O câncer de pênis, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Ministério da Saúde, acomete, em média, 2% dos brasileiros. Porém, apesar de raro, quando esse tipo de tumor agride a genitália masculina, os danos podem ser graves, se não houver o diagnóstico precoce. E a pandemia de COVID-19 afetou, e muito, o quadro clínico da doença, haja vista a queda de diagnósticos por não acompanhamento médico no momento oportuno.
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Em 2019, houve cerca de 637 amputações e, em 2020, 455, mesmo com aproximadamente a metade de diagnósticos. Em território mineiro, os índices também se mantiveram próximos: eram 76 em 2019 e 65 em 2020.
Em 2019, houve cerca de 637 amputações e, em 2020, 455, mesmo com aproximadamente a metade de diagnósticos. Em território mineiro, os índices também se mantiveram próximos: eram 76 em 2019 e 65 em 2020.
“Por conta da pandemia, a procura por avaliação médica diminuiu. Com essa diminuição no atendimento médico para avaliação das lesões penianas, o número de diagnósticos de 2020 foi menor que o número de diagnósticos de 2019. Qual a nossa preocupação em relação a isso? Se a gente demora esse tempo no diagnóstico, o nosso tratamento tem grandes chances de ser, em vez de mais conservador de uma doença inicial, evoluir para um tratamento de amputação peniana”, explica.
Isso porque em quadros clínicos avançados da doença se faz necessário o procedimento de amputação do órgão, para evitar a infecção de outras partes do corpo.
Esse método pode ser parcial ou total e pode deixar sequelas graves na qualidade de vida do paciente. Para além da vida sexual ativa ou não, as dificuldades de urinar se tornam um problema, e o emocional tende a se abalar pelos traumas de ter um órgão amputado. “Tudo depende do local e da extensão do câncer. Então, alguns pacientes vão ter um câncer na glande – cabeça do pênis.”
“Nesses casos, pode-se fazer o que chamamos de amputação parcial. Ou seja, ressecamos e retiramos parte do pênis. Então, ainda irá ‘sobrar’ parte do órgão e, dependendo do tamanho que ficar, ele ainda consegue ter vida sexual. Mas a verdade é que fazer uma ressecção, uma amputação parcial, apesar de ainda ter um pênis que consiga ter relação sexual, o impacto emocional que esse paciente tem, muitas vezes, faz com que ele não consiga ter relação pelo trauma adquirido”, explica o presidente da SBU em Minas Gerais.
Em alguns casos, quando se tem uma lesão mais avançada ou em determinada localização, é preciso recorrer ao procedimento em sua totalidade, o que pode trazer ainda mais impactos para a vida do paciente.
“Nesses casos, tem que se criar uma situação para que o paciente consiga urinar, porque ele passa a não ter o pênis ou a uretra, sem o coto para urinar, como nos casos de amputação parcial. O grande problema é estigma, qualidade de vida e limitação. E, nesse momento, é preciso que o médico oriente que isso significa cura e sobrevivência para o paciente para que os valores além da vida sexual sejam mantidos”, pontua.
“Nesses casos, tem que se criar uma situação para que o paciente consiga urinar, porque ele passa a não ter o pênis ou a uretra, sem o coto para urinar, como nos casos de amputação parcial. O grande problema é estigma, qualidade de vida e limitação. E, nesse momento, é preciso que o médico oriente que isso significa cura e sobrevivência para o paciente para que os valores além da vida sexual sejam mantidos”, pontua.
Francisco de Assis pondera que, em alguns casos, só a cirurgia não adianta. Assim, além da amputação, pode ser necessário que outros tratamentos se somem à amputação, como radioterapia e quimioterapia. Dependendo da extensão do câncer, é necessário, ainda, a realização de cirurgias para a retirada dos linfonodos para diminuir as chances de avanço da doença.
O lema deixado pelo especialista é: o grande segredo dos tratamentos de qualquer doença é o diagnóstico precoce. “Com as medidas locais de diagnóstico, com a biópsia, os tumores em estado inicial podem ser retirados ou mesmo serem tratados com medicamentos capazes de promover a cauterização química. As chances de cura são muito maiores e sem precisar agredir o corpo”, aponta.
O QUE É, FATORES DE RISCO E SINAIS
O câncer de pênis é causado por lesões que acometem a genitália masculina. Nesses casos, alguns fatores de risco podem estar relacionados com o aparecimento de tumores na região. O primeiro deles é a má higienização do órgão.
Além disso, a dificuldade de exposição da glande em razão da fimose – estreitamento do prepúcio, a pele que o envolve –inviabiliza a limpeza adequada do órgão, promovendo alterações nas células superficiais da glande e, consequentemente, o câncer de pênis.
Além disso, a dificuldade de exposição da glande em razão da fimose – estreitamento do prepúcio, a pele que o envolve –inviabiliza a limpeza adequada do órgão, promovendo alterações nas células superficiais da glande e, consequentemente, o câncer de pênis.
