Pesquisa realizada por médicos brasileiros, do grupo mineiro Oncoclínicas, e publicada no Journal of Journal of Clinical Oncology (JCO), aponta que pessoas com câncer ativo ou metastático têm risco maior de complicações e morte pelo coronavírus. Segundo dados do estudo, a taxa de letalidade nesse grupo de pacientes (16,7%) se mostrou seis vezes maior que o índice global de letalidade pela COVID-19, atualmente em 2,4%.
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Porém, as sequelas podem ser graves. “As complicações que a infecção pelo vírus pode trazer a esse público implicam não apenas no andamento das condutas de combate ao tumor maligno durante o período de controle da contaminação, como também pode gerar um comprometimento severo da saúde de pacientes imunossuprimidos – categoria na qual se enquadra uma parcela considerável das pessoas em tratamento ativo contra o câncer.”
E o estudo também monitorou o risco de infecção deste grupo, de 29 de março do ano passado até meados de julho do mesmo ano. E, segundo os resultados apresentados, dos 167 participantes, cerca de 84% deles, apresentaram tumores sólidos e 31 (16%) tinha malignidades hematológicas. A maioria dos pacientes estava em terapia sistêmica ativa ou radioterapia (77%), em grande parte para doença avançada ou metastática (64%).
“Em linhas gerais, dos 198 pacientes, o pior prognóstico em decorrência da COVID-19 esteve associado ao câncer ativo, progressivo ou metastático em comparação àqueles que demonstram um câncer estável ou bem controlado. Além disso, pacientes com leucemia e outros tumores hematológicos se mostraram mais suscetíveis à infecção pelo coronavírus, enquanto os que têm câncer de pulmão têm um grave aumento no risco de morte”, comenta Bruno Ferrari.
Nesse cenário, o autor do estudo destaca que esses dados e constatações reforçam a defesa por um programa de imunização prioritário dedicado aos pacientes oncológicos, o que ainda não existe.
Em carta enviada ao Ministério da Saúde, nessa terça-feira (9/2), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reforçou o pensamento de Bruno Ferrari. No documento, a SBOC defende que pacientes oncológicos em todo o território nacional sejam incluídos nos grupos com prioridade na vacinação contra a COVID-19.
Em carta enviada ao Ministério da Saúde, nessa terça-feira (9/2), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reforçou o pensamento de Bruno Ferrari. No documento, a SBOC defende que pacientes oncológicos em todo o território nacional sejam incluídos nos grupos com prioridade na vacinação contra a COVID-19.
Segundo a presidente da entidade, Clarissa Matias, a defesa se baseia nas evidências científicas de que pacientes com câncer são mais vulneráveis aos riscos de complicações ocasionadas pelo Sars-Cov-2.
“Esse e outros estudos evidenciam que não apenas os pacientes imunossuprimidos estão mais susceptíveis a manifestações graves da doença, mas também aqueles em diversos outros espectros da doença, sendo inviável estratificá-los e urgente incluí-los entre aqueles que precisam ser imunizados contra um mal que pode ter consequências fatais para sua saúde e a própria vida”, enfatiza Clarissa Mathias.
“Esse e outros estudos evidenciam que não apenas os pacientes imunossuprimidos estão mais susceptíveis a manifestações graves da doença, mas também aqueles em diversos outros espectros da doença, sendo inviável estratificá-los e urgente incluí-los entre aqueles que precisam ser imunizados contra um mal que pode ter consequências fatais para sua saúde e a própria vida”, enfatiza Clarissa Mathias.
Justamente por isso, Clarissa Mathias pondera que Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica seguirá vigilante e em diálogo com os organismos responsáveis e entidades parceiras até que o plano inclua os pacientes oncológicos e todos sejam vacinados.
Além disso, Bruno Ferrari destaca a importância de se ter respostas mais concretas quanto a eficácia e segurança da vacina nesse grupo de pacientes. Porém, lembra que a contraindicação de imunizantes para pacientes com a imunidade comprometida diz respeito aquelas produzidas a partir do vírus vivo.
Além disso, Bruno Ferrari destaca a importância de se ter respostas mais concretas quanto a eficácia e segurança da vacina nesse grupo de pacientes. Porém, lembra que a contraindicação de imunizantes para pacientes com a imunidade comprometida diz respeito aquelas produzidas a partir do vírus vivo.
“Imunizantes produzidos com vírus inativado ou fragmentado, como a da gripe, são inclusive recomendados para pacientes oncológicos. A imunização é aliada valiosa que ajuda a salvar muitas vidas”, ressalta o especialista, que frisa, ainda, que, entre as vacinas desenvolvidas para a COVID-19, há opções com vírus inativados e também fragmentados, que podem ser consideradas como opção viável para pessoas com câncer.
“Estamos aguardando os detalhes sobre a quantidade de vacinas a serem liberadas em cada fase. As informações são pouco claras no momento para analisarmos as possibilidades. Mas o que podemos adiantar é que defendemos uma separação entre grupos de risco que beneficie os pacientes oncológicos, para que eles tenham um tratamento mais favorável. Uma infecção mais grave é um exemplo do que pode vir a ocorrer com uma pessoa em tratamento de câncer que contraia o novo coronavírus, e esse é um risco que pode ser evitado”, defende.
De toda forma, Bruno Ferrari afirma que, mesmo que haja priorização no calendário de vacinação para pacientes com câncer, até a publicação de dados consistentes da imunização nesta parcela da população, caberá à equipe assistencial responsável pela linha de cuidado avaliar o risco de contágio, tipo de tratamento e grau de imunossupressão no momento de orientar cada indivíduo sobre tomar ou não o imunizante.
Segundo ele, vale lembrar, também, que pacientes que já tiveram câncer e não estão mais em tratamento, a princípio, deverão seguir as indicações de vacinação de acordo com sua faixa etária e/ou outros problemas de saúde.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram