Desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa farmacêutica chinesa Sinovac, a vacina Coronavac tem 78% de eficácia contra a infecção pelo coronavírus (principalmente em casos de atendimento ambulatorial), conforme conclusão dos estudos clínicos de fase 3 realizados no Brasil pelo instituto. O índice se aplica à prevenção de quadros leves da doença. Para casos graves e moderados da COVID-19, conforme o governo, a vacina em questão alcança 100% de eficácia, o mesmo que acontece em situações de internação hospitalar.
O diferencial da Coronavac é a tecnologia mais comum de partir do vírus inativado para induzir a reação do sistema imunológico, com demanda de armazenamento mais simples, ainda com custo menor se comparada às demais que vêm sendo apresentadas por outros laboratórios em diferentes países. Todo detalhamento da pesquisa será divulgado em coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira (7/1). No Brasil, 7,8 milhões de pessoas já foram infectadas pelo coronavírus, e são quase 200 mil mortos no balanço recente.
A disponibilização pública dos dados acontece depois de dois adiamentos e confusão sobre os números. Sobre essa mudança nas datas de divulgação dos resultados do estudo sobre a Coronavac, o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do CT Vacinas, Flávio da Fonseca, pontua que a expectativa era mesmo de que a eficácia do imunizante não seria tão elevada, no paralelo, por exemplo, às vacinas da americano-alemã Pfizer/BioNTech (95% de eficácia) e da americana Moderna (94,5%), o que teria motivado os adiamentos. A questão é que, se consideradas outras vacinas que já são aplicadas em outros países, o "sarrafo" aumentou, como avalia o especialista.
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Ele explica: a vacina da Pfizer, por exemplo, ainda sem indicação de chegada ao Brasil, se isso acontecesse poderia ser usada para grupos de maior risco, o que poderia ser associado à Coronavac, com eficácia menor, para grupos de menor risco. Se avaliadas as outras vacinas disponíveis para doenças já tratadas e conhecidas, Flávio da Fonseca lembra que o Programa Nacional de Imunização (PNI) no Brasil disponibiliza vacinas entre 85% e 95% de eficácia (como para gripe, febre amarela, vacinas para infecções virais e bacterianas). E todas são importantes, com indicação variável conforme o perfil específico da população alvo.
Em relação à COVID-19, o especialista lembra que as vacinas disponibilizadas em menos de um ano já são um avanço diante de uma emergência sanitária desse porte - tempo que seria bem maior em situações normais. "Agora a eficácia pode não ser tão elevada, mas os laboratórios vão continuar trabalhando para obter versões melhores e mais eficientes dos imunogênicos", pondera. Sobre a Coronavac, por enquanto, o Butantan confia no pedido de uso emergencial, e a Anvisa pode se manifestar no prazo máximo de 10 dias após a solicitação.
Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil (PSB) formalizou em dezembro, junto ao governador de Sâo Paulo, João Doria (PSDB), a aquisição de doses da Coronavac, a fim de imunizar profissionais da saúde na cidade, públicos e privados. Essa seria uma alternativa, caso o Ministério da Saúde não libere o acesso a imunizantes sem a necessidade de intervenção dos executivos municipais. A PBH também manifestou interesse na vacina da Pfizer/BioNtech, com ação conjunta com a UFMG para armazenamento da vacina, que precisa ser colocada a 70ºC negativos.
Em procunciamento, nessa quarta-feira (6/1), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, divulgou a disponibilização de 100 milhões de doses da Coronavac no país em 2021. No total, ele afirmou que o Brasil conta com 354 milhões de doses de vacina garantida para 2021, dentre outras 254 milhões vindas da parceria da AstraZeneca/Oxford com a Fiocruz.
Os estudos de fase 3 da Coronavac também são conduzidos na Turquia, na Indonésia, no Chile e em Bangladesh. Na China, onde quase 700 mil pessoas receberam a vacina, o imunizante está entre os três liberados para uso emergencial desde julho do ano passado. Os indonésios aprovaram a aplicação a partir do dia 13.