“Tem-se, ainda, o tabagismo e o HPV (papiloma vírus humano) como fatores de risco para o acometimento do pênis pelo câncer. Justamente por isso, é muito importante que os homens se vacinem contra o HPV na faixa etária indicada, entre 11 e 14 anos. Outras lesões que podem aparecer no pênis, como feridas, quando não devidamente avaliadas, também corroboram como fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pênis”, completa Francisco de Assis.
A partir de então podem-se apresentar sintomas característicos da doença, capazes de auxiliar o diagnóstico e o momento oportuno para procurar o atendimento médico especializado. “É muito diferente, por exemplo, do diagnóstico de câncer de rim, de próstata ou de testículo, que não há manifestação externa e, na maioria das vezes, só há manifestação quando há o desenvolvimento do câncer.”
“Para o homem enxergar o ‘câncer de pênis’ é bem mais fácil. Então, quando ele vê alterações de lesões na pele do pênis, principalmente lesões que mudam de cor, aumentam de tamanho e ficam mais ásperas faz se necessária uma avaliação e, quando indicado, uma biópsia. Lesões que não cicatrizam facilmente, verrugas, modulações, seja no pênis ou na região da virilha, são sinais que quando percebidos em autoavaliação, devem ser analisados, também, em consulta médica”, explica.
Segundo a membro do Departamento de Comunicação da SBU e vice-presidente da SBU-RS, Karin Anzolch, para além de se entender os fatores de risco e observar as lesões apresentadas, estabelecer medidas preventivas é uma boa iniciativa para evitar quadros clínicos avançados e até mesmo o próprio acometimento pelo câncer de pênis.
"São atitudes simples. Uma boa higiene íntima diária com água e sabão pode prevenir a grande maioria dos casos e deve ser ensinada e incorporada nos hábitos desde as etapas mais iniciais da vida de um homem, reforçadas com medidas como a vacinação contra o HPV e o tratamento de fimose, quando presente."
"São atitudes simples. Uma boa higiene íntima diária com água e sabão pode prevenir a grande maioria dos casos e deve ser ensinada e incorporada nos hábitos desde as etapas mais iniciais da vida de um homem, reforçadas com medidas como a vacinação contra o HPV e o tratamento de fimose, quando presente."
TABU
Haja vista a complexidade e, ao mesmo, delicadeza do local acometido pelos tumores causadores do câncer de pênis, a vergonha ou receio de procurar acompanhamento médico tende a ser um dos grandes vilões para a cura da doença.
Isso porque cria-se, a partir de comportamentos e pensamentos sociais e culturais, um tabu em torno dos exames e consultas com o urologista. Cai-se, então, em um perigoso jogo de “esconde-esconde” com a lesão encontrada ou demais sinais apresentados.
Isso porque cria-se, a partir de comportamentos e pensamentos sociais e culturais, um tabu em torno dos exames e consultas com o urologista. Cai-se, então, em um perigoso jogo de “esconde-esconde” com a lesão encontrada ou demais sinais apresentados.
“A primeira reação que o paciente tem, quando ele tem uma lesão no pênis, é dificuldade em procurar um médico para avaliar a sua genitália. Então, depende do nível de entendimento cultural que cada pessoa tem. Um segundo ponto é que, o paciente tem uma lesão no pênis, não acha que aquilo vai ser um câncer, espera para ver se vai melhorar, procura algum tipo de cura e faz automedicação na genitália. Ou seja, ‘está escondido, ninguém está vendo’. Com isso, a lesão vai evoluindo até que, se ele não procura atendimento, toma uma proporção muito grande”, afirma Francisco de Assis.
Começa, então, a ter sinais mais claros, como mau cheiro, secreções, entre outros. E, quando chega nesse momento, as lesões já se encontram em estados mais avançados. Justamente por isso, o presidente da SBU-MG destaca a importância de ações de conscientização e informação a respeito da doença.
“Esse é o grande diferencial para as pessoas procurarem uma avaliação médica de rotina. Isso é válido para qualquer órgão. A informação, a divulgação, a conscientização e as campanhas são fundamentais para um diagnóstico precoce e resultados excelentes de tratamento."
Conhecimento é a palavra-chave, porque a partir do momento que se tem conhecimento, evita-se problemas e maximiza as chances de cura. "Quanto à ausência de procura durante o isolamento social, o recado é: cuidado com a pandemia, mas cuidado com todos os outros órgãos do nosso corpo”, diz.
Conhecimento é a palavra-chave, porque a partir do momento que se tem conhecimento, evita-se problemas e maximiza as chances de cura. "Quanto à ausência de procura durante o isolamento social, o recado é: cuidado com a pandemia, mas cuidado com todos os outros órgãos do nosso corpo”, diz.
SBU EM AÇÃO
Neste mês de fevereiro, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) dedica-se a esclarecer a população sobre o câncer de pênis, por meio das redes sociais da entidade (@portaldaurologia) e na Rádio SBU, canal de podcasts da Sociedade disponível nos principais streamings de áudio: Spotify, Deezer, Pocket Cast, Apple Podcasts e Google Podcasts.
A campanha, denominada "SBU contra o câncer de pênis", reunirá médicos para esclarecer dúvidas sobre o tema, entre elas o passo a passo de uma higiene adequada, sinais da doença e quando buscar atendimento.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram