Não há nada de errado em ser vaidoso, gostar de se cuidar, querer ter um corpo que julga bonito e ideal para você, uma pele digna de elogios, preocupar-se com a estética. O grande erro, que se transforma em risco à saúde, é usar de maneira inapropriada medicações de caráter clínico para buscar um ideal de beleza. Neste mundo de viralizações e notícias distorcidas, a cada temporada nasce uma solução milagrosa para entrega de uma silhueta admirada por grande parte da sociedade. A da vez é o uso do implante hormonal como mais uma arma para alcançar ganhos estéticos, o chamado “chip da beleza”.
O médico clínico e cardiologista Juliano Burckhardt alerta que o implante hormonal, erroneamente chamado de “chip da beleza” a partir do momento em que uma celebridade saiu na capa de uma revista de grande circulação nacional com essa chamada, é algo totalmente controverso. “Ele nada mais é do que uma das vias da administração de hormônios ou outras substâncias. Existe a via oral, sublingual, parenteral, que pode ser endovenosa e intramuscular, e a via subcutânea, na qual o pellet é colocado no tecido celular subcutâneo, ou seja, na gordura que fica entre a pele e o músculo. Não gosto e não uso esse termo, chip.”
"O problema não é o procedimento do implante em si, mas ele tem de ter indicação e ser personalizado”
Juliano Burckhardt,
médico clínico e cardiologistan O que levar em conta
Mas não há como negar, afirma Juliano Burckhardt, que ao estudar o hormônio gestrinona constata-se que ele tem efeito anabólico. Ou seja, melhora a composição corporal, massa muscular, tônus da pele, assim como os sintomas da TPM e a libido. “Há mulheres que sofrem muito com a TPM, chegam a não ter vida. Como a gestrinona tem efeito anabólico e contraceptivo, porque bloqueia a ovulação, ela não vai menstruar, a mulher acaba alcançando os demais efeitos positivos. Daí criou-se a propaganda do 'chip milagroso'. Mas não é assim”, alerta.
Juliano Burckhardt explica que o implante hormonal precisa ter indicação clínica e médica. Não é indicado, simplesmente, para quem deseja ou tem apenas um objetivo estético. “O problema não é o procedimento do implante em si, mas ele tem de ter indicação e ser personalizado. O médico faz a dosagem dos hormônios ou substância que o paciente precisa com base no peso, na composição corporal e em muitos fatores.”
ESTUDOS
Conforme Juliano Burckhardt, o implante hormonal começou a ser estudado há quatro décadas e há mais de 20 anos está solidificado no mercado. Ele explica que, antigamente, era feita a reposição hormonal. “Toda mulher que entrava na menopausa recebia hormônio, a chamada terapia de reposição hormonal (TRH). Em 2000, o advento de um estudo americano do National Institute of Health, com milhares de mulheres, mostrou que a terapia com número de mulheres em massa trazia mais malefício do que benefício, principalmente com o aumento do risco de doença cardiovascular e trombose. Então, foi proscrito a terapia em massa, mas há de se considerar que era um hormônio bruto.”
Segundo ele, com o avanço dos estudos, não se faz mais essa reposição em massa. O que se faz hoje é a modulação ou otimização hormonal. É feita uma avaliação e se a mulher ou o homem tiver indicação, a reposição é feita para o equilíbrio baseado nas características clínicas e quadro laboratorial. Juliano Burckhardt enfatiza que em toda e qualquer terapia existe diferença grande entre o antídoto e o veneno, que é a dose. Principalmente na mulher na qual a questão hormonal exige diversos cuidados, ser consciente na prescrição e começar aos poucos, com doses mínimas e ver a resposta.
“A fisiologia hormonal feminina é mais complexa do que a do homem. Não pode ser de forma indiscriminada. É preciso olhar o histórico clínico completo e antecedentes familiares. Em dose individualizada e adequada, são raros os efeitos colaterais, como acne, oleosidade, discreta perda de cabelo, por exemplo, que ocorrem nos primeiros dias e estabilizam na segunda semana do implante.”
TÔNUS MUSCULAR
O médico reconhece que o hormônio gestrinona, presente no implante, promove um estímulo na cascata dos hormônios sexuais, a mulher tem melhora na composição corporal, no tônus de massa muscular, qualidade de pele, cabelo e unha. E, de fato, há também melhora da libido, principalmente naquelas menopausadas, que vão se sentir mais dispostas para a vida em si, no o dia a dia e na questão sexual.“Muitas mulheres na menopausa vão se sentir indispostas, sem estímulo, já que o hormônio é o combustível para isso, e, assim, têm dificuldade de lubrificação, o sexo passa a não ser prazeroso, mas desconfortável, e gera sofrimento, não atinge o orgasmo devido a fatores fisiológicos, endócrinos e psicológicos. Sem falar que, depois dos 50 anos, ela tem de três a cinco infecções urinárias no ano.”
O procedimento para o implante é ambulatorial, com um anestésico e microincisão de no máximo cinco milímetros, por onde é introduzida uma cânula de três a cinco milímetros. Juliano Burckhardt conta que o pellet com hormônio não é vendido em farmácia, nem mesmo de manipulação. Há fabricantes específicos na indústria brasileira, sendo uma delas pioneira no mundo, de um ginecologista e obstetra baiano. Há os pellets absorvíveis – você só vai se preocupar depois de seis meses –, e os inabsorvíveis, retirando-se depois de um ano a estrutura de silicone onde ficam os ativos.
O uso de implante hormonal tem...
» Melhora a libido sexual
» Diminui a TPM e as cólicas menstruais
» Melhora aparência da pele, cabelo e unha
» Reduz gordura localizada
» Aumenta a massa muscular
» Ação anticoncepcional
Mas se usada de forma indiscriminada pode provocar...
» Ganho de peso
» Desenvolvimento de pelos em excesso
» Aumento da oleosidade na pele e acne
» queda de cabelo
» Risco de câncer