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Estado de Minas DIA MUNDIAL DO CÂNCER

Personalização é palavra-chave no combate ao câncer

Especialistas alertam para a individualidade de diagnósticos e tratamentos, e apontam heranças da pandemia. Futuro pós-pandêmico exige atitudes imediatas


04/02/2021 10:00 - atualizado 04/02/2021 12:32

Atendimento individualizado é um dos pilares para o diagnóstico precoce e consequente tratamento eficaz(foto: Pixabay)
Atendimento individualizado é um dos pilares para o diagnóstico precoce e consequente tratamento eficaz (foto: Pixabay)

Cada caso é um caso. Com certeza, você já deve ter ouvido essa frase sendo associada a qualquer tipo de doença ou condição clínica. E isso é um fato. Quanto aos pacientes com câncer, em remissão ou com possibilidades de desenvolver a doença, essa é uma constatação também verdadeira.

Por isso, conforme apontam especialistas, desde o diagnóstico até o tratamento, a melhor saída é a individualização do atendimento. 

“A palavra-chave é personalização. Hoje, vivemos uma nova era da medicina, chamada de medicina de precisão, que é o contrário da medicina empírica – ‘tudo igual para todo mundo’. Então, cada pessoa tem risco individual para determinados tipos de câncer e fase da vida. E isso por questões genéticas, hereditárias e por fatores herdados. Hoje, inclusive, temos testes acessíveis para detecção dessa predisposição. Porém, a grande maioria dos cânceres é por fatores ambientais.” 

É o que diz André Murad, pós-doutor em genética, professor da UFMG, diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP). 

Nesse cenário, segundo ele, no caso dos cânceres em decorrência de fatores ambientais, a correção é o melhor preventivo, “eliminando” a obesidade, o sedentarismo e a dieta inadequada.

Além disso, haja vista o risco associado à exposição solar, ao tabagismo e ao consumo de bebidas alcóolicas, mudar esses hábitos é muito importante, e isso, claro, junto com os exames de rastreamento, que também precisam ser individualizados. 

Tudo isso exige rastreamento, tratamento e periodicidade personalizados, o que só é possível com profissionais especializados.

Em geral, o oncogeneticista é o mais indicado, a princípio, até porque, muitas vezes, é preciso determinar se o paciente tem uma síndrome hereditária. Eventualmente, segundo André Murad, nos casos de síndrome hereditária, existem várias outras medidas, até mesmo a inclusão das cirurgias redutoras de risco, os chamados procedimentos preventivos. Então, isso tudo precisa ser feito em uma base orientada.

“Em resumo, o mais importante é a personalização, tanto da ação preventiva quanto do rastreamento. E sempre com o auxílio médico, pois existem vários exames de rastreamento que podem ser usados, desde um simples exame médico e clínico até o exame dermatológico completo, palpação de testículo e mama. Além disso, é o especialista que pode orientar os pacientes para uma observação contínua da mama, pele, língua, pescoço, testículos e demais órgãos para entender possíveis alterações. A partir disso é que o médico pode indicar formas individuais de rastreamento, por exemplo”, explica André Murad. 

Para Clarissa Mathias, médica do Grupo Oncoclínicas e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), essa individualização é muito importante, uma vez que a realização dos exames de rotina, bem como do rastreamento precoce modificou, e muito, a mortalidade no mundo. Com a personalização, isso tende a acontecer de forma mais precisa e correta. “Sabemos que o diagnóstico precoce do câncer pode mudar a história natural da doença.” 
 

"Uma das pesquisas, publicada na revista científica Jama, aponta que nos primeiros meses da pandemia houve um declínio de 75% nos encaminhamentos por suspeita de câncer. No Brasil, o levantamento da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) mostrou que ao menos 70 mil brasileiros deixaram de receber o diagnóstico de câncer nos quatro primeiros meses de pandemia. Por sua vez, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) identificou redução de 70% no número de cirurgias de câncer no mesmo período."

André Murad, pós-doutor em genética, professor da UFMG, diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP)



Então, manter os exames preventivos em dia é extremamente essencial para que não se perca todos os avanços que foram conquistados com o diagnóstico e tratamento precoce. Por isso, é preciso conscientizar as pessoas de que o câncer não espera.

"Então, manter em dia as mamografias, as avaliações com o urologista, as colonoscopias – que devem ser feitas a partir dos 45 anos –, as tomografias de tórax para pacientes que são grandes fumantes, entre outros, é muito importante para que consigamos fazer um diagnóstico precoce e tratar os pacientes. Essa é a melhor chance de cura”, afirma Clarissa Mathias. 

Apesar disso, há um consenso de que mulheres acima dos 40 anos devem ser submetidas a mamografia e ultrassonografia. Enquanto isso, os homens, também a partir dos 40 anos, devem ser avaliados pelo urologista.

Já a colonoscopia deve ser feita tanto em homens quanto em mulheres a partir dos 45 anos, e a tomografia de tórax para pacientes que são grandes fumantes em qualquer fase da vida. O exame de pele, por outro lado, deve ser realizado anualmente pelo dermatologista para saber se há alterações. 

Um importante alerta dos especialistas é: a gravidade muito tem a ver com o atraso do diagnóstico. Portanto, saber da existência do câncer precocemente é muito importante. 

PREVINA-SE! 


Prevenção é um dos pilares mais importantes para evitar complicações na doença ou mesmo o aparecimento do câncer. E atividade física e alimentação são fortes aliados nessa luta.

“Além da obesidade ser fator de risco e, portanto, a perda de peso ser importante nesse cenário, a não realização de exercícios também é um fator de risco por si só, porque a prática de exercícios funciona como uma patrulha imunológica, fazendo com que o sistema imunológico funcione melhor”, explica Clarissa Mathias. 

Ainda, evitar a exposição excessiva ao sol é muito importante. Uma boa dica é sempre usar protetor solar e demais barreiras de proteção, como óculos e chapéus. “É extremamente importante não fumar e evitar o consumo de bebidas alcoólicas. Outra medida importante é a vacina contra o HPV”, completa. 

HERANÇA DA PANDEMIA 


André Murad destaca que a pandemia de COVID-19 trouxe impactos em todos os âmbitos para todo o mundo, e ainda mais na prevenção, diagnóstico e controle de doenças graves, o que, irremediavelmente, causará maior mortalidade nos próximos meses e anos.

“Na área oncológica, na qual são registradas cerca de 19 milhões de mortes anualmente no mundo, a pandemia está repercutindo na redução das ações preventivas, paralisação de tratamentos, aumento do diagnóstico tardio e mortalidade, além do adiamento na condução de pesquisas clínicas para desenvolvimento de novos medicamentos.” 
 
André Murad, pós-doutor em genética, professor da UFMG, diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP)(foto: Arquivo pessoal)
André Murad, pós-doutor em genética, professor da UFMG, diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP) (foto: Arquivo pessoal)
 

Uma das pesquisas, publicada na revista científica Jama, aponta que nos primeiros meses da pandemia houve um declínio de 75% nos encaminhamentos por suspeita de câncer. No Brasil, o levantamento da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) mostrou que ao menos 70 mil brasileiros deixaram de receber o diagnóstico de câncer nos quatro primeiros meses de pandemia. Por sua vez, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) identificou redução de 70% no número de cirurgias de câncer no mesmo período. 

Esse impacto muito tem a ver com o medo de contaminação pelas pessoas doentes, o que preocupa a oncologista Clarissa Mathias. “A inabilidade de alguns serviços, principalmente os públicos, de oferecer esse cuidado também contribuiu para o não tratamento de pacientes oncológicos e o retardo do diagnóstico precoce desse paciente, com retardo de procedimento cirúrgico. Isso tudo resulta em uma situação extremamente preocupante: um retardo no diagnóstico em função da COVID-19 e a complicação no tratamento, inviabilizando a possibilidade de cura.” 

Nesse cenário, André Murad reforça a segurança dos hospitais e clínicas para atender pessoas sem suspeita de contaminação ou infecção pelo novo coronavírus.

“Existem fluxos separados de pacientes com COVID-19 e com suspeita dos demais. Então, essas visitas e esses exames se tornaram mais seguros, mas mesmo assim, obviamente, o próprio médico vai indicar para aquela pessoa qual exame ela pode fazer ou não. É tudo questão de risco/benefício. Existem exames que precisam ser feitos, apesar do risco maior de contaminação”, orienta. 

E O DEPOIS? 


Clarissa Mathias, médica do Grupo Oncoclínicas e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)(foto: Infinita Comunicação/Divulgação)
Clarissa Mathias, médica do Grupo Oncoclínicas e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) (foto: Infinita Comunicação/Divulgação)
A preocupação com a “herança” deixada pela pandemia se estende ao período pós-pandêmico, visto que os danos serão sentidos no diagnóstico tardio, doenças em estágios avançados e taxas de mortalidade altas. Por isso, agir agora é importante para se evitar uma “epidemia” de câncer no futuro. 

“O que pode ser feito é chamar a atenção e conscientizar a população para tentar reverter esse quadro. E, também, tornar os ambientes, tanto de clínica de métodos de diagnóstico quanto de hospitais, seguros, com áreas, inclusive, livre de COVID-19 para proporcionar cirurgias e exames de rastreamento mais seguros para que, assim, consigamos reduzir o número de casos avançados. Uma outra estratégia é a utilização de teleconsultas e a adequação dos tratamentos para via oral. Todas essas ações são importantes para ajudar a reduzir os malefícios do momento atual no diagnóstico tardio nos pacientes”, opina Clarissa Mathias. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 


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