Um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) concluiu que 55% dos trabalhadores brasileiros que atuam nos serviços essenciais desenvolveram sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia da COVID-19. Publicada na revista científica Journal of Medical Internet Research, a pesquisa foi feita com a contribuição das universidades de Valência, na Espanha, e a Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), com atuação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
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Para Francisco Inácio Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), há algumas hipóteses que justificam essa diferença. “Vários artigos publicados durante a crise econômica grega mostraram o desemprego e ameaça de desemprego como fatores importantes na geração de estresse e depressão. E o impacto econômico da covid-19 está sendo muito forte no mercado de trabalho”, explicou.
Diferenças socioeconômicas
Também responsável pela condução dos estudos, a pesquisadora Raquel De Boni acredita que as diferenças socioeconômicas, e a forma com que os dois países lidam com as questões de saúde, são fatores que pesam na discrepância entre os números. “É preciso que se tenha atenção redobrada à saúde mental dos trabalhadores em locais onde se agregam múltiplos problemas sociais e de saúde. Segundo a Teoria de Sindemias (desenvolvida por Merrill Singer nos anos 1990), a presença dessas situações simultaneamente age de forma sinérgica, aumentando o risco de problemas de saúde, tanto física quanto mental”, frisou.
Ao unir os resultados dos dois países, os sintomas de ansiedade e depressão apareceram para 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia. Mais da metade dos que indicaram apresentar sintomas sofrem de ansiedade e de depressão ao mesmo tempo (27,4%). Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% já foram diagnosticados ou se trataram de doenças mentais no ano anterior.
A conclusão é que é necessário uma atenção especial ao grupo de trabalhadores das áreas essenciais, no Brasil ou na Espanha. “É preciso que se tenha atenção redobrada. Esse é um aprendizado para agora e para situações que possam surgir no futuro”, explicou o professor do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Flávio Kapczinski.