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Estado de Minas Saúde

Com estoques de sangue em baixa, autotransfusão surge como alternativa

Quantidades críticas de sangue nos estoques e receio pela infecção por COVID-19 ou outras doenças infectocontagiosas são alguns dos motivos para a utilização da técnica. Entenda


22/10/2020 15:59 - atualizado 22/10/2020 17:37

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

De acordo com os dados divulgados pela Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Minas Gerais, o conhecido Hemominas, os estoques de banco de sangue do Estado se encontram em baixa. Dos seis tipos sanguíneos disponíveis, quatro se encontram em estado de alerta, dois em estado crítico e apenas outros dois em estabilidade e/ou quantidade adequada. Justamente por isso, a autotransfusão de sangue surge como alternativa neste cenário. 

Mas o que é a autotransfusão? Segundo Sergio Domingos Vieira, vice-presidente médico do grupo GSH e médico responsável pelo serviço transfusional do Hospital do Coração (HCor), trata-se de uma transfusão de sangue realizada com o sangue colhido do próprio paciente. Na técnica, também chamada de transfusão autóloga, o paciente se torna o “receptor” de seu próprio sangue. 

Para que isso ocorra, o sangue precisa ser guardado e filtrado. “No caso das cirurgias eletivas – não emergenciais –, o paciente estando em boas condições de saúde, ele pode doar o próprio sangue semanas antes para que ele fique armazenado e, então, possa ser transfundido durante a cirurgia, se houver a necessidade. É o que chamamos de doação pré-depósito.” 

Porém, segundo o especialista, na maioria das vezes, não há tempo suficiente para que esse sangue seja colhido e “guardado”. Além disso, o paciente pode não ter condições clínicas para doar. Deste modo, o sangue perdido durante a cirurgia passa a ser a solução

“O paciente pode perder muito sangue durante as cirurgias de médio e grande porte, o que normalmente é aspirado para um frasco de vidro e depois descartado no lixo hospitalar. Em muitos casos, é necessário fazer a reposição desse sangue, pois o paciente está anêmico e isso se faz, na maioria dos casos, com as unidades de concentrados de glóbulos vermelhos, as conhecidas hemácias, de doadores voluntários de sangue. No entanto, atualmente, podemos usar esse sangue, antes descartado, para devolvê-lo ao paciente, no que chamamos de autotransfusão”, explica. 
 

"O sangue do paciente no processo de autotransfusão é processado e reinfundido, evitando qualquer infecção que possa não ter sido detectada nos testes e triagem dos doadores de sangue. Portanto, essa é uma técnica segura não só para casos de perda de sangue, risco de infecção ou queda dos estoques, como sempre. Ainda, tem-se um custo-benefício muito melhor, sem contar que a utilização de sangue doado pode, eventualmente, causar várias complicações, como problemas pulmonares e renais, e a recuperação do paciente com a autotransfusão é melhor e mais rápida"

Walter Gomes, professor titular de cirurgia cardiovascular da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV)

 

Mas o processo não é simples assim. Conforme descrito por Sergio, quando o sangue é retirado do paciente, ele se encontra em estado anticoagulante, sendo, então, encaminhado para uma máquina – processadora celular automatizada de sangue (XTRA) – que irá centrifugá-lo, separando os glóbulos vermelhos do restante, os quais contém produtos de degradação capazes de prejudicar a coagulação do paciente, que são desprezados.  

“Posteriormente, esse concentrado de glóbulos vermelhos é lavado com soro fisiológico para que haja uma boa depuração do sangue. Depois disso, ele está pronto para retornar ao paciente, por meio de uma bolsa de transfusão. Esse procedimento é chamado também de recuperação de sangue autólogo intra-operatória”, detalha. 

Por que escolher a autotransfusão? 


Sergio Domingos Vieira, vice-Presidente Médico do Grupo GSH e médico responsável pelo Serviço Transfusional do Hospital do Coração (HCor), elucida que a autotransfusão é um procedimento seguro e eficaz(foto: Art Presse/Divulgação)
Sergio Domingos Vieira, vice-Presidente Médico do Grupo GSH e médico responsável pelo Serviço Transfusional do Hospital do Coração (HCor), elucida que a autotransfusão é um procedimento seguro e eficaz (foto: Art Presse/Divulgação)
Sergio destaca que todo o material utilizado no procedimento de autotransfusão é estéril, descartável e de uso único, o que o torna totalmente seguro. Além disso, o especialista ressalta que a processadora automatizada de sangue, usada para estocar o sangue do paciente, tem alarmes sonoros e visuais, sensores de camadas sanguíneas e detectores de bolhas, tornando o procedimento ainda mais eficaz

Walter Gomes, professor titular de cirurgia cardiovascular da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), concorda com Sergio. Para ele, o procedimento dever ser uma opção sempre, independente dos estoques de sangue em baixa ou mesmo medo/receio pelo contágio de doenças infectocontagiosas, como é o caso da COVID-19.

“O sangue do paciente no processo de autotransfusão é processado e reinfundido, evitando qualquer infecção que possa não ter sido detectada nos testes e triagem dos doadores de sangue. Portanto, essa é uma técnica segura não só para casos de perda de sangue, risco de infecção ou queda dos estoques, como sempre que houver a possibilidade. Ainda, tem-se um custo-benefício muito melhor, sem contar que a utilização de sangue doado pode, eventualmente, causar várias complicações, como problemas pulmonares e renais, e a recuperação do paciente com a autotransfusão é melhor e mais rápida”, diz. 

Além disso, conforme destacado pelos especialistas, a disponibilidade imediata do próprio sangue do paciente é outro benefício da autotransfusão. Isso porque, em poucos minutos, o sangue recuperado é processado e retornado ao paciente, mesmo para pacientes sensibilizados – presença de anticorpos – ou com tipos sanguíneos raros

Experiência 


Solange Pais Messias, representante de autotransfusão na região de Campinas, de 50 anos, passou pela experiência da autotransfusão em julho de 2018, em uma cirurgia cardíaca. Com duração de cinco horas, cerca de 695ml de sangue foram recuperados, o equivalente a quase três bolsas de sangue. “O uso do meu próprio sangue me deu muito mais segurança em realizar a cirurgia. Minha recuperação foi muito rápida. Minha preocupação se restringiu à cirurgia em si, e não a complicações que poderia ter tido em relação ao possível uso de sangue doado. Hoje não sinto mais nada, a cirurgia foi um sucesso”, relata.   

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 


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