Nos últimos dias, um vídeo viralizou nas redes sociais da médica Biancca Cabral. Na filmagem, ela fala a respeito de um composto feito a partir de secreções de pessoas que tiveram COVID-19, o qual ela faz uso e receita a seus pacientes como tratamento auxiliar de quadros clínicos de infecção pelo novo coronavírus.
Após a repercussão negativa, a médica veio a público para se explicar e justificar a prescrição do bioterápico, haja vista a sua não comprovação científica.
Após a repercussão negativa, a médica veio a público para se explicar e justificar a prescrição do bioterápico, haja vista a sua não comprovação científica.
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Em sua primeira publicação sobre o Coroninum, composto feito à base de secreções de pessoas já contaminadas por COVID-19, a médica explica o seu uso com a justificativa de que “a homeopatia acredita que semelhante cura semelhante”.
“O Coroninum é feito com secreções de pessoas que tiveram COVID-19, mas em uma potência muito baixa, que é a 200ch, o que é muito baixo. E eu tomo 20 gotas por semana para auxiliar na imunidade e gosto de usar nos meus pacientes como auxiliar no tratamento de COVID e também na recuperação no pós-COVID. Acho muito benéfico”, dizia a médica.
No entanto, muitas dúvidas surgiram após a postagem, em razão de as pessoas acreditarem que a médica estava tomando, de fato, o “catarro” de uma pessoa já contaminada. Além disso, muitas pessoas questionaram sobre o fato de o composto curar ou prevenir a infecção pelo Sars-Cov-2, já que não há comprovação científica. Justamente por isso, Biancca Cabral fez um pronunciamento explicando o funcionamento do composto.
Segundo ela, não se trata do “catarro”, mas sim de um bioterápico produzido à base de secreções de pessoas que tiveram a COVID-19. Nesse vídeo, publicado há cerca de um dia em seu perfil no Instagram, ela explica, também, que o Coroninum, como é chamado, não é capaz de induzir cura ou prevenir a infecção, mas apenas de agir como um tratamento auxiliar para a doença.
"Sobre a palavra secreção utilizada no vídeo, explico: os bioterápicos são preparações medicamentosas obtidas a partir de produtos biológicos quimicamente indefinidos, como secreções, excreções, tecidos, órgãos, produtos de origem microbiana, alérgenos, que servem de matéria-prima para as preparações bioterápicas homeopáticas. Essas preparações podem ser de origem patológica (Nosódios) ou não (Sarcódios), elaboradas conforme a farmacotécnica homeopática. O nosódio de Coroninum trata-se de uma preparação homeopática que se enquadra perfeitamente na Farmacopéia Brasileira (3ª Edição) o que o torna legal e semelhante a qualquer outro nosódio utilizado na Homeopatia."
Biancca Cabral disse, ainda, que o composto não tem comprovação científica como os medicamentos alopáticos, haja vista o seu potencial auxiliar e homeopático, e alertou sobre a necessidade de manter o tratamento tradicional. Ambos os vídeos foram tirados do ar pela médica a fim de evitar novos cortes.
"Ressalto que o Coroninum está sendo citado no site da Sociedade Brasileira dos Homeopatas Farmacêuticos e que a Homeopatia é uma especialidade permitida no Brasil e reconhecida pelo CFM, embora eu não seja e nunca tenha falado que sou especialista na área ou atuado na mesma. No vídeo veiculado, eu usei a frase 'semelhante cura semelhante', pois este é um princípio da homeopatia idealizada por Hahnemann, e está mencionado até mesmo no site do CRM do Mato Grosso do Sul, aonde atuo."
"Ou seja, eu apenas citei um princípio e friso: Eu não disse que esse auxiliar cura COVID, e nem mesmo acredito que algo cure já que não temos estudo científico sobre isso. E mais, não indiquei o uso para a população. Basta rever o vídeo. Apenas foi citado que eu uso e alguns pacientes usam por conta própria. Em todo o vídeo eu ressaltei que o utilizo como auxiliar, e não como substitutivo do tratamento convencional e recomendado pelo Ministério da Saúde, jamais faria ou falaria isso."
"Utilizo o Coroninum apenas como um auxiliar (usei exatamente essa palavra) no tratamento da COVID e pós-COVID com o objetivo de auxiliar nos sintomas (assim como outras homeopatias, como o gênio epidêmico, estão sendo utilizadas e sempre foram em outras doenças), foi exatamente isso o que eu disse no vídeo que por sua vez foi colocado fora de contexto e cortado. Como médica, nunca fiz imposição de tratamento à paciente e jamais faria em substituição do tratamento principal da COVID, embora a forma como o médico vai tratar um paciente com COVID é uma opção dele, em respeito à autonomia do profissional de saúde, questão amparada pelo CFM e pelo CRM do estado onde atuo", destaca a médica clínica geral.
RISCOS DA AUSÊNCIA DE TRATAMENTO TRADICIONAL E AUXÍLIO MÉDICO
O infectologista do Hospital Madre Teresa e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano, disse que a comunidade científica tem que tratar essas terapias alternativas de uma forma respeitosa. Porém, destacou que é preciso haver comprovação.
“Recomendamos determinados tratamentos com base em evidências, o mundo da medicina é baseado em evidências. Portanto, temos que ter cautela nesses tratamentos que não têm nenhuma comprovação.”
“Recomendamos determinados tratamentos com base em evidências, o mundo da medicina é baseado em evidências. Portanto, temos que ter cautela nesses tratamentos que não têm nenhuma comprovação.”
“Sugerimos que sejam feitos protocolos clínicos que possam gerar estudos e as comprovações que funcionam ou não, em vez de se fazer o uso aleatório dessas terapias. Nós devemos alertar o paciente, quando fizermos esse tipo terapia, de que não há nada comprovado, devemos orientar o paciente a procurar a medicina que já tenha a comprovação, que é a tradicional. E fica a cargo do cliente, se vai ou não, fazer esse tipo de tratamento. Mas ele tem que estar sempre orientado sobre as evidências científicas relacionadas a isso.”
Nesse cenário, Estevão Urbano alerta sobre os possíveis riscos do uso indiscriminado de terapias não comprovadas sem auxílio médico e sem o devido tratamento.
“Um grande perigo é a pessoa não sendo orientada perder tempo, não procurar orientação tradicional e que já tem comprovação, gastar tempo com uma terapia que não tenha documentação necessária para sua aprovação e quando procurar um médico, já procurar em uma fase muito avançada. Então, o grande risco dessas terapias que não têm comprovação, é você não oferecer o que existe de melhor para o paciente”, explica.
“Um grande perigo é a pessoa não sendo orientada perder tempo, não procurar orientação tradicional e que já tem comprovação, gastar tempo com uma terapia que não tenha documentação necessária para sua aprovação e quando procurar um médico, já procurar em uma fase muito avançada. Então, o grande risco dessas terapias que não têm comprovação, é você não oferecer o que existe de melhor para o paciente”, explica.
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram