Israel é o país com o maior número de pessoas vacinadas contra a COVID-19 até o momento e, aos poucos, começam a surgir os primeiros resultados da campanha de imunização. Um estudo publicado, ontem, na revista The Lancet, mostra que o imunizante desenvolvido pela empresa americana Pfizer e pelo grupo alemão BioNTech, que foi escolhido para imunizar a população israelense, obteve 85% de taxa de eficácia após duas semanas da aplicação da primeira dose.
Os dados promissores foram observados em profissionais da área de saúde do maior hospital da região. Cientistas realizaram exames em 9.109 indivíduos que trabalham no centro médico Sheba. O acompanhamento teve início no dia 24 de janeiro, data em que a campanha de vacinação israelense começou. Nesse período, 7.214 receberam a primeira dose e 1.895, não. Ao todo, 170 pessoas (1,8% da amostra) foram infectadas pelo novo coronavírus, sendo que 89 faziam parte do grupo que não foi vacinado.
Comparando as taxas de infecção nos dois grupos e o momento em que houve os diagnósticos da infecção, os pesquisadores concluíram que a vacina foi 47% eficaz entre o primeiro e o 14° dia após a aplicação da primeira dose, e 85% entre o 15º e 28º dia. “De duas a quatro semanas depois da (primeira) dose, já existe um forte índice de eficácia, com uma redução de 85% dos casos sintomáticos”, enfatiza Gili Regev-Yochay, coautora do artigo e pesquisadora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, durante uma videoconferência realizada com jornalistas.
Os cientistas destacam que os resultados são extremamente positivos, mas é importante deixar claro que o estudo tem limitações, já que apenas os funcionários que apresentaram sintomas ou que estiveram em contato com pessoas contaminadas com o vírus foram testados.
A necessidade de incluir idosos em análises futuras também é apontada por Deborah Dunn-Walters, professora de imunologia da Universidade de Surrey, no Reino Unido. “O trabalho foi feito com indivíduos em idade produtiva. Então, seria interessante ver uma pesquisa semelhante com pessoas mais velhas após terem recebido uma dose da vacina”, afirmou, em entrevista à Agência France-Presse (AFP) de notícias. Para a especialista, o resultado do estudo deve “tranquilizar a Inglaterra em sua decisão de administrar a segunda dose desse imunizante 12 semanas depois da primeira aplicação”.
Mais estudos
Os fabricantes orientam que a segunda dose do imunizante seja administrada três semanas após a primeira, mas, devido à falta do fármaco no mercado, alguns países têm cogitado atrasar a última aplicação. Os cientistas destacam, no artigo divulgado na The Lancet, que os resultados apoiam “o adiamento da segunda dose em países que enfrentam escassez de vacinas e recursos, de modo a permitir uma cobertura maior da população com uma única dose”.
Mas os autores do texto ressaltam que estudos de acompanhamento que avaliam a eficácia a longo prazo do uso de uma única dose precisam ser feitos para esclarecer essa questão. “Não estou dizendo que não precisamos da segunda dose, mas simplesmente que já estamos vendo efeitos com a primeira”, enfatiza Gili Regev-Yochay.
Apesar da vacina já ter apresentado uma alta eficácia na proteção contra a COVID-19, especialistas destacam que a “grande pergunta” ainda é saber se o uso do imunizante reduz também a transmissão do vírus. “Estamos trabalhando nisso (...) e esperamos ter boas notícias em breve”, diz a coautora do estudo.
Em Israel, autoridades afirmam que o alto percentual de pessoas vacinadas já está contribuindo para a redução dos casos da enfermidade. Até o momento, 4,23 milhões de pessoas (47% da população) foram vacinadas com a primeira dose do imunizante da Pfizer, e 2,85 milhões (32%) receberam a segunda dose, segundo o Ministério da Saúde.
O cenário promissor também é percebido por especialistas de fora. Na última quinta-feira, o vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, disse que o país provavelmente será o primeiro a obter imunidade coletiva contra a COVID-19. “No caso da COVID-19, acredita-se que vamos ter que atingir pelo menos 70% da população vacinada para pensar em controlar a transmissão. Outros modelos falam de até 90%”, frisou Barbosa. “Temos que ver o que acontece na vida real. Acho que Israel será o primeiro país a atingir 70% e vamos observar o que acontece lá.”
Ajuste na temperatura
Em um comunicado enviado onte à Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, em inglês), a dupla Pfizer/BioNTech anunciou que não é mais necessário conservar o seu imunizante contra a COVID-19 em temperaturas próximas a -70ºC, como foi indicado nos primeiros estudos com a vacina.
Em um comunicado enviado onte à Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, em inglês), a dupla Pfizer/BioNTech anunciou que não é mais necessário conservar o seu imunizante contra a COVID-19 em temperaturas próximas a -70ºC, como foi indicado nos primeiros estudos com a vacina.
Segundo os desenvolvedores da fórmula, ela pode ser mantida em refrigeradores hospitalares normais, que mantêm entre -25ºC e -15ºC, com uma duração de até duas semanas — prazo também superior ao definido anteriormente, de cerca de cinco dias. “Essa mudança pode facilitar a gestão da nossa vacina nas farmácias e em centros de distribuição”, afirma, em comunicado, Ugur Sahin, um dos fundadores da BioNTech.
Os dados enviados ao FDA precisam ser analisados para que a nova forma de armazenamento seja adotada. Se aprovada, a medida poderá expandir o uso do imunizante para uma série de países, já que as baixas temperaturas para a conservação da fórmula são consideradas um grande obstáculo logístico. “Essa nova opção de armazenamento oferecerá maior flexibilidade na forma como administramos o fornecimento da vacina”, enfatiza Albert Boula, presidente e diretor executivo da Pfizer.