As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), representadas principalmente pelas doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias crônicas e diabetes mellitus, foram responsáveis, em 2016, por aproximadamente 75% do total de óbitos em Belo Horizonte. O alerta é do médico Marconi Gomes da Silva, especialista em cardiologia e em medicina do exercício e do esporte, diretor clínico da SPORTIF – Clínica do Exercício e do Esporte.
Outro alerta do médico vem de dados colhidos pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que analisam a prevalência dos fatores de risco na população.
Inquérito feito anualmente em adultos maiores de 18 anos, no período de 2006 a 2018, em Belo Horizonte, revelou que houve aumento de 41% no excesso de peso (de 37,7% para 53,3%) e de 75% ne obesidade (de 9,8% para 17,2%). E houve, como ocorre no país, redução de 31% no percentual de fumantes (de 15,7% para 10,8%).
Ainda dentro do levantamento da Vigitel de 2018, a mais recente, no conjunto das 27 cidades, a frequência da prática de atividade física no tempo livre equivalente a 150 minutos de atividade moderada por semana foi de 38,1%, sendo maior entre homens (45,4%) do que entre mulheres (31,8%).
“Belo Horizonte está um pouco acima da média nacional, com 41,2% de sua população referindo ser fisicamente ativa. Nota-se, portanto, que a maioria da população brasileira e de BH está sob o risco da inatividade física. Devemos salientar que tanto em nível nacional como na capital mineira, a maior prevalência de pessoas inativas ocorre no gênero feminino. Surpreende também o fato de que, em BH, 13,7% dos entrevistados se dizem totalmente inativos, ou seja, não fazem absolutamente nenhum tipo de exercício físico no tempo livre”, destaca o cardiologista.
“Belo Horizonte está um pouco acima da média nacional, com 41,2% de sua população referindo ser fisicamente ativa. Nota-se, portanto, que a maioria da população brasileira e de BH está sob o risco da inatividade física. Devemos salientar que tanto em nível nacional como na capital mineira, a maior prevalência de pessoas inativas ocorre no gênero feminino. Surpreende também o fato de que, em BH, 13,7% dos entrevistados se dizem totalmente inativos, ou seja, não fazem absolutamente nenhum tipo de exercício físico no tempo livre”, destaca o cardiologista.
Recomenda-se que a modalidade escolhida envolva grandes grupos musculares e atividades que chamamos de aeróbica ou de resistência, assim como aquelas denominadas de anaeróbicas e que demandam o uso de força
Médico Marconi Gomes, especialista em cardiologia e em medicina do exercício e do esporte
Marconi Gomes alerta que há muitos anos, literalmente há séculos, médicos recomendam exercícios físicos. Mas, objetivamente, faz 60 anos que a medicina e outras áreas relacionadas à saúde vêm demonstrando cientificamente os benefícios de uma vida fisicamente ativa. “O papel do exercício físico tanto na prevenção de doenças assim como no tratamento, tem sido amplamente demonstrado por meio de estudos na área. A prática regular de exercícios físicos impacta justamente na redução da incidência de alguns tipos de câncer (mama, próstata, intestino etc.), de doenças cardiovasculares e metabólicas (infarto, hipertensão, diabetes, acidente vascular cerebral etc.), como atua reduzindo o risco de morte por doenças cardiovasculares e por câncer.”
Nos últimos anos, estudos demonstram que a inatividade física é importante preditor de doenças cardiovasculares, diabetes do tipo 2, obesidade, alguns tipos de câncer (câncer de intestino e de mama), fraqueza musculoesquelética, depressão, menor qualidade de vida e maior mortalidade por causas cardiovasculares. “Quando comparamos uma população sedentária com outra um pouco mais ativa, que se exercita mesmo em níveis menores que os recomendados (cerca de 90 minutos por semana), os mais ativos chegam a viver três anos a mais.”
ESCOLHA DA MODALIDADE
Para começar a se exercitar, Marconi Gomes avisa que é importante determinar algum tipo de limitação de ordem médica, principalmente de origem cardiovascular e ortopédica. Marconi Gomes afirma que não existe um esporte superior aos demais.
“Recomenda-se que a modalidade escolhida envolva grandes grupos musculares e atividades que chamamos de aeróbica ou de resistência, assim como aquelas denominadas de anaeróbicas e que demandam o uso de força. Exercícios de sobrecarga são recomendados para preservar a saúde óssea e o vigor muscular. Exercícios aeróbicos são responsáveis pelo maior gasto de calorias e ganhos mais evidentes nos parâmetros cardiovasculares, como maior capacidade de fazer exercícios e maior ganho nos parâmetros cardiovasculares e metabólicos.”
Especialmente para os idosos, Marconi Gomes recomenda, além dos exercícios aeróbicos, exercícios que aprimoram a aptidão neuromuscular, como o equilíbrio e a agilidade. “Deve-se privilegiar exercícios de força, evidentemente respeitando os limites individuais inerentes ao envelhecimento, mas que permitam um aumento da capacidade na execução de exercícios comuns na vida diária, como carregar sacolas de compras, trabalhos domésticos e atividades laborativas.”
Por fim, o cardiologista avisa que, na chamada relação dose-resposta ao exercício físico, o risco relativo de morte se reduz em pessoas fisicamente ativas, mas pode reduzir ainda mais em pessoas com ótimo condicionamento físico. Se pretende ou não participar de provas de corrida de 10km, 25km ou maratonas ou outros esportes competitivos, para ter o melhor fôlego e resistência possíveis, o certo é: “Seja qual for o objetivo a ser traçado, a inatividade física sempre é a pior escolha”, alerta Marconi Gomes.
DEPOIMENTO
Mudança de hábito
Aroldo Ramos de Carvalho, de 50 anos, gestor técnico comercial
“Estava trabalhando, quando por volta das 15h senti uma dor forte no braço esquerdo, não dei muita importância, pois a mesma passou. Quando estava retornando para minha casa no fim do expediente, a dor voltou mais intensa. Cheguei em casa e minha esposa me levou para o hospital, onde foi detectado que estava tendo um infarto. Fui internado no CTI coronariano do Hospital das Clínicas, e depois de quatro dias internado fiz um cateterismo. No exame, foi identificada obstrução de 95% na minha artéria. Foram colocados dois stents. Depois de dois dias recebi alta. No período de internação, perdi 10 quilos, passando a pesar 80 quilos e uma indicação para fazer reabilitação cardiopulmonar no próprio HC, onde encontrei o cardiologista Marconi Gomes, que me acompanha clinicamente até hoje. Diante do susto, mudei meus hábitos alimentares e pratico exercícios. Caminho e corro regularmente e faço meus retornos anualmente. Graças a Deus, está tudo bem.”