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Estado de Minas DENÚNCIA

Os polêmicos testes de virgindade e kits de 'reparo de hímen' vendidos no Reino Unido

Muitas mulheres são obrigadas pelas famílias a fazer exames intrusivos, considerados violação dos direitos humanos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU)


30/11/2020 07:57 - atualizado 30/11/2020 10:41

Polêmicos "testes de virgindade" estão sendo feito em mulheres em clínicas médicas privadas britânicas, mostra uma investigação do programa de rádio Newsbeat e do projeto 100 Women (100 Mulheres), ambos da BBC.

Os exames intrusivos são considerados uma violação dos direitos humanos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU), que querem sua proibição.

Os testes — que envolvem um exame vaginal para verificar se o hímen está intacto — não têm base científica, não podem provar se alguém é virgem e podem ser uma forma de abuso.

A investigação da BBC encontrou também várias clínicas privadas anunciando procedimento de "reconstituição da virgindade" que, quando contatadas, também ofereciam o chamado teste de virgindade por valores entre 150 libras (R$ 1.063) e 300 libras (R$ 2.126).

A BBC identificou 21 clínicas e conseguiu fazer perguntas a 16 delas. Sete confirmaram que oferecem "teste de virgindade" e várias outras não quiseram prestar esclarecimento.

Todos disseram que oferecem cirurgia de reparo do hímen, que custa entre 1,5 mil libras (cerca de R$ 10 mil reais) e 3 mil libras (cerca de R$ 21 mil). Dados do NHS (o serviço de saúde pública britânico) mostram que 69 procedimentos de reparo de hímen foram realizados na Inglaterra nos últimos cinco anos.

'Fugir era minha única opção'


Reportagem também encontrou várias clínicas privadas anunciando o serviço de 'reparo da virgindade'(foto: Getty Images)
Reportagem também encontrou várias clínicas privadas anunciando o serviço de 'reparo da virgindade' (foto: Getty Images)

A BBC ouviu a história de uma mulher que teve ajuda da instituição de caridade Karma Nirvana, que apoia vítimas de um tipo de abuso emocional praticado por famílias, baseado "na honra" e casamento forçado.

"Eu tinha um relacionamento emocionalmente abusivo com meus pais, que queriam que eu tivesse um casamento arranjado", diz ela.

"Um dia, um ancião da comunidade me viu sair com meus amigos e disse à minha mãe que um dos meninos era meu namorado. Havia muitos rumores na comunidade sobre isso."

Ela foi então ameaçada com um "teste de virgindade" pelos pais.

"Meus pais e a família do homem com quem eles queriam que eu me casasse disseram que eu precisava fazer um teste de virgindade para provar que ainda era virgem para que o casamento pudesse prosseguir. Eu estava com medo e não entendi o que isso realmente significava. Senti que fugir era minha única opção — então foi o que fiz", conta ela, que pediu para não ter seu nome divulgado.

"Recebemos ligações de meninas preocupadas com isso. Pode ser que estejam preocupadas que suas famílias tenham descoberto que talvez tenham tido um relacionamento ou não sejam virgens. Pode ser que a família esteja pressionando as jovens a fazer os testes e elas estão preocupadas com o resultado', diz Priya Manota, que a gerencia a linha telefônica de apoio do Karma Nirvana.

"O abuso por causa da 'honra' e do casamento forçado acontece muitas vezes quando a mulher entra em um relacionamento, escolhe seu próprio parceiro e tem um relacionamento íntimo ou sexual. Sabemos que muitas vítimas em casos extremos chegaram a ser mortas", afirma. "Outras vítimas são repudiadas pela família e não têm para onde ir."

O teste de virgindade é praticado em pelo menos 20 países, de acordo com a OMS. A organização afirma não haver evidências de que ele possa provar se uma mulher ou jovem fez sexo ou não. Isso ocorre porque o hímen pode rasgar por vários motivos, incluindo o uso de absorventes internos e exercícios. Também é possível que a pessoa já tenha feito sexo sem penetração ou mesmo com penetração, mas o hímen não tenha rompido.

No ano passado, o rapper americano T.I. provocou indignação após admitir durante um podcast que leva sua filha todos os anos para um teste para verificar se o seu hímen ainda está intacto.

Pinças e sangue falso

A BBC também descobriu 'kits de reparação de hímen', que afirmam 'restaurar a virgindade', sendo vendidos na internet por 50 libras (R$ 354).

Um kit comprado na internet e exportado da Alemanha continha 60 ml de gel que tensiona a vagina, pinças de plástico, uma cápsula de sangue e três sachês que pareciam conter sangue falso. Não havia instruções sobre como usar o kit.

O ginecologista Ashfaq Khan recebe regularmente pedidos de pacientes para fazer testes de virgindade e reparo do hímen.

"Não entendo por que isso não é ilegal no Reino Unido, deveria ser ilegal", diz ele.

"Toda a ideia de que a ausência de parte do hímen significa que você não é virgem está errada desde o princípio. Ele pode ser rasgado por vários motivos."

'Educar as comunidades'

Khan acredita que mais ações contra a prática são necessárias.

"Precisamos de ações educativas como as que fazemos para esclarecer sobre os perigos da mutilação genital feminina", diz ele à BBC. "Para mim, [os testes de virgindade] são um crime — e estamos nos associando a um procedimento que é ética e moralmente incorreto."

No início deste ano, a Organização para Mulheres e para a Sociedade do Oriente Médio iniciou uma campanha para proibir o "teste de virgindade" e pediu mais esclarecimento sobre o assunto.

"Embora desejemos eventualmente proibir a reconstituição do hímen, banir a prática sem a educação adequada fará mais mal do que bem", diz Halaleh Taheri, fundadora da entidade. "A única razão pela qual essas práticas estão em funcionamento é por causa dessa mentalidade retrógrada em relação à virgindade."

"Se ajudássemos a educar nossas comunidades e a reverter essa crença, não haveria necessidade de reconstrução do hímen. O procedimento sairia do mercado por conta própria."


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