Jornal Estado de Minas

Natal e revéillon

Participar ou não das celebrações? Hora de rever o afeto



A preservação da saúde mental e o esgotamento pelo cansaço de seguir tanto o isolamento quanto distanciamento social, assim como o de não relaxar com as regras sanitárias e de higienização, que deveriam ser lei, para maior controle de disseminação do Sars-CoV-2, não são justificativas, neste momento, para que todos saiam festejando e se reunindo para celebrar o Natal e o Ano Novo. No entanto, há o livre arbítrio. Não há como impedir a não ser a consciência de cada um. 



Para a médica infectologista Thaysa Drummond, que atua na operadora de saúde Vitallis e no Hospital Eduardo de Menezes, a indicação é que cada um escolha ficar em casa e, para matar a saudade, use as telas, as facilidades digitais para segurança de todos. “Neste primeiro momento, é preciso reforçar que o alerta é total diante do aumento de casos novamente, que se assemelha ao período de maior incidência, entre maio e junho, com a curva em alta, assim como a ocupação de leitos. O RT hoje, dia 26 novembro, está em 1.08, o que é preocupante. Daqui a uma semana tudo pode mudar? Sim, para melhor ou pior dependendo do comportamento e atitude de todos enquanto cidadãos. Cada um deve fazer sua parte, respeitar as regras. Se continuar nesta ascendência, as festividades de fim de ano nos deixam intranquilos. Logo, é importante repensar. A gestão pública tem agido, mas a população também é responsável”, alerta a infectologista.
 
Thaysa Drummond enfatiza que, dentro do “novo normal”, é hora de pensar como deve ser o novo normal nesta época do ano. “É ter cuidado agora para poder viver muitos outros ‘natais’. Não sabemos quando, mas a pandemia vai passar. Agora, quando o amor vem à tona, tem todo o significado, seria recomendável agir com empatia com os familiares e amigos, principalmente se fazem parte do grupo de risco e vulneráveis.”
 
Para a infectologista, diante do risco em alta, é o momento de rever a forma de expressar o afeto. Por que não abusar das redes sociais, chamadas de vídeo, fazer uma ceia coletiva por videoconferência, cada um na sua casa?
 
De qualquer forma, para aqueles que não se convencem diante de argumentos científicos, do número de mortos e contaminados e das sequelas que a doença pode deixar a quem sobrevive ao Sars-CoV-2, Thaysa Drummond aponta que é necessário manter o distanciamento, evitar aglomeração, usar a máscara, higienizar as mãos com álcool e também lavá-las, reduzir a confraternização entre as pessoas de convívio diário, nada de convidar todos os parentes de outras localidades, grupo pequeno, priorizar espaços abertos, ventilados, arejados, controlar as crianças sobre o contato, que não é fácil. E o sintomático, claro, de forma nenhuma deve participar.




 
A infectologista alerta que fazer o teste rápido ou mesmo o RT-PCR, o chamado padrão ouro, não é garantia de que a infecção não ocorrerá: “Não tem nenhum exame que garanta a tranquilidade total. Nem mesmo o RT-PCR, já que no assintomático a sensibilidade do teste diminuiu”.
 
ALERTA LIGADO

(foto: Beto Staino/Divulgação)


Carlos rodrigues de alencar, coordenador de saúde do Grupo Pardini, responde a dúvidas importantes:
 
1 - Com as festividades de fim de ano e o aumento dos casos da COVID-19, qual a principal recomendação à população?

Cada pessoa que encontramos, especialmente sem proteção, é um risco que assumimos nesse ponto da pandemia, que está longe de estar controlada. Então, temos que pesar com cuidado as decisões de com quem se encontrar, especialmente em eventos que envolvam comida e bebida. Estamos todos cansados, muitos desejam ver amigos e parentes. O que temos que manter em mente é que há risco para nós e para os outros, então, sempre que possível, devemos sim ficar em casa.

2 - Para as famílias e turmas de amigos que forem comemorar o Natal e réveillon, em sítio, com a ideia de espaço aberto, como fazer?

A mesma recomendação da viagem se aplica a este tipo de evento. Ninguém com sintoma deve comparecer, então o risco é a presença de um portador assintomático que pode contaminar os outros participantes. Quem conseguir ficar em casa por 14 dias sem nenhum contato exterior, provavelmente, não é transmissor do vírus, ainda que tenha iniciado o isolamento contaminado com o mesmo, devido ao tempo de duração da doença. Para quem não conseguir esse tempo, três dias de isolamento rigoroso com realização de teste molecular (RT-PCR) é possível aumentar a segurança da viagem. Reforçando novamente que, pelas características do teste, que é um pouco menos sensível em portadores assintomáticos, a garantia de segurança não é 100%.





3 - E quando os encontros forem ocorrer em casas de familiares? Como fazer? 

Alguns países, como o Reino Unido, estão adotando o conceito de “bolhas familiares estendidas”. As pessoas que vivem com você são a sua bolha, você está em contato com elas e qualquer um que se contaminar, provavelmente contaminará os demais. Existem bolhas de maior e menor risco: uma família de um trabalhador da linha de frente está mais exposta que um domicílio em que todos trabalham em home office e só precisam se expor em ocasiões especiais. A sugestão é que nesse período festivo as famílias ampliem suas bolhas para até três grupos, aumentando o risco de maneira controlada para todas as comemorações. É interessante que cada grupo pense nos riscos individuais, e trate as pessoas que apresentam maior risco com mais cuidado, mantendo em áreas externas e com uso de máscaras. Esses grupos têm que se manter isolados do restante da comunidade e, se quiserem aumentar a segurança, podem combinar um isolamento de 14 dias de todo o grupo, ou de três dias com posterior testagem, antes do primeiro encontro. 

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