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Estado de Minas SAÚDE

COVID-19: Síndrome metabólica como fator de risco para a doença

A má alimentação é uma das principais causas desta relação, já que a síndrome metabólica causa inflamação crônica, o que predispõe maiores complicações. Entenda


01/02/2021 11:24 - atualizado 01/02/2021 15:22

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

Desde o início da pandemia de COVID-19 tem-se observado que obesos e diabéticos têm tido quadros mais graves e desfechos piores. Um elo em comum entre essas duas condições é a resistência à insulina e o processo inflamatório crônico.

"Pacientes obesos e diabéticos estão sempre com um pequeno grau de inflamação. Portanto, quando são acometidos pelo novo coronavírus – que também faz uma reação inflamatória – esse processo de inflamação é exacerbado. Nos últimos meses, percebeu-se que portadores de síndrome metabólica também tendem a ter desfechos mais desfavoráveis.” 

É o que diz o médico e cirurgião do aparelho digestivo Carlos André Bastian. Segundo o especialista, isso ocorre porque os pacientes com síndrome metabólica também têm aspectos em comum com os obesos e diabéticos – quadros considerados como de muito risco para a COVID-19. São eles a resistência à insulina e a inflamação crônica. E isso muito tem a ver com o que essa síndrome traz ao organismo. 

Trata-se de um conjunto de fatores de risco que, quando presentes, aumentam a probabilidade de o indivíduo desenvolver doenças cardiovasculares, como infartos e derrames, bem como aumentam as probabilidades deste indivíduo vir a desenvolver diabetes mellitus no futuro.

“São cinco fatores associados. Há a presença de obesidade visceral, que pode ser avaliada por meio da medida da circunferência abdominal do indivíduo. Esta circunferência abdominal deve ser menor que 102 cm para homens e menor que 88 cm para mulheres.” 

Tem-se, também, a presença de hipertensão arterial sistêmica, que acomete pessoas com pressão arterial sistólica maior que 130mm Hg ou pressão arterial diastólica maior que 85mm Hg ou que esteja usando remédio para controle da pressão arterial.

Triglicerídeos maior que 150mg/ dl ou uso de remédio para controle e HDL – conhecido como 'colesterol bom' – baixo, menor que 40mg/dl em homens ou menor que 0mg/dl em mulheres ou estar usando medicamentos para colesterol também se encaixam entre as condições da síndrome, explica Carlos André Bastian.  

Por fim, a glicemia também entra nessa lista. Quando ela marca 100mg/dl em jejum ou há diagnóstico do diabetes e/ou o paciente precisa fazer uso de fármacos para controle, tem-se indícios de síndrome metabólica.

No entanto, a presença de um desses fatores não necessariamente indica que há a doença associada, ao mesmo tempo em que não precisa se ter as cinco condições para ser identificado com a síndrome. 

“Se você tem três destes sinais, você já é caracterizado como sendo portador da síndrome. E a importância disto é que esses indivíduos têm um risco consideravelmente maior de vir a desenvolver infartos, derrames, bem como ter diabetes. Desta maneira, é importante que aquelas pessoas que estejam acima do peso, tenham uma barriguinha mais saliente, sejam hipertensos ou já tenham tido alguma alteração nos exames de sangue procurem um médico para fazer uma avaliação mais detalhada”, aponta o especialista. 

 
PREVENÇÃO


“O que está por trás da síndrome metabólica é uma coisa chamada resistência à insulina. Isso não quer dizer que estes indivíduos não têm insulina. Pelo contrário, pacientes com síndrome metabólica, normalmente, têm níveis até mais elevados de insulina do que o habitual, porém, essa insulina não consegue agir adequadamente, pois suas células tornaram-se resistentes a sua ação”, explica o médico e cirurgião do aparelho digestivo, que destaca que é justamente esse estado que justifica os fatores de risco apresentados pela doença.  

É uma condição muito prevalente, segundo Carlos André Bastian, porém, a maioria das pessoas não fazem nem ideia que têm tal condição, já que normalmente são assintomáticas. Ou seja, o paciente não sente absolutamente nada de anormal no corpo.

“Às vezes, é aquele indivíduo que tem uma barriguinha mais saliente e pressão alta, mas não sabe que tem. Aquele que está com os triglicerídeos lá nas alturas, mas nunca fez exames de laboratório. Portanto, a maioria dos pacientes com essa condição não faz sequer noção que a tem.”
 

"Alguns trabalhos demonstram a normalização dos níveis de pressão arterial em algumas poucas semanas. Uma alimentação baseada em comida de verdade como carnes, peixes, ovos, hortaliças e vegetais com baixo teor de amido é capaz de operar milagres em pouco tempo. Existem, inclusive, estudos de adoção de dietas cetogênicas em indivíduos já internados em unidades de terapia intensiva, mostrando que esta intervenção é capaz de reduzir o processo inflamatório."

Carlos André Bastian, médico e cirurgião do aparelho digestivo

 

Nesse cenário, a alimentação pode ser uma grande vilã neste contexto. “Uma das coisas que faz com que o indivíduo se torne resistente à insulina é o padrão de alimentação vigente, com alimentos ultraprocessados e carboidratos refinados – pães, farinhas, biscoitos, doces, bebidas açucaradas etc. A maioria das pessoas que tem este tipo de alimento como base das suas refeições irá, invariavelmente, desenvolver algum grau de resistência à insulina.” 

“Isso quer dizer que para o pâncreas manter a glicose em níveis adequados, é preciso secretar uma quantidade maior de insulina. Isso vai acabar levando ao ganho de peso, já que a insulina é um hormônio anabolizante, ao aumento da pressão arterial ocasionado pelo próprio ganho de peso e por ações diretas da insulina, e alteração no perfil lipídico”, aponta o especialista. Segundo ele, é justamente por isso que é possível prevenir a síndrome metabólica com restrições e uma dieta equilibrada. 

Carlos André Bastian, médico e cirurgião do aparelho digestivo (foto: Leonardo Rosa/Divulgação)
Carlos André Bastian, médico e cirurgião do aparelho digestivo (foto: Leonardo Rosa/Divulgação)
Assim, a prevenção é baseada em uma alimentação livre de carboidratos – dietas low carb ou cetogênicas. E no que consiste este tipo de dieta? Como o nome diz, consiste em uma dieta com baixo carboidrato.

“O objetivo dessa abordagem é restringir a ingestão de carboidratos, mas não qualquer carboidrato e, sim, àqueles que promovem grande estímulo insulínico, como os pães, massas, biscoitos, farináceos, biscoitos, e vegetais com alto teor de amido, como arroz, batata, batata-doce, aipim, bem como as frutas mais doces.” 

A base da alimentação neste tipo de estratégia consiste basicamente em ingerir alimentos in natura – carnes, peixes, ovos –, assim como vegetais com baixo teor de amido, como é o caso do brócolis, da couve-flor, da abobrinha, entre outros. As frutas vermelhas como morangos, mirtilos e framboesas podem fazer parte do cardápio.


TRATAMENTO 


Há tratamento para essa condição, caso ela esteja presente. Segundo Carlos André Bastian, a síndrome metabólica é uma doença reversível, às vezes em semanas, também com mudanças em hábitos alimentares e estilo de vida. Além disso, o especialista pontua que dietas com restrição de carboidratos têm se mostrado extremamente eficazes em colocar a síndrome em remissão.  

“Alguns trabalhos demonstram a normalização dos níveis de pressão arterial em algumas poucas semanas. Uma alimentação baseada em comida de verdade como carnes, peixes, ovos, hortaliças e vegetais com baixo teor de amido é capaz de operar milagres em pouco tempo. Existem, inclusive, estudos de adoção de dietas cetogênicas em indivíduos já internados em unidades de terapia intensiva, mostrando que esta intervenção é capaz de reduzir o processo inflamatório”, justifica. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 


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