Cerca de 66 mil novos casos de câncer de mama entre mulheres são esperados neste ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Não há estimativa da incidência entre homens. Dados do Instituto Oncoguia indicam que uma a cada mil pessoas do sexo masculino são acometidas por essa forma de manifestação da doença. Segundo informações disponibilizadas pelo Inca, só em 2018 foram registrados 17.763 óbitos em consequência do câncer de mama no país, dos quais 189 acometeram homens.
Leia Mais
Recobrando a autoestima: mulheres mastectomizadas ganham prótese de aréola/mamilo Epidemia de câncer em estágio avançado pode ser realidade pós-pandemia SBM promove evento on-line sobre prevenção de câncer de mamaConheça os mitos e verdades sobre a síndrome de Asia e a doença do siliconeHipofracionamento otimiza tratamento de câncer de mama; entendaOutubro Rosa Pet alerta para câncer de mama em gatas e cadelasMulheres mastectomizadas ganham próteses para reconstrução mamáriaReconstrução da aréola mamária restaura autoestima após o câncerPor isso, a presidente da regional mineira da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM-MG), Annamaria Massahud, destaca a importância de que o rastreamento e o diagnóstico da doença sejam feitos o quanto antes, a fim de otimizar as chances de tratamento e cura. “A cura do câncer de mama depende do estágio da doença ao ser tratada, das características das células neoplásicas malignas (células do câncer) e da resposta individual do paciente contra a doença”, diz.
Porém, a especialista observa que, com a descoberta de medicamentos mais eficazes contra a doença, o acesso a essas drogas também passa a interferir na chance de cura, apresentando dados promissores. “Nos estágios precoces, com doença localizada na mama, a chance de cura é próxima de 99% em cinco anos, e quando a doença está presente nos linfonodos axilares essa chance reduz para 85%. Entretanto, na doença metastática, essa probabilidade cai para cerca de 30%.”
São alertas essenciais neste mês, que contempla a campanha Outubro Rosa, movimento internacional de conscientização sobre o controle dos cânceres de mama e de colo do útero. A falta de informação sobre a doença e as dificuldades de acesso das mulheres aos métodos diagnósticos e ao tratamento adequado e oportuno resultam na chegada das pacientes aos consultórios com estágios mais avançados do câncer. Isso leva à piora do prognóstico. Por isso, as chances de cura dependem direta e indiretamente de conscientização e cuidado.
“Exame de rastreamento é aquele usado para pessoas sem sintomas. Ele deve ser sensível o suficiente para detectar a lesão antes de apresentar-se clinicamente e determinar um tratamento precoce que demonstre ser mais eficiente do que após a doença já estar demonstrando sinais e sintomas”, explica Annamaria Massahud. A mamografia é considerada o exame ideal para o rastreamento do câncer de mama.
O exame impacta na redução da mortalidade e na morbidade, ou seja, as mulheres sem sintomas que fazem a mamografia têm menores chances de morrer de câncer de mama e, também, maiores possibilidades de ter um tratamento menos agressivo e se recuperar melhor. “O rastreamento mamográfico reduz a mortalidade por câncer de mama em 15%. O risco de câncer induzido pela radiação da mamografia é mínimo, muito menor do que os benefícios que o exame confere para a coletividade”, pontua a presidente do SBM-MG.
A periodicidade padrão, segundo a especialista, é anual entre os 40 e os 74 anos. A partir dos 75, esse exame deve ser reservado àquelas pessoas com expectativa de vida superior a sete anos. Para mulheres com alto risco de câncer hereditário, que foram submetidas à radioterapia torácica antes dos 30 anos ou têm somatória de risco de câncer de mama maior que 20%, o início desse rastreamento deve ocorrer mais cedo: entre os 25 e os 30 anos.
O rastreamento de câncer de colo de útero é feito anualmente, por meio do exame Papanicolau, que embora não seja o ideal para diagnosticar a doença, é feito como forma de prevenção. Ou seja, em caso de anormalidade, demais exames deverão ser realizados para determinar a presença de um câncer ou uma lesão pré-cancerígena. Esses exames incluem a colposcopia, raspagem endocervical e biópsias.
O que interfere?
O consumo de álcool é o fator relacionado ao estilo de vida mais consistentemente associado ao aumento do risco de surgimento do câncer de mama. “Pode elevar os níveis de estrogênio por meio de vários mecanismos biológicos, inclusive por promover a atividade da enzima aromatase, que converte androgênios em estrogênios nos tecidos periféricos, o que, por sua vez, pode aumentar o risco de câncer de mama, particularmente para cânceres dependentes de hormônio”, explica Annamaria Massahud.
Contudo, outros hábitos influenciam no aparecimento da doença, como o sedentarismo e o tipo de alimentação. Segundo a presidente da SBM-MG, a estimativa é de que alimentação, nutrição e atividade física proporcionem, juntas, redução de 30% do risco de desenvolvimento do câncer de mama.
“A prevenção do câncer de mama de forma não invasiva ou farmacológica pode e deve ser realizada por meio da adoção de hábitos saudáveis, como praticar atividade física, alimentar-se de forma saudável, com menor teor de gordura na dieta e maior ingestão de frutas e vegetais, manter o peso adequado, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e, também, o tabagismo”, afirma. Essas práticas não só promovem o bem-estar, como melhoram o metabolismo de alguns hormônios relacionados com o câncer de mama, o que pode evitar e até melhorar o quadro de uma paciente com a doença.
Outras ações também podem ser tomadas para se reduzir o risco de contrair esses tipos de câncer. Entre elas estão prolongar a amamentação dos filhos e evitar o uso de hormônios sintéticos, como os dos anticoncepcionais e de terapias hormonais da menopausa.
Autoexame
O autoexame é recomendado como autoconhecimento e não mais como instrução formal para reduzir a ansiedade da mulher que, ao palpar alterações usuais das mamas, pode imaginar que sejam anomalias ou câncer. No entanto, no Brasil, onde 70% dos casos têm diagnóstico em estágio avançado, o autoconhecimento e a informação sobre a doença podem fazer com que esse percentual se reduza. Por isso, não use a palpação das mamas como forma de autoexame, mas sim como autoconhecimento, sem técnicas pré-estabelecidas.
ATENÇÃO AOS SINAIS
Procure um médico em caso de apresentar algum desses sintomas:
» Dor pélvica ou pressão abaixo do umbigo
» Inchaço abdominal e flatulência
» Dores intensas e persistentes na parte inferior das costas
» Sangramento vaginal anormal
» Febre com duração superior a 7 dias
» Dores de estômago ou alterações intestinais
» Perda de peso equivalente a 10 quilos ou mais, sem que esteja fazendo dieta
» Anormalidades na vulva e na vagina, como feridas, bolhas ou alteração de cor
» Alterações na mama, como dor, secreção, nódulos, vermelhidão ou inchaço
» Fadiga, que, embora seja comum em diversas outras doenças, pode ser mais frequente nos casos de câncer em estágio avançado
Fonte: Oncoguia
Uma experiência de força e amor
Márcia Maria Rangel, de 46 anos, recebeu em 2015 o diagnóstico de câncer de mama, por meio da mamografia. Posteriormente, a doença foi confirmada em biópsia, ainda no estágio inicial, o que propiciou, nas palavras de Márcia, ação muito rápida, com a retirada parcial da mama esquerda e o prosseguimento do tratamento com quimioterapia, radioterapia e medicação oral. Hoje, curada, a dona de casa relembra os momentos desafiadores que passou durante o processo de enfrentamento da doença.
“Encarei tudo com muita fé e coragem, na certeza de que aquilo ali era um momento difícil, e que tudo iria voltar à harmonia. E essa fé na vida e em Deus foi determinante, porque, assim, tive certeza de que não estava só.” O apoio da família – marido, filhos e mãe – e dos amigos também foi crucial para Márcia.
Ela considera que viveu, com eles uma experiência de força e amor. “Durante os nove meses em que fiquei em tratamento contínuo, foram eles que ajudaram a me manter firme, fazendo o que gosto, curtindo a vida e sendo feliz”. Márcia afirma ter encarado a fase mais difícil da vida da melhor maneira possível e com serenidade.
Neste Outubro Rosa, para conscientizar as pessoas sobre a prevenção do câncer de mama e de colo de útero, a Sociedade Brasileira de Mastologia criou a campanha “Quanto antes melhor”, que visa reforçar o autocuidado. O enfoque na prevenção destaca a importância de atividades físicas e hábitos de vida saudáveis, além de enfatizar o diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e o que pode ser feito para evitar sequelas da doença e de seu controle.
“É uma campanha de valorização da vida. Para ela, convidamos todos, seja de forma virtual, por meio de amigos e influenciadores digitais, seja presencial, pelos amigos e parentes, a incentivar cada um de seus pares a se cuidar”, diz Annamaria Massahud. A proposta é disseminar conhecimento e incentivar a atenção com o cuidado das mamas e do colo de útero, sem medo. “Quanto antes houver um cuidado maior com a saúde, melhor será o benefício.”
*Estagiária sob supervisão da subeditora Marta Vieira