Casais que buscam uma gestação e não usam métodos contraceptivos têm 20% de chances a cada tentativa, segundo especialistas em reprodução. Contudo, após um ano de tentativas sem êxito, é necessário consultar profissionais especializados da área para obter um diagnóstico correto e encaminhamento a tratamento adequado. No caso de mulheres com idade acima de 35 anos, a orientação é que a ajuda médica seja solicitada após seis meses de tentativas.
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Pessoas com problemas para ter filhos recorrem cada vez mais à reprodução assistidaO que fazer para se proteger e prevenir gravidez indesejadaDescoberta de uma gravidez em meio ao tratamento contra o câncer provoca sensações intensasInfertilidade, o que fazer?Parto prematuro: uma chance para a vidaGravidez múltipla: mulher esperava 7, mas dá à luz 9 filhos no MarrocosGravidez e câncer de colo de útero, e agora?A busca por ajuda na internet, como site de pesquisas, blogs e grupos de mulheres inférteis nas redes sociais, suscitou uma onda de automedicação para estimulação ovariana. O ginecologista, especialista em reprodução assistida e sócio-diretor da Clínica Vilara, Marco Melo, explica que é uma realidade cada vez mais alarmante, acarretando uma série de efeitos indesejados, desde a produção de cistos à gestação múltipla. "Dos impactos da automedicação para estímulo ovariano, é possível citar os ciclos menstruais irregulares, a formação de cistos, efeitos colaterais diversos - alterações do humor, inchaço nos ovários, dor abdominal e nos seios, insônia, enjoos, vômitos, visão embaçada, dores de cabeça, cansaço, irritabilidade, depressão e ganho de peso - e, ainda, uma gravidez gemelar (de gêmeos) e hiperestímulo ovariano", alerta Melo.
O médico alerta que o uso de medicamentos sem necessidade compromete a saúde e não garante uma gestação. "Quem usa indutor para ovulação se submete aos efeitos colaterais já citados e, não necessariamente, trata a causa da infertilidade. Como bem sabemos, são múltiplos os fatores que podem acarretar a infertilidade e se for uma baixa concentração espermática ou problemas de trompa, por exemplo, a automedicação não resolve o problema, mas gera outros que também precisarão ser tratados. A recomendação é recorrer ao especialista, que saberá como conduzir a investigação da causa e o tratamento."
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que de 50 milhões a 80 milhões de pessoas são inférteis no mundo, enquanto no Brasil a taxa pode chegar a 8 milhões. A estimativa da OMS é que 35% das causas de infertilidade estão relacionados à mulher, 35% ao homem, 20% dos casos estão ligados a ambos e 10% não possui causa definida.
O tratamento de reprodução assistida nem sempre é acessível para grande parte da população. Entretanto, as pessoas carentes podem recorrer ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou a programas de responsabilidade social para tratamento.
Em 2005, por meio da portaria 426/GM, o Ministério da Saúde criou, no âmbito do SUS a Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida, consideando que a assistência em planejamento familiar deve incluir a oferta de todos os métodos e técnicas para a concepção e a anticoncepção, de acordo com o parágrafo 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, além de que as técnicas de reprodução humana assistida contribuem para a diminuição da transmissão vertical ou horizontal de doenças infecto-contagiosas, genéticas, entre outras.
Há nove anos, a Clínica Vilara participa do programa de responsabilidade social do Hospital Vila da Serra "Vila Social", ajudando casais carentes. A proposta é democratizar o acesso à reprodução assistida à casais com problemas de infertilidade e dificuldade em custearem o tratamento. "Decidimos participar por saber que o sofrimento não escolhe classe social e, às vezes, dói mais quando não se tem condições para gerar um filho. Queremos auxiliar o maior número de casais possível a chegar à gravidez", afirma.
O casal interessado em participar do programa deve apresentar o diagnóstico de infertilidade com necessidade de realização de tratamento de reprodução assistida, sem limite de idade. Os casais serão avaliados pela equipe médica para confirmação diagnóstica e análise do tratamento mais adequado. Eles passarão por avaliação da assistência social e do departamento administrativo do hospital para confirmação da inclusão do casal no Programa de Responsabilidade Social, sob o ponto de vista financeiro.
A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) informou que a Rede SUS-BH conta com tratamentos voltados para infertilidade e para métodos de fertilização. Os pacientes, geralmente o casal, procuram o centro de saúde que encaminha o tratamento para o médico especialista em Ginecologia/Reprodução Humana, na Unidade de Referência Secundária (URS) Sagrada Família.
Se for constatada a necessidade de tratamento para infertilidade tanto no homem como na mulher, há encaminhamento para uma das unidades que oferecem a especialidade no SUS-BH: Centro Metropolitano de Especialidades Médicas, Faculdade de Ciências Médicas, Hospital Júlia Kubitscheck e Hospital Odilon Behrens.
Se necessária a fertilização in vitro ou outro método mais complexo para reprodução assistida, o tratamento é encaminhado ao Hospital das Clínicas da UFMG.
Quando é descartada a necessidade destes dois tipos de tratamento a indicação é para ações de planejamento familiar no Centro de Saúde.
Com atividades iniciadas em setembro de 2005, a URS Sagrada Família realiza, em média 1.400 atendimentos por ano na área de reprodução assistida.