Que a COVID-19 pode trazer sérias sequelas à vida dos pacientes infectados pelo novo coronavírus já se sabe. E, segundo o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), os danos podem se estender ao aparecimento de outras patologias, como quadros clínicos de trombose – formação de um coágulo sanguíneo em uma ou mais veias grandes das pernas, coxas, abdômen, braços ou até mesmo do cérebro.
De acordo com a entidade, o Sars-Cov-2 pode predispor os pacientes à trombose arterial ou venosa devido à inflamação excessiva, ativação plaquetária, disfunção endotelial e estase sanguínea.
“As anormalidades hemostáticas mais relacionadas são trombocitopenia e níveis aumentados de D-dímero, que estão associadas a um maior risco de ventilação mecânica, admissão em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e morte. A severidade da doença também pode ser associada a alterações de exames da coagulação e a aumento de marcadores biológicos pró-coagulantes como a interleucina-6", aponta o Ibict.
"No entanto, ainda não se sabe se essas alterações hemostáticas são um efeito específico do vírus ou são uma consequência da tempestade de citocinas que precipita o início da síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), conforme observado em outras doenças virais.”
"No entanto, ainda não se sabe se essas alterações hemostáticas são um efeito específico do vírus ou são uma consequência da tempestade de citocinas que precipita o início da síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), conforme observado em outras doenças virais.”
Quando a obstrução é venosa, os principais sintomas são inchaço, vermelhidão da pele, aumento da temperatura no local afetado e dor. No caso da obstrução arterial, as principais manifestações são palidez da pele no local afetado, pele fria e dor geralmente mais intensa e limitante quando comparada à dor do entupimento venoso.
Nesse cenário, os pacientes internados em CTIs (Centro de Tratamento Intensivo) tendem a ter quadros ainda piores. Isso porque, conforme elucidado pelo coordenador da equipe de angiologia e cirurgia vascular do Hospital Felício Rocho, Daniel Mendes Pinto, a trombose vinculada à COVID-19 está associada à coagulação excessiva causada pelo processo inflamatório do organismo. E, portanto, haja vista a maior inflamação nos casos mais graves da doença, eles, consequentemente, estão mais associados aos processos trombóticos.
“A microcirculação pulmonar e sistêmica são uma das causas do processo inflamatório relacionado à COVID-19. Por sua vez, o processo inflamatório leva à trombose em vários segmentos. Inclusive, a infecção pelo novo coronavírus está associada a tromboses em locais pouco comuns, como no cérebro, no pulmão e nos rins, contribuindo, assim, para a perda de função do órgão afetado. É um círculo vicioso”, aponta.
Para ter a confirmação a respeito do quadro de trombose é feito um ultrassom vascular. Daniel Mendes explica, ainda, que o diagnóstico de casos de trombose associados à COVID-19 implica alterações no tratamento. Ou seja, as doses de anticoagulante são prescritas conforme o tipo, o local e a extensão da trombose. Normalmente, o tratamento dura, em média, entre seis meses e um ano. Além disso, a oxigenoterapia e corticoides podem ser inseridos.
Para além dos casos de infecção, o especialista alerta que ficar em casa em isolamento social sem movimentar o corpo também pode ser um fator de risco para o acometimento das veias por trombose. Portanto, hábitos de prevenção podem ser grandes aliados.
“Nos casos de COVID-19 associados ao aumento da atividade inflamatória, medida por alguns indicadores, entre eles a dosagem de dímero-D, o uso de anticoagulantes previne a trombose venosa. No entanto, é impossível especificar uma conduta médica. A prevenção com anticoagulantes injetáveis ou orais depende dos seguintes fatores: da necessidade de internação, da dosagem do dímero-D, do grau de comprometimento circulatório e do risco associados de sangramento”, afirma.
A prática de atividades físicas e os alongamentos podem ser boas medidas preventivas para quem permanece em isolamento social, bem como uma alimentação anti-inflamatória.
*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram