Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Pessimismo versus otimismo: quem quiser ser feliz, que lute

Mesmo nos momentos ruins, se condicione a pensar positivo (foto: Viktor Forgacs/Unsplash)

Na atual sociedade, fala-se tanto em felicidade que muitos se sentem obrigados a esconder os problemas, as dificuldades, que seguramente estão presentes na vida de todos. A questão é: como enxergar coisas boas em situações ruins. Para a psicóloga e sexóloga Cynthia Dias Pinto Coelho, se procurar bem, sem vitimismo, é possível sim. Mas isso depende também de quem vê.



Existem pessoas que conseguem ver, de forma madura, que sempre é possível tirar algum proveito de todas as coisas que nos acontecem. “Nas situações ruins, pode-se enxergar a oportunidade de crescimento, a necessidade de mudança de comportamento, pode-se ter a percepção da solidariedade e de aprendizado, já que o erro, a dor e o sofrimento são bons professores e nos ensinam lições inesquecíveis.”

Segundo a psicóloga, outras pessoas, com personalidades mais infantilizadas ou egocêntricas, tendem a se vitimizar e, com isso, passam a enxergar apenas o próprio sofrimento, a dor e as perdas, podendo culpabilizar os outros pelos acontecimentos ruins, até mesmo os causados pelas próprias atitudes.

Elas também podem, inconscientemente, supervalorizar os problemas à espera da compaixão dos demais, assumindo o papel de vítima e, com isso, ter algum ganho secundário como a atenção e o carinho das pessoas.




 
Cynthia Dias enfatiza que para lidar com as situações ruins é preciso estar disposto a crescer, abrir mão da autopiedade, aprender a ser justo e franco consigo mesmo, se perceber de forma real e concreta diante da vida, sem esperar benefícios ou privilégios de quaisquer ordens.

“Ou seja, é preciso fazer uma escolha por ser feliz, por usar a dor e o sofrimento como oportunidades de transformação, crescimento e mudança. Buscar o aprendizado e a descoberta de uma força interna que lhe permita ir adiante quando tudo parecer rumar para o caos. Curiosamente, essa é uma escolha pessoal em que o sujeito pode se entregar ao sofrimento e à dor ou buscar, por meio da resiliência, a capacidade de começar de novo, de fazer escolhas ou mudanças que o levem para a estabilidade.”

A psicóloga cita Freud (Sigmund Freud, pai da psicanálise): “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si só, tornar-se feliz”. Então, quem quiser ser feliz, que lute. “Nenhuma transformação ocorre em nós sem esforço, busca, tomada de consciência sobre nossa responsabilidade no fato ocorrido, concessões e reparações. Virar a chave 'do limão para a limonada', ou seja, do sofrimento para a alegria, requer esforço pessoal e constante.”





PSICOPATOLOGIAS 


Cynthia Dias explica que existem pessoas com personalidades mais melancólicas e pessimistas, que aceitam com conformismo a derrota ou o sofrimento como parte da vida cotidiana e seguem em frente pesarosos, sem se perceber como autores da própria história. 

Mas também existem pessoas, destaca, com psicopatologias ligadas ao humor, como a distimia e a depressão. “Muitas vezes, as pessoas com alterações de humor tendem a ver a vida sob uma ótica mais pessimista, derrotista e conformada. Faltam a elas, por questões bioquímicas, a energia necessária para encarar as dificuldades com persistência, bom humor e confiança. Também lhes faltam a esperança de que as coisas podem ser melhores. Essas pessoas são mais propensas a aceitar o sofrimento ou a derrota com facilidade, deixando as oportunidades de mudança e felicidade passarem diante de seus olhos pela incapacidade de transformação.”

Segundo a psicóloga, o conformismo e a desesperança as impedem de ir atrás daquilo que poderia lhes trazer o brilho nos olhos, o sorriso diário e o bom ânimo para aproveitar a vida. Algumas se acostumam com a infelicidade, a lamentação e o mau humor. O processo terapêutico e o uso de medicações adequadas, quando indicados, podem ajudar consideravelmente nesses casos.





VAMPIRAS EMOCIONAIS 


A verdade é que muitos não sabem lidar com o que é ruim. E para complicar, são rotulados como pessoas que precisam ser evitadas, afastadas e isoladas para que o outro não seja contaminado pelo sentimento pessimista, derrotista, de desânimo, medo, insegurança e tristeza: “Infelizmente, as pessoas mais negativas e pessimistas tendem a ser vistas como cansativas, chatas, vampiras emocionais, pois sugam a energia de quem está ao seu lado e deixam um rastro melancólico, baixo-astral por onde passam com suas reclamações.”

Popularmente,  são chamadas de “espanta-bolinho”, ou seja, são pessoas densas, que quando chegam em uma roda de amigos começam a reclamar e enumerar sua lista de doenças ou sofrimentos, fazendo com que as pessoas saiam de perto delas. Nem sempre é possível ver o lado bom em tudo, até porque, em certas situações, não é nada fácil ser otimista e entusiasta.
 

O BOBO ALEGRE 


(foto: Gerd Altmann/Pixabay )
Cynthia Dias afirma que a pessoa pessimista, que enxerga o lado ruim em tudo, pode ter em sua história de vida questões psicológicas importantes que tenham contribuído com esse jeito mais ranzinza de ver as coisas.



“O medo serve, sim, para nos proteger de determinadas situações, mas ele não pode nos paralisar a ponto de impedir a crença no lado bom da vida. Às vezes, o medo do abandono faz com que a pessoa abandone seus sonhos para evitar o risco da frustração. Quem se protege de tudo, se protege inclusive das coisas incríveis que a vida pode oferecer. O prejuízo para essas pessoas é enorme, pois além de deixar de acreditar nos sonhos, na possibilidade de ser feliz, de amar e ser amado reciprocamente, acaba por afastar as pessoas que preferem conviver, por motivos óbvios, com pessoas mais positivas, sorridentes, agradáveis e com melhor astral.”

É claro que a vida deve ser ponderada e avaliada de forma sensata, alerta Cynthia Dias. “A percepção clara, tanto do lado bom quanto do lado ruim, deve ser feita de maneira criteriosa, já que, do contrário, corre-se o risco de viver em extremos, como o pessimista de um lado e, de outro, o 'bobo alegre', aquele que se nega a ver o lado obscuro da vida ou as situações problemáticas. A virtude está no meio, mas sempre que possível vale a pena olhar sob o viés positivo, ou pelo menos esperançoso, já que ele proporciona uma vida mais leve, com coragem para buscar a realização de seus sonhos, rir de algumas situações pesadas, tornando-as mais leves.”


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