"A única prevenção para a COVID-19 é a vacina". "Não há tratamento precoce". E também 'não existe tratamento preventivo'. As falas contundentes, baseadas em dados e estudos científicos, são do médico César Eduardo Fernandes, que acaba de assumir a presidência da Associação Médica Brasileira (AMB). Candidato da oposição, que derrotou o da situação, grupo que estava há 10 anos na gestão da entidade.
Com voz ativa, presente e atuante, a promessa é deixar para trás a imagem de omissão vista por muitos da classe médica, que clamam por maior representatividade e pressão por ações e medidas diante do poder público, ainda mais em meio à pandemia do novo coronavírus.
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COVID-19: Brasil e outros 54 países no mundo já têm vacinaçãoMortes em domicílio por doenças cardiovasculares aumentam por medo do coronavírusBusca por exames de rotina cai até 80% em BH e preocupa médicosMédicos e enfermeiros: quem cuida também sofreCOVID-19: Medicamento entra em fase de testagem clínica no BrasilCésar Eduardo Fernandes vê com grande preocupação “notícias” falsas de remédios eficazes no enfrentamento da pandemia. Para piorar, muitas vezes, divulgadas com requinte de crueldade tendo como porta-vozes e referendadas por médicos ou profissionais da saúde e políticos.
“A população está fragilizada, sem esperança e, à semelhança do náufrago, vai agarrar à tábua da salvação quando médicos e políticos reverberam. Não há evidência sólida e incontestáveis (sobre uso de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina). Não são alternativas eficazes seja para o tratamento precoce ou mesmo preventivo”, alerta o médico.
“A população está fragilizada, sem esperança e, à semelhança do náufrago, vai agarrar à tábua da salvação quando médicos e políticos reverberam. Não há evidência sólida e incontestáveis (sobre uso de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina). Não são alternativas eficazes seja para o tratamento precoce ou mesmo preventivo”, alerta o médico.
O presidente da AMB, explica que “não existe tratamento precoce, que pressupõe que uma pessoa doente hoje, sendo de 10 a 14 dias o curso da COVID-19, que pode agravar, receber uma medicação para abortar o curso da doença. Não é verdade. É leviandade. E o único tratamento preventivo é a vacina”, avisa.
César Eduardo Fernandes chama a atenção para o que viveu (e vive) Manaus: “Imagina a população sem atendimento, faltando insumos, falta de oxigênio, claro que, desalentada, vai agarrar à tábua de salvação”.
O médico enfatiza ainda mais: “Se a medicação alardeada fosse inócua, seria aquela história: se não faz bem, mal não faz... Mas não. Não é placebo. Tem efeitos graves”.
O médico enfatiza ainda mais: “Se a medicação alardeada fosse inócua, seria aquela história: se não faz bem, mal não faz... Mas não. Não é placebo. Tem efeitos graves”.
Aliás, o maior defensor da cloroquina, o médico francês Didier Raoult admitiu pela primeira vez que o medicamento não reduz mortes e assumiu que a substância não diminui a necessidade de UTI e do paciente precisar de oxigênio. Apesar de a ciência há tempos não ter demonstrado efeitos benéficos do remédio contra a COVID-19. Ele foi denunciado na França por promoção indevida do remédio.
PUNIÇÃO AOS MÉDICOS?
Mas, então, fica a dúvida. No caso específico de médicos que divulgam tal inverdade, não teriam de ser punidos? César Eduardo Fernandes destaca que “cabe à AMB emitir diretrizes e direções. Entendemos que as medicações não têm efeito. Não a defendemos e temos de ser responsáveis e não iludir. O que fazer? Não temos prerrogativas de oferecer restrições éticas para quem comete ilícitos ou propaga fake news. Cabe aos conselhos", diz.
Segundo ele, até hoje não houve manifestação oficial. "Quero imaginar que deva estar em elaboração pelas autarquias federais responsáveis, que os conselheiros estejam debruçados. Hoje, uma opinião a favor ou contra determina conduta. A nossa bandeira é uma só: excelência nas práticas clínicas e assistência à população.”
Quanto à vacina, César Eduardo Fernandes a compara com a fábula do sábio e o bode na sala, a COVID-19 é o bode: “A vacina é um grande alento, presenciamos a atuação do corpo técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de extrema qualidade, que nos deixa orgulhosos. O problema é que não temos vacina. Um número ínfimo de doses, embora aprovada em caráter emergencial. Então, ficamos receosos. É trágico. E, quando a COVID-19 terminar, os problemas não vão terminar, vão se agravar por causa do represamento. Mas, agora, temos de vencer a COVID-19."
César Eduardo Fernandes enfatiza que é necessário alertar sempre que a chegada na vacina não exime ninguém, inclusive quem a recebeu, do uso de máscara e de continuar com todos os demais processos de higienização e cuidados.
"Os governos federal, estadual e municipal têm da falar a mesma língua. O Zé Gotinha é um sucesso, tem credibilidade, excelente ideia, porque não numa campanha de marketing com o lançameno do Zé Coroninha?”, propõe.
E ainda é preciso lidar com os antivacina: “Fake news tem uma força inacreditável e produz estragos que precisam ser criminalizados de modo severo. Não pode haver espaço para inverdades", destaca o médico.
O FUTURO DA ÁREA DA SÁUDE
Para César Eduardo Fernandes, o futuro é assustador. Se para muitos o pós-pandemia, que certamente virá, será o fim das mazelas, as notícias não são boas. “Muitas situações estão esquecidas. A saúde está destroçada, com contingenciamento de verbas, subfinanciada, falta gestão, há desvio. E, de repente, saúde é só a COVID-19. E a hipertensão, o diabetes, o câncer, o acidente vascular cerebral... Tudo esquecido. Tudo represado com consequências preocupantes para um futuro próximo. O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma grande ideia, permitiu a inclusão, o acesso, mas tem muito a progredir porque apresenta fragilidades.”
César Eduardo Fernandes, que pela primeira vez assume a presidência da AMB, dono de larga carreira nas associações médicas e professor universitário, enfatiza que já era hora de mudança: “Reformular, modernizar, independência do ente político, sem corrente partidária e ideológica e, simplesmente, falar pela saúde. Temos de nos posicionar".
E continua: "Os especialistas falam sobre seus saberes específicos, a AMB tem alta credibilidade junto à população, é voz crível e temos de falar pela saúde como um todo. Ou seja, focar nas boas práticas médicas e acolhimento da população. Assumimos com legitimidade, com uma carga enorme sobre os ombros. A saúde já estava combalida antes, com a pandemia evidenciou todas as dificuldades”.
E continua: "Os especialistas falam sobre seus saberes específicos, a AMB tem alta credibilidade junto à população, é voz crível e temos de falar pela saúde como um todo. Ou seja, focar nas boas práticas médicas e acolhimento da população. Assumimos com legitimidade, com uma carga enorme sobre os ombros. A saúde já estava combalida antes, com a pandemia evidenciou todas as dificuldades”.
Recém empossado no comando da AMB, entidade que representa a classe médica no Brasil desde 1951, sendo a segunda maior associação médica das Américas, com assento no Conselho Federal de Medicina (CFM) e em outras organizações da área, além de interlocução junto aos órgãos públicos, César Eduardo Fernandes promete ter uma gestão ativa e participativa. E tem também a missão de lutar pela valorização não só do médico, mas dos profissionais da saúde.
“Na pandemia ocorreu o resgate dos profissionais da saúde, já que anteriormente todas as mazelas do setor eram jogadas em seus colos, como se fossem incompetentes. E não só médicos, de todos da área, do enfermeiro ao motorista da ambulância, do porteiro ao fisioterapeuta e tantos outros profissionais. Eram desvalorizados, confundiam incompetência estrutural como se fosse profissional."
Para o presidente da AMB, os profissionais da saúde formam uma classe valente, que perdeu muitos profissionais, são guerreiros. Agora, a população os reverenciam. Mas é preciso mais.
"Os governantes têm de entender que é preciso uma carreira de estado remunerada como os magistrados, sólida, não esta mentira de Mais Médicos (programa cujo objetivo é suprir a carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades). O médico tem que estar onde possa exercer a medicina. A culpa de querer ficar nos grandes centros não é do médico, mas do governo tratar a classe com descaso”.
“Na pandemia ocorreu o resgate dos profissionais da saúde, já que anteriormente todas as mazelas do setor eram jogadas em seus colos, como se fossem incompetentes. E não só médicos, de todos da área, do enfermeiro ao motorista da ambulância, do porteiro ao fisioterapeuta e tantos outros profissionais. Eram desvalorizados, confundiam incompetência estrutural como se fosse profissional."
Para o presidente da AMB, os profissionais da saúde formam uma classe valente, que perdeu muitos profissionais, são guerreiros. Agora, a população os reverenciam. Mas é preciso mais.
"Os governantes têm de entender que é preciso uma carreira de estado remunerada como os magistrados, sólida, não esta mentira de Mais Médicos (programa cujo objetivo é suprir a carência de médicos nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades). O médico tem que estar onde possa exercer a medicina. A culpa de querer ficar nos grandes centros não é do médico, mas do governo tratar a classe com descaso”.