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Estado de Minas Comportamento

Encontro de amor e almas entre irmãs gêmeas

Relação entre irmãos provavelmente será mais duradoura do que qualquer outra na vida. Desempenha um papel essencial nas famílias, sendo marcada por afeto e divergências


29/11/2020 04:00 - atualizado 28/11/2020 23:27

As irmãs gêmeas, Keyla e Kênia, de 35 anos, que se casaram com os irmãos Jalfer e Jacyr, respectivamente: história de amor e cumplicidade(foto: Arquivo Pessoal)
As irmãs gêmeas, Keyla e Kênia, de 35 anos, que se casaram com os irmãos Jalfer e Jacyr, respectivamente: história de amor e cumplicidade (foto: Arquivo Pessoal)

O amor entre irmãos pode não ser incondicional, mas certamente tem laço indestrutível. A verdade é que, apesar das brigas, conflitos, competitividade, disputas, diferenças, rivalidade e ciúmes entre eles, esta relação deverá ser uma das mais duradouras na vida das pessoas, tem papel essencial na família e especialistas asseguram que há impacto no desenvolvimento de cada um.

Qualquer filho quer ser o mais amado, admirado, valorizado e reconhecido. O que pode significar que, quanto menos afeto perceberem por parte dos pais, um caminho será aberto para o nascedouro de divergências e disputas. O que é natural até não se tornar excessivo ou mesmo patológico. Os cenários de convivência são inúmeros. Há irmãos que sempre se deram bem, vivem em harmonia, aqueles que não combinam mesmo, quem só brigava quando criança e são parceiros na vida adulta e por aí vai. Até quem não se reconhece nesta relação e é mais próximo de um amigo do que de um irmão.
 
A história das gêmeas Keyla e Kênia, de 35 anos, é de puro amor e cumplicidade. Além de parceiras da vida, acreditem, se casaram com dois irmãos, Jalfer e Jacyr Filaretti, respectivamente. E assim continuaram com o nome praticamente iguais: Keyla e Kênia Maria Gonçalves Filaretti. Ambas são mães de dois filhos. Em 2016, Kênia teve um casal de gêmeos (Lara e Mateus). Em 2017, nasceu Ísis, filha de Keyla, que em agosto de 2018 perdeu o bebê Davi com 24 horas de vida por um problema cardíaco, mas em fevereiro de 2020 nasceu, como se declara a mamãe: “Meu arco-íris Caio”.

As duas têm a mesma profissão e trabalham juntas, são enfermeiras e proprietárias da Casa de Repouso Vivarte, em Contagem. Para Keyla, Kênia é sua irmã gêmea e alma gêmea: “Nossa relação sempre foi de união e cumplicidade, nos completamos. Temos os mesmos gostos em quase tudo. Desde pequenas vestíamos iguais, onde uma ia a outra ia, nunca fizemos nada de forma individual. E a vida foi tão generosa conosco que sempre estudamos juntas na mesma sala, tivemos os mesmos amigos, as mesmas dificuldades, formamos juntas para enfermagem na mesma faculdade, em Lavras, nos casamos no mesmo dia com irmãos e temos filhos lindos que são tão unidos quanto nós. Para completar, somos sócias há 10 anos na Casa de Repouso Vivarte. Um lar para idosos que abrimos em 2011. Um sonho da nossa mãe (já falecida) que conseguimos realizar juntas.”
 
 
 
"Apesar de gostos parecidos, temos opiniões diferentes, 
mas a necessidade de estarmos juntas sempre 
fala mais alto. Brigamos 
de manhã e à tarde já estamos puxando assunto uma com a outra”

Keyla Maria Gonçalves Filaretti, enfermeira
 
 
Mas Keyla reconhece que, mesmo com tanto amor, há desentendimentos: “Apesar de gostos parecidos, temos opiniões diferentes, mas a necessidade de estarmos juntas sempre fala mais alto. Brigamos de manhã e à tarde já estamos puxando assunto uma com a outra. Durante a adolescência, sempre brigamos por conta de namorados. Um fato que nos marcou na infância foi um desfile de criança para rainha do bairro. Eu era mais pra frente, mais sorridente e ganhei. A minha mãe nunca aceitou que uma podia perder ou ganhar, tudo tinha que ser igual, e então ela colocou a faixa nas duas”.

