Um dos sintomas e sequelas mais clássicos da infecção por COVID-19, doença causada pelo vírus Sars-Cov-2, é a perda de olfato, ou seja, a privação de sentir cheiros e aromas. Porém, segundo especialistas, o uso de uma técnica, a chamada fisioterapia olfativa, pode contribuir para que o sentido seja recobrado.
O método, que já obteve sucesso na recuperação da perda de olfato oriunda de contaminações virais, traumas e/ou envelhecimento, também apresentou resultados positivos em casos relacionados ao novo coronavírus.
O método, que já obteve sucesso na recuperação da perda de olfato oriunda de contaminações virais, traumas e/ou envelhecimento, também apresentou resultados positivos em casos relacionados ao novo coronavírus.
“Foi justamente por isso – os resultados promissores em outros tratamentos – que este procedimento foi aplicado à COVID-19. Mas como é feito este tratamento? Ele consiste basicamente na inalação de quatro odores de categorias diferentes: rosa, limão, cravo e eucalipto, que são vendidos em forma de óleo essencial. E, a partir disso, o paciente deve cheira-los, resgatando na memória os aspectos daquele odor e as sensações que ele provoca”, explica a otorrinolaringologista Brunna Paulino Maldini Penna.
Brunna pontua, também, a necessidade de que uma hora adequada do dia seja escolhida para que o método seja feito de forma correta. Segundo a especialista, é importante que a inalação seja feita em um momento tranquilo para que, assim, o paciente mantenha-se focado na experiência de recuperação do sentido olfativo.
Quanto a eficiência do tratamento, a otorrinolaringologista explica como o exercício de fisioterapia olfativa funciona no organismo humano: “Na parte superior do nariz, chamada de área olfatória, estão as primeiras células que captam as informações, os neurônios receptores olfativos. Dessa região, a informação do olfato vai para o cérebro por meio de uma estrutura chamada bulbo olfatório. Em seguida, a informação segue para o cérebro.”
“Acredita-se que o treinamento olfativo serviria, então, como um possível reativador das conexões neuronais que foram comprometidas pelo dano celular causados pelo vírus. Além das mudanças no nível da célula, essa estimulação pode estar relacionada com mudanças no nível do bulbo olfatório e na estrutura cerebral, resgatando a ‘memória’ do olfato”, completa.
Adaptação caseira
Em função da pandemia, houve, segundo Brunna, uma adaptação do método para que este fosse feito em casa e com produtos que estejam a sua disposição.
“O paciente coloca, em pequenos potes de 30ml, os seguintes produtos: café, cravo, mel, essência de baunilha, suco de tangerina concentrado, pasta de dente sabor menta e vinagre de uva. E, então, ele cheira uma pequena porção de cada um dos produtos, pelo menos duas vezes ao dia, por 10 segundos, com intervalos de 15 segundos entre eles. Esse processo deve ser repetido por cerca de três meses, podendo se estender por mais tempo, se necessário”, diz.
"O treinamento olfativo é um método simples, prático, seguro e não invasivo para pacientes com perda de olfato. Os cuidados são basicamente os de se atentar para não colocar o óleo essencial direto no nariz, pois pode ser irritante para a pele, e evitar odores que possam irritar o nariz como produtos químicos - amônia, álcool, gasolina, entre outros, por exemplo"
Brunna Paulino Maldini Penna, otorrinolaringologista
Além da estimulação do olfato, o otorrinolaringologista Alexandre Rattes recomenda a lavagem do órgão – nariz – com soro fisiológico. O método deve ser repetido, segundo Alexandre, por muitas vezes ao longo dia.
No entanto, apesar da praticidade e segurança em se fazer o procedimento em casa, Brunna afirma ser importante que uma assistência médica seja buscada durante o período da experiência, a fim de que haja um acompanhamento ambulatorial da evolução do quadro. E isso após as duas ou três primeiras semanas de tratamento.
“Vale ressaltar que não indicamos que os pacientes façam uso de nenhum tipo de medicamento fitoterápico como forma de aguçar o olfato. Ou seja, não recomendamos que sejam usadas buchinhas, rapés ou chás com a intenção de recuperar o sentido”, pontua Alexandre.
Mitos e verdades
O treinamento olfativo pode ser usado por pacientes contaminados pelo vírus como prevenção do sintoma? Não, segundo os especialistas, principalmente devido ao fato de esta ser uma doença relativamente nova, não se há comprovações científicas de que a anosmia – perda olfativa – possa ser evitada por meio do estímulo do sentido.
Qualquer pessoa pode fazer o uso deste método para recuperar o olfato? Sim. “O treinamento olfativo é um método simples, prático, seguro e não invasivo para pacientes com perda de olfato. Os cuidados são basicamente os de se atentar para não colocar o óleo essencial direto no nariz, pois pode ser irritante para a pele, e evitar odores que possam irritar o nariz como produtos químicos – amônia, álcool, gasolina, entre outros, por exemplo”, explica Brunna.
É necessário esperar que a sequela se instale para tratá-la? Mito. Segundo Bruna e Alexandre, o momento ideal para dar início ao método de estimulação do olfato com cheiros e aromas é quando o sintoma de perda de olfato for percebido. Ou seja, o quanto antes o tratamento for inserido, melhor.
A recuperação é duradoura? De acordo com Brunna, ainda não se pode dar como certeza a reabilitação do sentido de forma permanente, já que há pouco tempo de experiência em torno de tal método. “Porém, estudos sugerem que esse treinamento olfativo dure por pelo menos três meses”, diz.
Ponto de atenção
Os especialistas frisam, ainda, dois aspectos importantes sobre a perda de olfato. O primeiro deles diz respeito ao fato de o sintoma indicar uma contaminação por COVID-19 ou outra doença. Por isso, Alexandre ressalta: “Se ela ocorrer, não deixe de procurar um médico”, afirma.
Já Brunna chama atenção para a importância de se manter o cuidado com pacientes com anosmia, principalmente no que tange a exposição a gases tóxicos. E isso porque, segundo a especialista, sem o olfato, o chamado “sinal de alerta” é perdido, o que pode ser perigoso, haja vista que sinais de risco podem não ser perceptíveis.
“É preciso também não esquecer de verificar as datas de validade e dar atenção aos alimentos que podem estar vencidos. E, por fim, tranquilizar os pacientes quanto a grande possibilidade de recuperação desses quadros, que também podem afetar o paladar e causar grande impacto na qualidade de vida como um todo.”
*Estagiária sob supervisão do subeditor Daniel Seabra