Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Brasileiro muda alimentação e reduz proteína animal


Qualquer radicalismo, imposição pela força e reação desmedida perde a razão. Para que haja mudança o passo fundamental é a consciência. Aos amantes de carne, antes de mais nada, é preciso que saibam consumir, que façam escolhas sábias que não irão prejudicar a saúde, em primeiro lugar.



Certo é que a cada ano a alimentação à base de plantas é vista como alternativa possível e acessível para toda a população. Sem falar, o que não será tratado aqui, das questões ativistas do meio ambiente ao manejo com os animais.

Dessa busca do equilíbrio nasceu o movimento chamado flexitarianismo. A nutricionista e empresária Junia Bethonico explica como ele se dá: “Trata-se de um estilo de vida que incentiva diminuir o consumo de produtos de origem animal, ao mesmo tempo em que aumenta a ingestão de vegetais. Cada vez mais, as pessoas estão repensando seus hábitos alimentares. As pessoas estão aceitando esse estilo de vida com mais facilidade e com menos julgamento".

"Os flexitarianistas podem ser considerados um caminho do meio. Como consomem produtos de origem animal, eles não são considerados vegetarianos ou veganos. O flexitarianismo não tem regras claras ou números recomendados de calorias e macronutrientes. Na verdade, é mais um estilo de vida do que uma dieta”.





Junia Bethonico destaca que, devido à natureza flexível e foco no que incluir em vez de restringir, o flexitarianismo é uma escolha popular para pessoas que procuram uma alimentação saudável e mais ecofriendly. Se ficou interessado, a nutricionista aponta o caminho para quem pensa em adotar a dieta flexitariana.

 “No flexitarianismo, a atenção deve ser concentrada nas refeições em que se decide eliminar a carne, e do número de vezes por semana. Nesses dias, seu cardápio deve conter alimentos ricos em proteínas, vitaminas e minerais, para suprir essa ausência. Ou seja, nutrir-se de forma consciente e equilibrada.”


Junia Bethonico lembra que é preciso respeitar a alimentação e as necessidades do organismo. “Pense sempre nos alimentos que irão compor a refeição em substituição à carne. Seu comportamento determinará o modo como o organismo absorverá a nova rotina. O flexitarianismo permite começar em um ritmo gradual, sem exigências ou obrigações.”






COMO SUBSTITUTIR

 
 
Mas como substituir a carne nos dias alternados? A especialista recomenda escolher entre os alimentos vegetais de preferência, observando a combinação dos valores nutricionais. Alimentos ricos em proteína como feijão, lentilha, grão-de-bico, couve-flor, brócolis, sementes, tofu, espinafre e quinoa são excelentes opções.

Não deixe também de consumir calorias suficientes para a energia corporal. Os alimentos vegetais têm menor riqueza de carboidrato e gordura. Por isso, acrescenta, é importante considerar a necessidade de cada pessoa, baseando no seu peso e estilo de vida, se sedentário ou não.

(foto: Anna Pelzer/Unsplash )


Toda transição, além da vontade, exige esforço e foco. Mas Junia Bethonico avisa que ela pode ocorrer de forma tranquila e prazerosa: “É possível sim, desde que não se esqueça dos princípios básicos da alimentação saudável. Qualidade: os alimentos devem ser nutritivos, com capacidade para abastecer o organismo e o corpo para um funcionamento pleno; quantidade: o organismo precisa de porções diárias de alimentos que produzam energia o suficiente para uma rotina saudável; harmonia: além de bonita, uma boa refeição deve ter uma combinação balanceada de alimentos e seus nutrientes; e adequação: a alimentação com base nos hábitos alimentares, no perfil socioeconômico e na prática de atividades físicas são aspectos essenciais para a composição adequada dos alimentos”.





A nutricionista conta que os flexitarianistas priorizam as proteínas vegetais e outros alimentos minimamente processados, limitando os produtos animais. “O flexitarianismo não apenas incentiva a limitação de carne e produtos de origem animal, mas também a limitação de alimentos altamente processados, grãos refinados e adição de açúcar.”

Para que a mudança se transforme em hábito e não ocorra o vaivém, Junia Bethonico recomenda elaborar seu próprio cardápio balanceado para as principais refeições do dia: “Comer os mesmos alimentos todos os dias pode ser cansativo e enfadonho, criando certa resistência. Por isso, é importante criar variações de carnes vegetais ou produtos desenvolvidos para vegetarianos e veganos. Existem excelentes opções no mercado. Além dos vegetais, inclua alimentos de sabores diferentes. Isso vai ajudar a esquecer aquele suculento bife, ter prazer ao se alimentar e sentir-se satisfeito. As carnes vegetais, à base de ervilha, são saborosas e se assemelham à carne em gosto e textura.”


Se quiser se inspirar, no Instagram @juniabethonico, a nutricionista disponibiliza vários e-books, gratuitos, com receitas deliciosas. “Posso dizer que o flexitarianismo é a melhor forma de adequar o desejo de não consumir carne, experimentar e preparar-se para uma dieta mais profunda, como o vegetarianismo e o veganismo. Se seu desejo é este, reduzir o consumo de alimentos de origem animal, procure um nutricionista. O profissional irá orientá-lo baseando-se nas suas necessidades e estilo de vida, elaborando o plano alimentar e um bom cardápio flexitariano.”




 

EQUILÍBRIO 


Endocrinologista Adauto Versiani Ramos alerta que reduzir a proteína animal, parar de comer carne, ser vegetariano ou vegano não significa ser mais saudável (foto: Arquivo pessoal )


O médico endocrinologista Adauto Versiani Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (SBEMMG) e membro do corpo clínico do Hospital Felício Rocho, não entra na discussão que envolve o ativismo, seja pelo meio ambiente e trato com animais. Ele não entra no mérito da questão.

Apenas reforça que “diante do aquecimento global e da plantação de transgênicos, é importante ter bom senso. Reduzir a proteína animal, parar de comer carne, ser vegetariano ou vegano não significa que a pessoa será mais saudável, terá melhor qualidade de vida ou sobrevida. Nenhum estudo comprova isso. O fundamental não é o que se tira, mas o que se põe no lugar. Equilíbrio sem modismo. Exagero não é bom. A indicação é conversar com o médico e não fazer nada da cabeça. E procurar sempre ter um prato colorido,  a metade dele sempre com verduras e legumes”.








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