Jornal Estado de Minas

Comportamento

Cozinhar ajuda a exercitar a parte sensorial do cozinheiro

(foto: Tina Dawson/Unsplash)

“Cozinhar é como um espetáculo: É preciso muita organização, treino, dedicação, conhecimento e amor para que, no final, os cinco sentidos o aplaudam de pé”.



A descrição é creditada ao chef Fernando Capella Reis. Visão também compartilhada pela nutricionista Adriana Stavro, pós-graduada em doenças crônicas não transmissíveis pelo Hospital Albert Einstein, assim como em nutrição clínica funcional e fitoterapia: “Quando você cozinha uma refeição para si ou para pessoas queridas, está trabalhando em algo que está sob seu controle e que pode ser concretizado de forma realista”.

São poucas as atividades que envolvem todos os sentidos, e cozinhar é uma delas. Visão, audição, tato, olfato e paladar são ativados quando estamos trabalhando no processo de cozimento.

Ao preparar uma refeição, diz Adriana Stavro, você é capaz de ver o resultado e degustar também. Isso fornece uma validação imediata da sua tarefa e isso o deixa satisfeito e feliz. Mas, cozinhar tem muito mais a oferecer.




 
Adriana Stavro afirma que cozinhar é terapêutico. “Passar algum tempo na cozinha pode não ser a cura para doenças emocionais, mas qualquer pessoa que precise de ânimo deve considerar a possibilidade de retirar a farinha do armário e aquecer o forno. Assar deixa as pessoas mais felizes, devido ao efeito calmante motivado por ele. Enquanto você espera que a massa cresça, os vegetais fervam e os biscoitos assem, definitivamente estamos exercitando a arte da paciência. Além disso, ajuda a melhorar o foco e a concentração. Cozinhar permite alimentar, alegrar, aproximar os indivíduos, mas também encontrar-se. Em outras palavras, essa atividade responde a quatro tipos de necessidades: desenvolvimento fisiológico, psicológico, social e pessoal.”

A nutricionista explica que já foi demonstrado que os alimentos que ativam o sistema de recompensa possibilitam a liberação de dopamina, conferindo prazer, alívio do estresse e sentimentos calorosos (embora temporariamente), muitas vezes acompanhados por memórias profundas que podem incluir carinho e amor.

“A dopamina orienta as pessoas a priorizar o prazer em todas as suas interações com substâncias como alimentos e drogas. O estresse muitas vezes faz as pessoas ansiarem por mais dopamina, pois um aumento do hormônio contribui para uma resposta prazerosa.”





No entanto, segundo Adriana Stavro, a dopamina fornece, na melhor das hipóteses, uma experiência transitória.

“Quando seus níveis no cérebro caem, voltamos ao nosso estado anterior, qualquer que seja ele: estressados, desanimados, cansados ou tristes. Por isso, é importante saber que não são apenas substituições alimentares que podem ser benéficas. Atividades alternativas podem ajudar a superar esses desejos.”

CONFORTO 


Por isso, Adriana Stavro recomenda falar com alguém sobre seus pensamentos e sentimentos, ou processá-los por escrito, ler um livro, assistir a um filme ou montar um quebra-cabeça são boas opções.

“Isso pode não trazer satisfação instantânea, mas os resultados em longo prazo, certamente, serão mais satisfatórios e podem, até mesmo, ajudar a viver mais e ao mesmo tempo mais saudáveis. Alimentos reconfortantes fornecem lembranças agradáveis, sentimentos satisfatórios e os prazeres da liberação de dopamina. Essa não é necessariamente uma receita para uma vida totalmente saudável, mas em tempos de estresse e incerteza, o conforto tem seu lugar.”





Para que o ato de cozinhar e comer tragam benefícios para a saúde é necessário, antes de mais nada, saber o que leva para o prato e consome.

Se por um lado muitos brasileiros retornaram ou descobriram a cozinha em tempos de pandemia, por outro, muitos se acomodaram com o fast food, congelados e delivery com escolhas nada saudáveis.

“Precisamos de estratégias práticas para ajudar pais e filhos a apostar em escolhas alimentares melhores. Fazer o planejamento das refeições, priorizar escolhas saudáveis, comparar com uma lista de alimentos e ler os rótulos de informações nutricionais é um bom começo.”

Para quem o tempo não é desculpa e preparar o próprio alimento não é uma alternativa, a nutricionista explica se uma boa saída é a chamada comida dita fit, saudável, mas congelada.



“O ato de congelar não torna os alimentos saudáveis ou não saudáveis. Ser ou não saudável depende do conteúdo nutricional dos alimentos congelados. O congelamento não altera a quantidade de fibras, gordura, proteína, carboidratos, açúcar, calorias ou de minerais de um alimento. Esse processo pode fazer diferença com algumas vitaminas (como folato e vitamina C), mas a maior parte do valor nutricional será mantida”, afirma.

Alimentos congelados são uma maneira conveniente e acessível de incorporar alimentos saudáveis de todos os grupos, incluindo grãos integrais, frutas, vegetais, proteínas e laticínios.

Além da praticidade e da economia de tempo, eles podem ser um benefício para pessoas com tempo limitado ou que não sabem ou não gostam de cozinhar.
 

Os benefícios psicossociais


Autores de um estudo publicada no Journal of Health Education & Behavior, em 2018, sobre os benefícios psicossociais das intervenções culinárias, analisaram as ligações entre cozinhar e bem-estar psicológico. Eles concluíram que:

1 - Cozinhar aumenta sua autoestima e o bem-estar mental
2 - Descobriu-se que cozinhar diminui a ansiedade e a agitação 
entre grupos de pessoas
3 - Indivíduos com demência e vítimas de queimaduras também 
relataram alívio na agitação
4 - Aumenta sentimentos de realização e confiança
5 - Melhora o bem-estar psicológico






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