O consumo permanente de álcool já é associado ao aumento de mortes por várias doenças, como as do fígado e diferentes tipos de câncer. Além disso, está ligado a acidentes, principalmente os de trânsito. Agora um estudo, liderado por cientistas do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, chama a atenção para um outro risco que bebidas alcoólicas, consumidas com frequência, pode representar: uma maior predisposição a infecções.
“A ideia inicial é que consumistas crônicos de álcool, os alcoolistas, têm um sistema imunológico debilitado por conta do consumo excessivo. Então é normal que a gente tenha mais infecções nesses pacientes e as infecções sejam um pouco mais graves. Mas não se sabe exatamente o motivo, pelo menos até agora”, explica o orientador da pesquisa Frederico Marianetti Soriani, professor do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do ICB UFMG. Ele aponta muitos fatores para explicar isso, como má-alimentação e um estilo de vida que não é saudável.
Leia Mais
Alimentos funcionais são protetores do organismo e previnem doençasAnsiedade e depressão afetam 55% dos trabalhadores de áreas essenciaisAção comunitária gratuita em BH visa prevenir o diabetesAlcoolismo: quando o consumo de bebidas para relaxar se transforma em vícioA arte de dizer 'não': 4 estratégias para recusar o que você não pode (ou não quer) fazer no trabalhoO estudo consiste em utilizar modelos experimentais para tentar entender o que acontece em casos como este. Junto com Nathalia Luisa de Sousa Oliveira Malacco, aluna de doutorado do Programa de Pós Graduação em Genética da UFMG, eles desenvolveram um trabalho com camundongos.
Os animais receberam durante doze semanas, uma solução de álcool a 20%. “Essa solução equivale a um copo com uísque e água em quantidades iguais. O animal só tem acesso a essa solução, 24 horas por dia, durante 12 semanas. Isso, para a vida do animal, equivale a um consumo crônico”, diz Soriani.
Resultados
Depois desse período, os animais foram expostos a um fungo, semelhante ao mofo, que também pode acometer os humanos. Assim, os cientistas conseguiram demonstrar que esses camundongos têm o sistema de defesa do organismo prejudicado. Eles não conseguem combater de forma eficiente infecções pulmonares, como pneumonias, por exemplo.
Quando o corpo é atacado por qualquer organismo que pode causar doenças, como vírus e fungos, a resposta imunológica é feita pelos neutrófilos. Eles são células de defesa que compõem os glóbulos brancos. No caso das infecções pulmonares, para realizar sua função, essas células precisam sair da corrente sanguínea e chegar até os pulmões, onde são os principais responsáveis por capturar e matar invasores.
No estudo, os cientistas observaram que os neutrófilos dos camundongos que consumiram álcool por muito tempo tiveram mais dificuldade para chegar aos pulmões e combater os invasores. E os poucos que chegaram ao pulmão falharam em capturar e matar o fungo. Os pesquisadores concluíram que o consumo de álcool gera uma resposta inflamatória, depois da infecção, muito mais intensa. “Esses animais, durante o processo infeccioso produzem uma substância, numa concentração muito alta, no sangue. Essa substância, a CXCL1, prepara nosso organismo para combater a infecção. Elas ajudam o neutrófilo a ser ativado e possa sair do sangue para combater a infecção. Em concentração muito alta da CXCL1, o neutrófilo perde a capacidade ou fica prejudicado para chegar ao pulmão. Os neutrófilos que chegam tem deficiência no combate da infecção”.
Em conjunto, os resultados mostraram que o álcool afeta todas as funções desempenhadas pelos neutrófilos no combate à infecção, como ativação, recrutamento e funções de combate aos organismos invasores. Assim, existe uma chance maior à infecção pulmonar.
A partir desses resultados, os cientistas querem entender o que o álcool faz para aumentar a substância. “Buscar essas informações é importante para a gente tentar entender, por exemplo, como eu posso interferir na resposta desses pacientes. Entender qual o caminho do álcool para causar o problema e tentar interromper esse caminho ou modulá-lo. Diminuir gradativamente para que ele fique numa concentração que permita aos neutrófilos combater a infecção”, conclui o pesquisador.