Jornal Estado de Minas

TECNOLOGIA NO COMBATE A PANDEMIA

COVID-19: UFMG desenvolve tecnologia que protege superfícies contra o vírus

Uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e uma empresa têxtil de Jundiaí, interior de São Paulo, desenvolveu um composto químico que protege grandes ambientes do Sars-CoV-2, vírus que provoca a COVID-19, por até 28 dias. 




 
 

A UFMG é detentora da patente desenvolvida por pesquisadores dos departamentos de Química, do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), e de Odontologia Restauradora, da Faculdade de Odontologia. Já a empresa Erhena, da indústria têxtil, estava em busca de inovações para o setor, com o objetivo de combater a pandemia. 

O encontro ocorreu em abril do ano passado e o fruto desta parceria é o composto químico Nanoativ. O produto se revelou um potente antiviral, capaz de proteger grandes ambientes do coronavírus por até 28 dias.

Tecnologia desenvolvida em tempo recorde


O desenvolvimento da tecnologia, os testes, a aprovação e o depósito da nova patente ocorreram em oito meses, tempo considerado recorde para os padrões no campo da inovação. E só foi possível em razão do aproveitamento de estudos anteriores, conforme explica o coordenador da pesquisa e chefe do Departamento de Química da UFMG, professor Rubén Dario Sinisterra. 





Segundo ele, a professora Maria Esperanza Cortés e dois ex-pós-graduandos da Faculdade de Odontologia, André Pataro e Michel Furtado Araújo, já haviam gerado uma patente concedida à UFMG pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em 2017, para ser usada em enxaguantes bucais e em doenças periodontais.

O professor conta que o Departamento de Química estava fazendo pesquisas de caráter emergencial para o combate ao coronavírus quando recebeu a demanda da empresa Erhena, por um composto antiviral que pudesse ser aplicado em tecidos. “Imediatamente, propus que o potencial antiviral do composto patenteado fosse avaliado", comenta.

Confiante na capacidade antiviral da substância, Rubén Dario e os pós-graduandos Alfonso Martinez e Daniel Grajales, do Programa de Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica da UFMG, desenvolveram novas pesquisas tendo essa patente como referência.





Também foram feitas adequações para possibilitar a absorção da tecnologia em tecidos encaminhados pela empresa têxtil. “Os testes antivirais realizados no laboratório da Unicamp pela professora Clarice Weins Arns, já em julho, apresentaram excelentes resultados, o que trouxe ótimas expectativas”, afirma o professor.

Testes in loco


Após os ensaios em laboratório, a tecnologia precisava ser testada em diferentes ambientes para comprovar a sua eficácia. Isso foi possível com a intermediação da empresária e empreendedora Renata Iwamizu, que envolveu a Ehrena e uma produtora brasileira de fitas adesivas, a Adelbras. Usando a tecnologia da UFMG, as empresas desenvolveram uma fita adesiva experimental com o Nanoativ em sua composição, inserido já no processo de fabricação.

Com o produto piloto pronto, os testes de eficácia foram realizados em uma área de 300 metros quadrados em diferentes ambientes no aeroporto de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo. A fita adesiva, visível, foi afixada em áreas com grande movimento de pessoas, sujeitas a toques frequentes de mãos, como balcões de atendimento, maçanetas de portas e corrimões de escadas.





Entre o fim de novembro e o fim de dezembro do ano passado, foram realizadas análises microbiológicas semanais, a cargo dos laboratórios da UFMG, que comprovaram a eficácia da tecnologia aplicada. “Os testes demostraram a capacidade antiviral e também antibacteriana da fita, que preservou o ambiente livre de vírus como o novo coronavírus e de diferentes bactérias por até 28 dias”, explica Rubén Dario.

O composto dispensa o uso de solventes e álcool e utiliza encapsulante de origem renovável. Entre as vantagens da tecnologia, está a sua não volatilidade, o que prolonga sua ação antiviral e antibacteriana.

Novas aplicações


A UFMG e a Ehrena estão estudando novas aplicações para a tecnologia por meio de testes com cosméticos, produtos hospitalares, saneantes e veterinários. 





“A tecnologia mostrou-se muito promissora após diversos testes de aplicação que desenvolvemos, conferindo características antivirais por tempo prolongado em diferentes produtos, e não apenas do setor têxtil”, diz Renata Iwamizu, fundadora da Ehrena. Há 20 anos atuando na indústria têxtil, Iwamizu é detentora de patentes nacionais e internacionais que envolvem produtos nanotecnológicos e a funcionalização de tecidos.

Já a UFMG é uma das instituições de pesquisa que lideram o registro de patentes e a transferência de tecnologia no Brasil, com mais de 1.100 depósitos. 
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria

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