Na atual sociedade, fala-se tanto em felicidade que muitos se sentem obrigados a esconder os problemas, as dificuldades, que seguramente estão presentes na vida de todos. A questão é: como enxergar coisas boas em situações ruins. Para a psicóloga e sexóloga Cynthia Dias Pinto Coelho, se procurar bem, sem vitimismo, é possível sim. Mas isso depende também de quem vê.
Existem pessoas que conseguem ver, de forma madura, que sempre é possível tirar algum proveito de todas as coisas que nos acontecem. “Nas situações ruins, pode-se enxergar a oportunidade de crescimento, a necessidade de mudança de comportamento, pode-se ter a percepção da solidariedade e de aprendizado, já que o erro, a dor e o sofrimento são bons professores e nos ensinam lições inesquecíveis.”
Segundo a psicóloga, outras pessoas, com personalidades mais infantilizadas ou egocêntricas, tendem a se vitimizar e, com isso, passam a enxergar apenas o próprio sofrimento, a dor e as perdas, podendo culpabilizar os outros pelos acontecimentos ruins, até mesmo os causados pelas próprias atitudes.
Elas também podem, inconscientemente, supervalorizar os problemas à espera da compaixão dos demais, assumindo o papel de vítima e, com isso, ter algum ganho secundário como a atenção e o carinho das pessoas.
Elas também podem, inconscientemente, supervalorizar os problemas à espera da compaixão dos demais, assumindo o papel de vítima e, com isso, ter algum ganho secundário como a atenção e o carinho das pessoas.
Cynthia Dias enfatiza que para lidar com as situações ruins é preciso estar disposto a crescer, abrir mão da autopiedade, aprender a ser justo e franco consigo mesmo, se perceber de forma real e concreta diante da vida, sem esperar benefícios ou privilégios de quaisquer ordens.
“Ou seja, é preciso fazer uma escolha por ser feliz, por usar a dor e o sofrimento como oportunidades de transformação, crescimento e mudança. Buscar o aprendizado e a descoberta de uma força interna que lhe permita ir adiante quando tudo parecer rumar para o caos. Curiosamente, essa é uma escolha pessoal em que o sujeito pode se entregar ao sofrimento e à dor ou buscar, por meio da resiliência, a capacidade de começar de novo, de fazer escolhas ou mudanças que o levem para a estabilidade.”
“Ou seja, é preciso fazer uma escolha por ser feliz, por usar a dor e o sofrimento como oportunidades de transformação, crescimento e mudança. Buscar o aprendizado e a descoberta de uma força interna que lhe permita ir adiante quando tudo parecer rumar para o caos. Curiosamente, essa é uma escolha pessoal em que o sujeito pode se entregar ao sofrimento e à dor ou buscar, por meio da resiliência, a capacidade de começar de novo, de fazer escolhas ou mudanças que o levem para a estabilidade.”
A psicóloga cita Freud (Sigmund Freud, pai da psicanálise): “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si só, tornar-se feliz”. Então, quem quiser ser feliz, que lute. “Nenhuma transformação ocorre em nós sem esforço, busca, tomada de consciência sobre nossa responsabilidade no fato ocorrido, concessões e reparações. Virar a chave 'do limão para a limonada', ou seja, do sofrimento para a alegria, requer esforço pessoal e constante.”
PSICOPATOLOGIAS
Cynthia Dias explica que existem pessoas com personalidades mais melancólicas e pessimistas, que aceitam com conformismo a derrota ou o sofrimento como parte da vida cotidiana e seguem em frente pesarosos, sem se perceber como autores da própria história.
Mas também existem pessoas, destaca, com psicopatologias ligadas ao humor, como a distimia e a depressão. “Muitas vezes, as pessoas com alterações de humor tendem a ver a vida sob uma ótica mais pessimista, derrotista e conformada. Faltam a elas, por questões bioquímicas, a energia necessária para encarar as dificuldades com persistência, bom humor e confiança. Também lhes faltam a esperança de que as coisas podem ser melhores. Essas pessoas são mais propensas a aceitar o sofrimento ou a derrota com facilidade, deixando as oportunidades de mudança e felicidade passarem diante de seus olhos pela incapacidade de transformação.”
Segundo a psicóloga, o conformismo e a desesperança as impedem de ir atrás daquilo que poderia lhes trazer o brilho nos olhos, o sorriso diário e o bom ânimo para aproveitar a vida. Algumas se acostumam com a infelicidade, a lamentação e o mau humor. O processo terapêutico e o uso de medicações adequadas, quando indicados, podem ajudar consideravelmente nesses casos.
VAMPIRAS EMOCIONAIS
A verdade é que muitos não sabem lidar com o que é ruim. E para complicar, são rotulados como pessoas que precisam ser evitadas, afastadas e isoladas para que o outro não seja contaminado pelo sentimento pessimista, derrotista, de desânimo, medo, insegurança e tristeza: “Infelizmente, as pessoas mais negativas e pessimistas tendem a ser vistas como cansativas, chatas, vampiras emocionais, pois sugam a energia de quem está ao seu lado e deixam um rastro melancólico, baixo-astral por onde passam com suas reclamações.”
Popularmente, são chamadas de “espanta-bolinho”, ou seja, são pessoas densas, que quando chegam em uma roda de amigos começam a reclamar e enumerar sua lista de doenças ou sofrimentos, fazendo com que as pessoas saiam de perto delas. Nem sempre é possível ver o lado bom em tudo, até porque, em certas situações, não é nada fácil ser otimista e entusiasta.
O BOBO ALEGRE
“O medo serve, sim, para nos proteger de determinadas situações, mas ele não pode nos paralisar a ponto de impedir a crença no lado bom da vida. Às vezes, o medo do abandono faz com que a pessoa abandone seus sonhos para evitar o risco da frustração. Quem se protege de tudo, se protege inclusive das coisas incríveis que a vida pode oferecer. O prejuízo para essas pessoas é enorme, pois além de deixar de acreditar nos sonhos, na possibilidade de ser feliz, de amar e ser amado reciprocamente, acaba por afastar as pessoas que preferem conviver, por motivos óbvios, com pessoas mais positivas, sorridentes, agradáveis e com melhor astral.”
É claro que a vida deve ser ponderada e avaliada de forma sensata, alerta Cynthia Dias. “A percepção clara, tanto do lado bom quanto do lado ruim, deve ser feita de maneira criteriosa, já que, do contrário, corre-se o risco de viver em extremos, como o pessimista de um lado e, de outro, o 'bobo alegre', aquele que se nega a ver o lado obscuro da vida ou as situações problemáticas. A virtude está no meio, mas sempre que possível vale a pena olhar sob o viés positivo, ou pelo menos esperançoso, já que ele proporciona uma vida mais leve, com coragem para buscar a realização de seus sonhos, rir de algumas situações pesadas, tornando-as mais leves.”