O poeta e ensaísta inglês Joseph Addison escreveu: “O sol é para as flores o que os sorrisos são para a humanidade”. Feliz definição, que Priscilla de Carvalho, psicóloga clínica em terapia cognitiva comportamental (TCC) e terapeuta EMDR (Eye Movement Dessensitization and Reprocessing, em português, Dessensibilização e Reprocessamento por meio do Movimento dos Olhos), exalta com duas sugestões de como ter este “sol” por perto: “Sorrir é contagioso, compartilha felicidade. Viver sem sorrir pode significar viver pela metade”.
No entanto, nem todos têm a facilidade de distribuir sorrisos por aí, seja sozinho ou em companhia. Há quem tenha o olhar triste e pouco sorri. Tem pessoas que, por trazer consigo uma história de vida composta de traumas, rupturas ou por ter crescido em ambientes com famílias disfuncionais, desenvolvem ou reproduzem uma expressão facial e corporal triste que é revelada por meio do olhar e do tônus vital. Existe uma máxima que diz que “os olhos são a janela da alma”. “Os olhos revelam o que há de mais subjetivo em uma pessoa, e por meio deles podemos comunicar nossos estados emocionais, como a alegria, a tristeza, o medo, o nojo e até mesmo a paixão. Uma fisionomia fechada pode expressar raiva, fúria, mau humor, falta de amor com a vida ou com os outros. É o corpo externalizando o que sente.”
No entanto, Priscilla de Carvalho acredita que o ser humano aprende, espelha, reproduz ou constitui padrões emocionais e comportamentais a partir de suas experiências de vida, das suas relações com o mundo, com pais ou cuidadores ou até mesmo com quem convive mais. “Entretanto, é importante uma avaliação profissional que possa identificar se essa tristeza expressa é a emoção necessária e que faz parte da condição humana, já que todos sentimos e é importante para o desenvolvimento emocional. Ou se ela está associada a algum transtorno mental, como a depressão, que é quando a tristeza adoece. Num transtorno depressivo, o sujeito vive como se tivesse preso, prisão que o proíbe de sentir alegria e prazer.”
Priscilla de Carvalho enfatiza que em qualquer lugar do planeta, sorrir representa universalmente estado de alegria, otimismo, positividade e gratidão. “Sorrir contagia quem recebe e retroalimenta quem oferece. Essa resposta automática a uma sensação agradável e de bem-estar. O riso surge ainda nos primeiros meses de vida da espécie humana. O ser humano tem uma capacidade surpreendente de modificar os seus comportamentos; portanto, sorrir pode sim ser aprendido ou 'reaprendido'.”
A psicóloga afirma que a falta do sorriso é árdua para qualquer pessoa de todas as idades. “Somos seres relacionais e o sorriso ajuda a criar e estreitar laços, a nos conectar harmoniosamente com os outros e aumenta as oportunidades de ser feliz. A ausência do sorriso pode gerar sérias consequências na vida do sujeito, como não ser aceito socialmente, não ser compreendido ou ser julgado como alguém que apresenta falta de interesse e de entusiasmo pela vida ou pelas pessoas. E diminuem as oportunidades de trabalho. Ou seja, as pessoas podem ter uma impressão errada do indivíduo que não consegue sorrir. E esses estigmas são alimentados pela ignorância e pela falta de empatia. Julgam sem questionar ou entender.”
ENDORFINAS
Priscilla de Carvalho reforça que sorrir influencia na saúde mental. O sorriso é um antídoto para conflitos internos e externos, para o alívio do estresse, faz bem ao coração e reduz os medos e preocupações com o futuro. “Sorrir libera endorfinas (neurotransmissores do prazer) e promove sensação imediata de bem-estar ao corpo e à mente, além de estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos, melhorando a resistência às doenças. Uma forma de ajudar o paciente que passa por uma doença ou adversidade é convidá-lo a refletir de que maneira ele pode sorrir da situação. A produção de endorfinas causada por essa experiência o ajudará a recuperar o ânimo e a força para combater a doença e os pensamentos negativos. Por pior que seja a situação, um sorriso, nem que seja forçado, pode liberar essas substâncias e melhorar o estado de quem sorriu.”
A psicóloga explica que, assim como o sorriso libera hormônios do prazer, o humor negativo produz excesso de cortisol (hormônio do estresse). “Pessoas estressadas são altamente irritadas, intolerantes e impacientes. E a produção de cortisol, a longo prazo, traz consequências mais severas à saúde mental, como o desenvolvimento de transtornos mentais, transtorno do estresse agudo, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos. Com o sistema imunológico enfraquecido, as pessoas mal-humoradas podem desenvolver ainda doenças psicossomáticas (produzidas por desordens emocionais que afetam o funcionamento do corpo, ou seja, a mente adoece o corpo) como hipertensão, diabetes, insônia, gastrite e enxaquecas persistentes.”
SORRIR NA PANDEMIA
Ter o sorriso presente ao longo de 2020, e agora, em 2021, parece ser um desafio diante da COVID-19. Mas Priscilla de Carvalho alerta que é sempre tempo de ressignificar: “A pandemia promoveu dores irreparáveis e desconfortos emocionais que necessitarão de tempo para ser elaborados. Porém, ela nos convidou a reconectar com a essência de cada um e a rever as relações intrapessoal e interpessoal. Ensinou a dar valor ao que verdadeiramente importa e a desenvolver a resiliência”.
Segundo ela, podemos olhar para 2020 e escolher nos recolher em um casulo e ficar revivendo as angústias e perturbações provocadas por ele, ou podemos juntar tudo o que nos aconteceu, recolher as tristezas e o que restou de nós, levantar a cabeça e seguir a vida com um sorriso estampado, mesmo que no início lhe pareça forçado.
Escolher dar um sim para 2021 com um belo sorriso pode atrair as graças que se esperam para o novo ano. “Acredito que 2021 pode ser repleto de possibilidades e, por isso, recomendo a cada um exercitar os músculos faciais, abrir um belo sorriso e dar-se permissão para ser feliz. E não se esqueça: o ato de gargalhar vai ampliar muito suas chances de ser feliz.”
O que faz umas pessoas mais felizes que as outras?
- Lidam de forma saudável com o pensamento. O que as pessoas pensam têm forte influência no que sentem e na forma como se comportam. Se não existe controle ao que ocorre, é possível controlar as interpretações produzidas pela mente.
- Enxergam o mundo de forma positiva, são otimistas, têm nível elevado de autoconhecimento, reconhecem seus valores, talentos e fraquezas, cuidam das emoções e fazem o que lhe dão prazer.
- Procuram a felicidade dentro de si, enquanto pessoas infelizes estão consumindo seu tempo procurando fora.
- Felicidade é um estado de espírito e não tem nada a ver com ter dinheiro, poder, beleza ou inteligência. E esse estado de espírito é questão de escolha e de atitude diante da vida. Pessoas felizes e que seguem a vida sorrindo apresentam habilidade incrível de se ajustar às adversidades e fazer das crises oportunidades.
- Saber que ser feliz é sua responsabilidade, não terceirize essa missão. Aceite o que pode mudar (VOCÊ) e o que não pode mudar
- (O OUTRO) e isso o libertará.
Fonte: Psicóloga Priscilla de Carvalho