Keyla reforça que não se vê sem Kênia. “Somos iguais e ao mesmo tempo diferentes. Somos gêmeas idênticas (univitelinas). Nascemos em Belo Horizonte, mas sempre moramos em Contagem. Hoje, trabalhamos em Contagem, mas moramos em Betim (eu e Kênia). Somos cinco irmãs e dois irmãos. Nossa mãe faleceu em 2009 e nosso pai é o nosso protetor. Ele nos acompanha em tudo e vive rodeado dos filhos e netos. Família grande, onde a gente se reúne vira festa. Somos todos muito próximos. As irmãs, principalmente, se falam todos os dias e nos encontramos com frequência. Somos o suporte umas das outras. Brigas e desentendimentos temos, mas nunca foram suficientes para afetar o amor que sentimos.”

ENCONTROS 


Keyla conta a história de amor com os irmãos Filaretti. “O meu cunhado tem um depósito de material de construção e nossa mãe era cliente. Um determinado dia, ela foi com a Kênia comprar um produto e disse para ele que ainda o teria como genro. Ela deu um cheque, ele pediu que colocasse o telefone atrás e mais tarde ligou convidando a Kênia para sair. Eles começaram a sair e, na época, eu estava terminando um relacionamento, e o Jacyr (cunhado) disse: ‘Vou te apresentar meu irmão mais novo’. Ele morava no Espirito Santo. Aí veio para BH, nos conhecemos, saímos e nos apaixonamos. Isso foi no começo de 2009. Foi um ano difícil porque perdemos nossa mãe, que era tudo para nós, mas eles tiveram sabedoria e paciência. Foram companheiros de verdade. Casamos, vieram os filhos e todos os acontecimentos sempre foram intensamente vividos por nós.”

Já para Kênia, a relação com Keyla é surreal, entre tapas e beijos, mas é a melhor do mundo. “Sempre fomos amigas e companheiras. Poucas vezes na vida nos separamos. Eu a enxergo como uma continuidade minha. Dividimos a mesma barriga,, temos o mesmo dom de cuidar de pessoas, tivemos filhos próximas uma da outra e eles vivem e crescem juntos como nós, cercados de amor e cumplicidade.”

Apesar de parecidas, Kênia destaca as personalidades diferentes. Elas dividem ideias e opiniões para tudo, discordam muitas vezes uma da outra, mas uma precisa ceder. “Geralmente ela vence, mas é porque ela é mais autoritária e eu sou mais passiva. Para eu ganhar, preciso convencê-la muito bem de que estou certa e ela tem que dar o braço a torcer. Nos darmos muitíssimo bem, mas brigamos demais também, por motivos às vezes tão bobos, que nem a gente acredita”, conta.

Mas ela acredita que isso ocorre por conta dessa proximidade intensa. Kênia revela que até nos desejos do coração o universo conspirou a favor, já que o maior medo era uma casar e deixar a outra para trás. “Sofríamos com isso. Mas Deus é tão perfeito e nossa sintonia tão maravilhosa que tudo se encaixou, coisa de novela.”

Muito se fala que a relação entre irmãos gêmeos é diferente, existe uma cumplicidade fina, de sensibilidade, de um sentir o que o outro sente. Para Kênia, é tudo isso e mais um pouco. É uma relação única. Um laço que só quem tem um irmão gêmeo pode dizer. “Vivemos em sintonia, sabemos o que a outra está pensando e, muitas das vezes, falamos as mesmas coisas. Quando vamos sair temos que tomar cuidado para não nos vestirmos iguais, mesmo ela da casa dela e eu na minha acontece. É muito engraçado. Se uma sofre a outra não fica bem, se uma passa mal daqui uns dias a outra vai passar também. É impressionante”, relata.


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