ambiente para ver se ele vai se acostumar e se terá a atenção devida, e verificamos se a pessoa preenche os requisitos e exigências para cuidar do animal. É importante adotar e proporcionar um lar para esses animais, mas sabendo que há uma responsabilidade de cuidar, alimentar e dar carinho.”

Robert Costa destaca, ainda, que apesar de os atos de adoção serem constantes e, em muitos casos, demorar poucos dias, muito animais ficam sem lar por um período longo de tempo.

Nestes casos, um dos diretores da ONG Adote meu dog pontua que até o momento da adoção se concretizar, todos os cães e gatos, resgatados pela instituição, ficam em lares temporários, sem taxa a ser cobrada.

“Infelizmente, por causa disso e, também, por questão de recursos, conseguimos acolher poucos pets, porque não recebemos nenhuma doação, é apenas o nosso amor mesmo. Então, justamente por isso, a nossa intenção é, em um futuro próximo, poder contar com alguma ajuda para aumentar nosso espaço, para assim poder salvar mais vidas.”

Para Fátima, é devido a essas dificuldades encontradas pelas ONGs que mais pessoas deveriam ajudar e colaborar com a proteção animal. “Adotar é um ato de amor recíproco, pois o animal ama muito e se mostra sempre muito grato. E, se cada um de nós, mesmo quem não puder dar um lar para esses pets, doasse e ajudasse de alguma forma as ONGs, seria ótimo e ia colaborar muito com o trabalho feito por eles”, declara.

   
 
Arley Fulco, presidente do Instituto Anhangá, destaca que é importante as pessoas se conscientizarem da responsabilidade em torno da adoção
Arley Fulco, presidente do Instituto Anhangá, destaca que é importante as pessoas se conscientizarem da responsabilidade em torno da adoção (foto: Arquivo pessoal)
 

Um ato de amor



“Adoção salva vidas, porque, muitas vezes, esses animais estavam em situações deploráveis nas ruas e sofrendo diversos traumas. Então, essa é a segunda chance que este cão ou gato vai ter. Além disso, esses pets também salvam vidas. Muitos adotantes relatam como a presença desses bichinhos faz bem e o quanto a vida melhora com a companhia deles”, diz Deise Ázara, de 36 anos, responsável pela adoção de animais domésticos no Instituto Anhangá, ao comentar a importância de dar um novo lar aos animais resgatados.

E foi justamente um novo lar que uma das cadelas resgatadas pelo Instituto ganhou e que recebe, agora, muito amor. Adotada pela família da psicóloga Simone Assunção Mota, de 49, Lara, de 2 anos, está há apenas seis meses na nova casa e já demostrou muito companheirismo e, também, gratidão.

“Ela é minha amiga de quatro patas e uma grande companheira. Lara é muito dócil, carinhosa e brincalhona, me acompanha pela casa, me enche de carinho e adora brincar. O amor de um cão é muito genuíno, verdadeiro, não pede nada em troca e demonstra gratidão por estarmos por perto”, afirma Simone.
 
 
A psicóloga Simone Assunção Mota, de 49 anos, e o filho, Henrique, de 19, adotaram os cães Lara e Chokito
A psicóloga Simone Assunção Mota, de 49 anos, e o filho, Henrique, de 19, adotaram os cães Lara e Chokito (foto: Arquivo pessoal)
 
A adoção de Lara foi, de fato, um verdadeiro ato de amor e proteção animal, já que, conforme a psicóloga, a ideia inicial de oferecer sua casa como lar para um pet foi ao tomar conhecimento do elevado número de cães e gatos abandonados ou resgatados das ruas. “Eu adoro cachorros, e quando vi a foto da Lara nas redes sociais do Instituto (@institutoanhanga), me encantei e a quis conosco. Me sinto muito feliz por ter ajudado um cão que precisava de um lar e recebo amor em dobro da Lara.”

Mais que salvar uma vida, Simone proporcionou também mais alegria à sua casa e ao seu outro companheiro, Chokito, adotado há cerca de seis anos. “Eles se dão muito bem. E Chokito parece até mais feliz depois da chegada da Lara.”


DIFICULDADE 


Arley Fulco, presidente do Instituto Anhangá, pontua que o desejo é resgatar e encontrar um lar para a maior quantidade de cães e gatos possível. No entanto, o trabalho é dificultado pela falta de famílias dispostas a proporcionar uma vida melhor para esses animais. Por isso, Fulco destaca que é importante que as pessoas se conscientizem sobre esse ato, sabendo que há, também, uma responsabilidade em torno da adoção.

“Cada cão ou gato adotado é uma oportunidade para resgatarmos outro. E isso salva vidas mesmo, porque enquanto o animal está nas ruas ele está sujeito a acidentes e maus-tratos, que podem levá-lo à morte. E hoje, devido à lotação do instituto, não conseguimos mais resgatar. Temos quase 300 animais para adoção. Mas também sabemos que não adianta apenas adotar e, sendo assim, fazemos de tudo para que este animal seja direcionado para uma família que irá cuidar e dar amor a esse pet”, afirma.

Neste contexto, Deise Ázara ressalta que é preciso que o adotante analise sua condição para adotar, pois, segundo ela, muitas pessoas adotam pela emoção do momento, o que pode culminar em mais abandonos futuramente. “O animal pode ser, sim, uma companhia, mas é preciso que o tutor se atente aos cuidados também, pois terá gastos e o cuidado demanda tempo. É preciso educar esse animal, dar atenção e carinho. É uma vida que precisa de nós.”

Portanto, a voluntária do instituto pondera que, ao adotar, as pessoas reflitam sobre o futuro desse cão ou gato e, também, os próprios projetos. Isso porque, além de caber no orçamento, este pet precisará também fazer parte da vida do tutor e de seus planos, para que não seja novamente abandonado, o que pode ser enquadrado como crime dentro da Constituição Federal.

Adoção é coisa séria e demanda responsabilidade. Existem casos de pessoas que pegam um cão ou gato e depois desistem de cuidar, maltratam ou abandonam. Animal não é coisa. Demanda cuidado, atenção, paciência, levar pra passear, limpar as sujeiras, tratar em caso de doença, não pode ficar sozinho quando viajamos, entre outras coisas.

"Por isso, não se deve adotar por impulso, sem pensar se realmente está disposto a ficar com o animal durante toda a vida dele, cuidando com muito zelo”, comenta Simone.
 
 
 
 
ANTES E DEPOIS 

Deise conta que, tendo em vista a responsabilidade também do instituto, todas as adoções são acompanhadas de perto pelos voluntários e responsáveis pela entidade, com visitas ao novo lar e contatos frequentes com os adotantes, a fim de saber se o animal está sendo bem cuidado e se adaptando à nova casa e família.

“Costumamos também fazer fotos do antes e depois destes animais, quando foram resgatados e o atualmente, para mostrar em nossa página mais uma vida que foi salva. E é muito bacana poder dar essa segunda chance para eles e ver o vínculo lindo que os pets criam com seus adotantes. Gostamos de ver que eles estão sendo bem cuidados e amados.”
 
 
 
 
QUARENTENA  

“Temos uma série de exigências e nem toda procura acaba em adoção, até porque é muito importante que a pessoa entenda o compromisso que está fazendo. Ter um gato é um compromisso de muitos anos e algo que precisa ser muito pensado. E desde o início do isolamento social, com o aumento da procura por adoções, assumimos uma postura mais atenta, tentando mostrar que adotar não pode ser uma saída fácil para o tédio da quarentena, pois esse período vai acabar, e o gato continuará a precisar de cuidados”, afirma Miriene Fernanda Lorenzi, uma das responsáveis pela Gato Uai.

Ainda, segundo Miriene, adotar animais domésticos é um ato de amor em forma de lar, e que zelar por eles é uma responsabilidade a ser dividida por todos. “Aos poucos, devido ao trabalho de conscientização de abrigos e protetores, o preconceito contra gatos está diminuindo. Os felinos são extremamente companheiros e conviver com eles é algo muito especial.”

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram








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