Estima-se que a medicina ayurveda exista há 5 mil anos – uma das mais antigas do mundo. No entanto, só há 16, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a reconhecê-la como tal. No Brasil, ainda há quem considere algo alternativo, até místico. Quem a procura, porém, costuma endossar a efetividade desse sistema em todos os níveis: fisiológico, emocional, espiritual.
A terapeuta ayurveda Mima Mascarenhas explica que o tratamento, nessa medicina, nunca é para a doença, mas para o indivíduo. “O mesmo problema de saúde pode ser tratados de diferentes formas.”
A terapeuta ayurveda Mima Mascarenhas explica que o tratamento, nessa medicina, nunca é para a doença, mas para o indivíduo. “O mesmo problema de saúde pode ser tratados de diferentes formas.”
Da cultura indiana, a ayurveda vê o indivíduo como um todo. “Costumo brincar que cada ser humano deveria vir com um manual. Mas não vem, então, a ayurveda ajuda a descobrir o que te faz bem, o que te nutre e o que te desequilibra”, explica o terapeuta ayurveda Daniel Salles. Por isso, segundo ele, a ayurveda é também um sistema de autoconhecimento profundo que dá ferramentas para manter a saúde.
Antes advogada e hoje psicoterapeuta corporal, Carolina Ávila, de 41 anos, praticante de meditação e ioga, sempre preferiu remédios naturais aos alopáticos e tem um estilo de vida que valoriza a busca pelo equilíbrio do corpo e da mente. Conduzida por esse caminho, conheceu a medicina ayurvédica em 2011 por meio de uma massagem.
Dois anos depois, fez um curso de massagem para gestantes e lá conheceu quem até hoje é sua terapeuta ayurvédica. “Sempre achei as massagens aiurvédicas muito profundas. Foi aí que comecei a vivenciar mais diariamente o ayurveda”, afirma.
Entre as práticas que incluiu na rotina está o ritual matinal de limpeza facial (nariz, língua, ouvidos etc.) e o consumo de diferentes tipos de ervas nas refeições diárias.
Entre as práticas que incluiu na rotina está o ritual matinal de limpeza facial (nariz, língua, ouvidos etc.) e o consumo de diferentes tipos de ervas nas refeições diárias.
TRATAMENTO
Em 2019, Carolina foi diagnosticada com adenomiose uterina, que se caracteriza pela presença de glândulas do endométrio no interior da camada muscular do útero. Aquilo lhe causava muitas dores, além de aumentar o volume do útero.
“Era insuportável, chegava a urrar de dor”, relembra. Na medicina ocidental, o tratamento mais comum é o uso contínuo de anticoncepcional, porém, por ter tido uma trombose em 2009, Carolina preferiu buscar uma alternativa, mesmo sabendo que poderia usar o contraceptivo DIU, com uma dose hormonal mais baixa que os demais.
“Era insuportável, chegava a urrar de dor”, relembra. Na medicina ocidental, o tratamento mais comum é o uso contínuo de anticoncepcional, porém, por ter tido uma trombose em 2009, Carolina preferiu buscar uma alternativa, mesmo sabendo que poderia usar o contraceptivo DIU, com uma dose hormonal mais baixa que os demais.
Com o consentimento da ginecologista, Carolina não pensou duas vezes em decidir pelo tratamento ayurvédico. Procurou sua terapeuta, que, baseada no diagnóstico médico e na consulta em consultório, lhe prescreveu o panchakarma – processo que ajuda a desintoxicar e a purgar as toxinas do corpo e a alinhar os doshas agravados.
Segundo o terapeuta Daniel, a diferença entre outros “detox” da moda é que o expurgo de toxinas na ayurveda é feito de tal forma que o corpo é também nutrido.
Segundo o terapeuta Daniel, a diferença entre outros “detox” da moda é que o expurgo de toxinas na ayurveda é feito de tal forma que o corpo é também nutrido.
O processo, ela admite, não é fácil. “O paciente precisa se entregar ao tratamento completamente e seguir à risca, porque é algo sério. Uma escapadinha na dieta alimentar pode causar muito mal à pessoa. Além de que custa caro”, alerta.
No total, foram 30 dias de muitos procedimentos, entre eles: readequação alimentar, fitoterapia ayurvédica, tratamentos corporais com purgações, aromacologia, argiloterapia, massagens, pranayamas, ioga e muita meditação.
No total, foram 30 dias de muitos procedimentos, entre eles: readequação alimentar, fitoterapia ayurvédica, tratamentos corporais com purgações, aromacologia, argiloterapia, massagens, pranayamas, ioga e muita meditação.
Seis meses depois, ao repetir o exame de ultrassonografia pélvica, Carolina recebeu a feliz notícia de que seu útero havia reduzido 38cm³ de volume. “Isso, para mim, foi maravilhoso, confirmou ainda mais o poder da medicina ayurvédica”, acredita.
Carolina, que já era vegetariana, se tornou vegana. Hoje, após o fim do tratamento, continua vegana, mas sem radicalismos, se permitindo umas escapadas conscientes. “Se eu vou a Minas visitar a família, não resisto às guloseimas de uma bela mesa de café da tarde com seus bolinhos fritos, broas e bolos. Isso me traz felicidade e boas memórias.”
Para controlar os danos, Carolina também aprendeu algumas estratégias: “Se eu como algo que me intoxica, faço um ritual de desintoxicação no dia seguinte”. Além disso, preza por dormir cedo para acordar cedo e praticar meditação e ioga pela manhã. “A vida tem sua natural fluidez e, no tempo certo, a gente vai aprendendo a navegar nesse fluxo com mais sabedoria”, diz, tranquila com cada escolha que faz.
DOENÇAS CRÔNICAS
“A massagem ayurvédica traz inúmeros benefícios para a saúde e, em alguns casos, pode contribuir para a melhora de quadros de pacientes com doenças crônicas”, garante Pedro Vasco, especialista na modalidade e sócio-proprietário do Eliá SPA. No Brasil, a terapia complementar foi popularizada somente a partir dos anos 1980.
A técnica é realizada em um tatame no chão e tem duração de 50 minutos. Ela é indicada como um dos tratamentos auxiliares para inúmeras doenças, tais como depressão, ansiedade, estafa, fadiga, estresse e fibromialgia.
“São massageados as costas, braços e as pernas com os pés, tornando o trabalho ainda mais intenso. Com manobras de tração e alongamentos, visa reequilibrar totalmente o corpo e a mente”, detalha Pedro.
“São massageados as costas, braços e as pernas com os pés, tornando o trabalho ainda mais intenso. Com manobras de tração e alongamentos, visa reequilibrar totalmente o corpo e a mente”, detalha Pedro.
Em um plano geral, os benefícios dessa massagem incluem: aumento da energia vital, alívio de tensões, liberação da energia estagnada, desintoxicação do organismo, aumento de flexibilidade nas articulações, alongamento dos músculos, relaxamento e equilíbrio interior, conhecido como alinhamento dos doshas.
Rotina matinal
É possível manter a saúde com algumas rotinas do sistema ayurvédico. Uma delas é o dinatcharya, que deve ser feito pela manhã. Aprenda como com a terapeuta Mima Mascarenhas.
» Deve-se acordar antes do nascer do Sol, por volta das 7h
» Escovar os dentes
» Raspar a língua (de preferência com um material de cobre, ouro, prata ou aço inoxidável): A película branca que fica na língua são toxinas e, se não for retirada, vai para o estômago e atrapalha a digestão.
» Fazer o gandusha: bochecho com óleo de gergelim. “Tem quem faça com óleo de coco, mas ele tem qualidade fria, diferentemente do de gergelim. Tem que ser um quente. Ele vai melhorar o paladar, tirar toxinas, fortalecer as raízes dos dentes, evitar nevralgia”, explica a terapeuta.
» A pasta de dente deve ser natural, com ervas amargas ou adstringentes.
» Fazer oleação dos orifícios. No nariz e nos ouvidos, pode ser usado óleo de gergelim – em se tratando de pessoas saudáveis. Alguém que tenha muita otite vai precisar de um óleo específico, com alguma erva adicionada. Nos olhos, passe uma gota de manteiga ghee de boa qualidade em cada.
» Olear a cabeça.
» Tomar banho.
» Depois, praticar atividade física. “Tradicionalmente, a ayurveda fala da ioga, mas pode ser tai chi chuan, alongamento, pilates. Nada de alto impacto ou que o deixe ofegante”, ensina Mima. Ela também acrescenta que a ioga deve ser feita já limpo, durante a chegada do Sol, que é interpretada como a chegada de Deus.
» Desjejum: não coma nada frio. Não coma frutas cruas. Coma cereais de boa qualidade. A comida representa 50% dos cuidados com a saúde na ayurveda. “Deve ter cuidado com as combinações, mudar a dieta de acordo com a estação, refletir sobre o que comer, dependendo do humor e do clima, e diminuir ou parar com as comidas ultraprocessadas”, diz a terapeuta.